Translate / Traduzir

Manifesto Por Ruas Mais Humanas e Sustentáveis, Por Uma Cidade Melhor

Em 2008, a humanidade cruzou um limite histórico: pela primeira vez, mais pessoas passaram a viver em áreas urbanas do que rurais. Nos tornamos seres predominantemente urbanos. 

O que milhares de pesquisadores, urbanistas, coletivos, ONGs, artistas e cidadãos ao redor do globo estão tentando descobrir é: como construir cidades mais humanas e sustentáveis? 

Se hoje a vida acontece nas cidades – e não há como impedir seu crescimento –, será possível impedir o seu declínio? 

Até a segunda metade do século 20, criaram-se, em volta das cidades, áreas suburbanas com bairros distantes, de baixa densidade, mal servidos de transportes públicos e com fraco desenvolvimento social. 

Esse modelo estimulou a demanda por deslocamentos de automóvel. Uma demanda muito superior ao que as cidades poderiam suportar. Aos poucos, as metrópoles foram se transformando em grandes estacionamentos de veículos particulares e as pessoas perderam a conexão com as ruas, o contato humano, encapsuladas em seus carros, respirando um ar de péssima qualidade. 

Um dos grupos demográficos mais afetados por esse modelo foram as crianças, já que sua consciência cívica, ou a ausência dela, está estritamente vinculada com a experiência temporã do coletivo. 

A falência dessa matriz trouxe um novo conceito de desenvolvimento urbano, cada vez mais discutido em todo o mundo: o urbanismo caminhável, que cria novas centralidades e valoriza a curta distância entre moradia, trabalho, educação, saúde e lazer. 

Uma organização urbana baseada em alta densidade, com diversos tipos de imóveis ligados por áreas de lazer, bem conectados por sistemas de transportes coletivos e alternativos não motorizados. Ou seja: as melhores cidades do mundo são aquelas cujos bairros dependem cada vez menos de transporte individual motorizado, com ruas arborizadas e fácil acesso a pé ou de bicicleta para os deslocamentos cotidianos. 

Desenvolver esses novos padrões é um desafio de todos: governo, empresas privadas, sociedade civil e universidades. Em São Paulo, chegamos ao ponto de mutação: um limite do qual não é mais possível voltar atrás. Temos de caminhar no sentido de uma cidade pensada para as pessoas, que reorganize seus espaços de modo a torná-los mais agradáveis e habitáveis, para propiciar melhor qualidade de vida. 

Mas, para que as pessoas caminhem mais, é preciso criar melhores caminhos, bairros mais atrativos como investir em caminhos seguros, iluminados e com infraestrutura adequada para pedestres e ciclistas. É necessário estimular a população a ocupar ruas e praças e incentivar a formação de mais espaços de convivência. 

O conhecimento e a apropriação do espaço em que vivemos nos faz desenvolver pontos de referência e sentido de pertencimento. Viver ativamente a cidade promove uma atitude positiva e de respeito pelo espaço público – um espaço de aprendizagem e convívio para todos. Lutamos por ruas de escala humana, coletiva, criativas e com maiores oportunidades para todos.

Fonte: Coletivo de Organizações Por Cidades Mais Humanas. O ambientalista e consultor de mobilidade sustentável Lincoln Paiva é autor da iniciativa.


0 comentários:

Postar um comentário