O Brasil passou a poluir mais nos últimos anos pela queima de combustível fóssil, assim como os países desenvolvidos, em meio ao aumento da frota de carros, um cenário "preocupante", afirmou José Marengo - em 08/10/2013 -, climatologista do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e membro do IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU).
Marengo é um dos autores do AR5, quinto relatório de avaliação do painel, que foi divulgado no dia 27 de setembro de 2013. Segundo ele, um documento divulgado recentemente pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, com dados de até 2010, mostra essa mudança no perfil da poluição no Brasil: antes, ocorria mais por desmatamento. Agora, pela queima de combustível fóssil, assim como acontece nos países desenvolvidos. O documento é chamado de Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil.
"Nos últimos anos, desde 2008, a taxa de desmatamento da Amazônia diminuiu bastante, mas a frota de veículos aumentou", afirma. O aumento da posse de carros no Brasil ocorreu em meio a incentivos do governo, que diminuiu o IPI desses produtos. O climatologista citou que há famílias brasileiras com três carros.
"O que coloca o Brasil como um país poluidor de primeiro mundo é a queima de combustível fóssil. No Brasil isso ocorre por causa das termelétricas a diesel e devido ao aumento da frota veicular". Na agricultura, ele cita que a produção de arroz também contribuiu negativamente para a poluição. De acordo com ele, em um relatório anterior, o Brasil poluía mais por causa de desmatamento.
"Acho preocupante porque sempre criticamos os países desenvolvidos por isso. Obviamente se tivéssemos um sistema de transporte de massa que fosse confiável, as pessoas deixariam o carro em casa. Mas se você vai pegar o metrô em São Paulo ou no Rio a certa hora é uma humilhação. Isso tem que mudar para que as pessoas deixem o carro em casa", afirmou.
SEGUNDO PLANO
Marengo afirmou ainda que com a crise econômica mundial a agenda ambiental foi para o segundo plano.
"Depois da crise de 2008, dificilmente você vai convencer um presidente [a priorizar a agenda ambiental]. É impossível que um país com uma situação econômica deteriorada entre em um acordo ambiental porque há um custo social muito elevado".
Marengo apresentou o Resumo para Formuladores de Políticas do relatório do IPCC em evento no UNIC-Rio (Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil).
Fonte: Folha de São Paulo. Por: Mariana Sallowicz.
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