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A Financeirização do Meio Ambiente

O sistema de REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), um mecanismo financeiro adotado por diversos países para compensar as emissões de gases de efeito estufa provenientes da degradação florestal, “tem sido cada vez mais comum (...) em grandes eventos e também por parte de empresas”.

Contudo, na avaliação de Elder Andrade de Paula, “esses projetos estão inseridos numa estratégia mais ampla de apropriação dos bens naturais pelos capitais privados”. Segundo ele, “valendo-se, por um lado, do ‘medo’ das possíveis tragédias advindas dos efeitos das ‘mudanças climáticas’ e, por outro, da ‘esperança’ em minimizar tais efeitos, esses projetos prometem reduzir as emissões de CO² via redução de desmatamento, como é o caso do Projeto Purus, no Acre”. 

O pesquisador explica que no Acre foram anunciados dois projetos de REDD, o Purus e o Val Paraíso, os quais “devem ser entendidos como corolário de um conjunto de políticas identificadas com a matriz do capitalismo verde, instituídas pelo governo do estado a partir de 1999. Elas incluem a formulação de um Zoneamento Econômico Ecológico, Lei de Concessão de Florestas Públicas e incentivo à expansão da exploração madeireira via Planos de Manejo Florestal Sustentável - PMFS e culminam com a Lei SISA em 2010, que institui os Pagamentos por Serviços Ambientais - PSA. No processo de institucionalização dessa Lei, foram privilegiados aqueles ‘serviços ambientais’ relacionados com ‘sequestro’ de carbono.

Criaram-se instituições voltadas para operar com essas políticas e foram obtidos financiamentos externos para implementar o Programa Isa-carbono. Em fina sintonia com a matriz imperial instituída via Banco Mundial, USAID e grandes ONGs conservacionistas como WWF, o estado do Acre é propagandeado como ‘modelo de economia verde’”. De acordo com o agrônomo, a implementação dos projetos “inviabiliza a reprodução social das populações e povos que vivem nas e das florestas. Além de imporem uma série de restrições à livre circulação e uso dos seus territórios, instituem mecanismos de controle que promovem uma devastadora desagregação dos laços de sociabilidade interna”. 

Elder Andrade de Paula informa ainda que desde a implementação do REDD como medida para minimizar os efeitos das mudanças climáticas, “aumentam as pressões dos agentes financeiros interessados na expansão desse tipo de negócio”. Segundo ele, a FIFA também participa do Projeto Purus para compensar os gases de efeito estufa gerados durante a realização da Copa do Mundo 2014. “Nada melhor do que um megaevento como a Copa do Mundo para massificar a difusão desse tipo de iniciativa. A FIFA tem um duplo ganho com isso, uma vez que defende os interesses das corporações a ela vinculadas e ao mesmo tempo vende uma imagem de uma organização ‘comprometida com o meio ambiente’, uma vez que estaria ‘compensando’ as emissões de CO² resultantes da realização da Copa do Mundo”, critica.

E rebate: “Obviamente, no caso da ‘copa do mundo’ não aparecem os ‘custos ambientais’ e sociais relativos à construção dos palcos (estádios/arenas) para realização dos espetáculos: contaminações resultantes da produção de materiais para construção dos mesmos, famílias expropriadas nos seus entornos, operários vitimados no Itaquerão ou sob os escombros do viaduto em Belo Horizonte, etc. Mais ainda, não é computado o sofrimento das famílias atingidas por projetos como o Purus, apresentados como “compensação” para a neutralização do CO² gerado no decorrer da Copa do Mundo 2014”.

“A ofensiva em torno da difusão de REDD e outros mecanismos identificados com Pagamentos por Serviços Ambientais - PSA cresceu monumentalmente após a eclosão da crise econômica do capitalismo iniciada em 2007-2008. Isso ocorreu porque, entre outras razões, o capital financeiro aproveitou-se da oportunidade para recompor parte do capital fictício ‘queimado’ na crise mais recente”, adverte o pesquisador.

Fonte: Instituto Humanistas Unisinos. Elder Andrade de Paula é licenciado em Ciências Agrícolas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, especialista em Ciências Sociais com enfoque na Amazônia pela Universidade Federal do AcreUFAC, mestre e doutor em Desenvolvimento Agrícola e Sociedade. Atualmente é docente da UFAC. Leia a entrevista na íntegra clicando aqui!

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