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Brasileira Cria Tecnologia Que Rastreia Biodiversidade Utilizada em Produtos

Os países da América Latina e Caribe abrigam uma enorme variedade de biomas e biodiversidade - recursos vitais para a economia, regulação climática, alimentação e subsistência das populações. Mas para que esta riqueza natural se converta em benefícios para as pessoas e o planeta, ela precisa ser explorada de forma sustentável. 

A Convenção sobre Diversidade Biológica de 1992, assinada por 193 países, estabeleceu as diretrizes globais para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade. Ela também abordou a exploração dos recursos genéticos, bem como de conhecimentos tradicionais de comunidades, em um protocolo adotado em 2010, o Protocolo de Nagoya

Os países que assinaram e ratificaram este acordo precisam implementar uma série de mecanismos domésticos e órgãos de supervisão para monitorar o uso da biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais, bem como garantir a distribuição justa, transparente e equitativa dos benefícios resultantes da exploração comercial destes recursos. 

Inspirada no Protocolo de Nagoya e pensando em como facilitar a implementação e a transparência deste acordo e de seus mecanismos, a jovem empreendedora brasileira Bárbara Schorchit criou a GENECOIN. O projeto é uma plataforma que usa tecnologia blockchain e machine learning para rastrear a biodiversidade usada nos produtos, permitindo que as empresas obtenham confiança, segurança jurídica e transparência ao longo de suas cadeias de suprimentos. Aliada ainda à implementação de contratos inteligentes (smart contracts, em inglês), a GENECOIN busca garantir que todas as partes interessadas sejam compensadas de maneira justa, equitativa e transparente. 

A Bárbara é finalista do prêmio Jovens Campeões da Terra na América Latina e Caribe e conversou com a ONU Meio Ambiente sobre seu projeto inovador. 

Como você criou a GENECOIN e o que a levou a trabalhar com economia da biodiversidade? 

Barbara S
Bárbara Schorchit
Antes de começar a GENECOIN, trabalhei em uma startup de biotecnologia, onde descobri sobre patrimônio genético da biodiversidade e fiquei mais consciente sobre como a economia da biodiversidade pode gerar ganhos reais mantendo as florestas em pé. Na época, a questão era um pouco sensível e turbulenta, pois o Brasil não havia ratificado o Protocolo de Nagoya e a legislação nacional recém-criada para o tema estava causando dúvidas e insegurança jurídica em empresas e pesquisadores. Ao observar a situação, me interessei pela tecnologia blockchain e percebi o seu potencial para facilitar elementos como compliance e transparência. Assim, criei a GENECOIN, uma plataforma para que as empresas gerenciem a bioprospecção com auditoria em tempo real de seus custos. Esses contratos inteligentes podem receber informações sobre novas espécies que determinada empresa está estudando, bem como do produto proveniente de cada espécie e o valor comercial associado a ela. 

Quais são os benefícios que a bioprospecção cria para comunidades locais? 

O principal benefício que percebo é a geração de renda de forma sustentável. A floresta Amazônica, por exemplo, é muito importante para o mundo por seus serviços ecossistêmicos, mas responde apenas por uma pequena parcela do PIB brasileiro. A indústria de prospecção, quando ética e em conformidade com leis e regulamentos, é um exemplo direto de como gerar valor com a conservação das florestas. Muitas pessoas ainda não sabem que boa parte de seus cosméticos, medicamentos e outros produtos são desenvolvidos a partir de recursos naturais. Quando uma empresa encontra uso comercial na biodiversidade, vai querer voltar a explorar e, em muitos casos, pode criar uma economia de cultivo e extração responsável com as comunidades locais. Outro fator que está crescendo é a demanda do consumidor por saber a origem de seu produto vem e quão responsável é a produção. Por isso, muitas empresas, mesmo operando em países que ainda não ratificaram o Protocolo de Nagoya, estão participando de mecanismos semelhantes de repartição de benefícios e uso responsável da biodiversidade. Sistemas como o nosso permitem ao consumidor identificar a origem dos produtos e a distribuição dos benefícios. 

Quais os próximos passos para a GENECOIN? Pretende expandir para outros países? 

Acho que começamos no lugar perfeito, já que o Brasil é o país com a maior diversidade biológica do mundo. Estamos trabalhando com um grande conglomerado brasileiro para acompanhar sua cadeia de suprimento a partir de sua reserva na Mata Atlântica. Os próximos passos serão trazer outras empresas de diferentes setores que também desejam usufruir da biodiversidade brasileira de forma sustentável, transparente e em conformidade com as leis. Após construirmos um panorama robusto das diferentes demandas, pretendemos levar o sistema para outras legislações e até mesmo criar um ofício de blockchain para o Protocolo de Nagoya, que atenda aos parâmetros do acordo global. 

Você pretende incorporar tecnologias como a inteligência artificial em seus sistemas? 

Com certeza. Nós já estamos olhando para elas e tenho estudado aprendizagem automática (machine learning, em inglês) para melhorar a automatização das operações. Outra coisa que estamos estudando, a longo prazo, é a criação de um banco de dados digital descentralizado que não depende de um administrador e que permite que empresas, institutos de pesquisa, universidades e governos possam ver de onde vem um genoma. Para criar isso, precisaremos de muitas outras tecnologias, como a inteligência artificial. 

Que conselhos daria a jovens mulheres que desejam se tornar empreendedoras sustentáveis? 

Penso em três conselhos: abrace a sua ideia, conte-a ao mundo e mantenha seu foco. Fiquei impressionada com a forma como as pessoas inteligentes foram atraídas por minha ideia e quiseram ajudar. Quando as ideias promovem benefícios sociais e ambientais, as pessoas ficam mais dispostas a ajudar, a fazerem parcerias e a espalhar a palavra, atraindo talentos e parceiros comerciais. Portanto, abrace sua ideia e conte a todos a sua volta!


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