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Mercado de ETA/ETE Sofre com Carência de Profissionais Especializados e Tendência é de Crescimento dos Postos de Trabalho

Estação de tratamento de águas ou efluentes.
O cuidado com o meio ambiente tem sido uma grande preocupação nas últimas décadas, seja pelas mudanças provocadas pela ação do homem na natureza, seja pela resposta que a natureza dá a essas ações. Assim, torna-se necessário e urgente a formação de profissionais que atendam com eficiência a resolução dos problemas ambientais e que evidenciem esforços no sentido de promover o desenvolvimento sustentável

E nessa esteira de problemas ambientais, um dos que mais salta aos olhos é o da água potável. Por isso a capacitação de profissionais para o tratamento de águas e efluentes torna-se, a cada dia que passa, um processo urgente e que não tem mais volta. Nos dias atuais, para uma grande parcela da sociedade mundial, tornou-se evidente a noção de que uma quantidade enorme de recursos ambientais é necessária para mantermos funcionando o aparato científico-tecnológico que dá suporte ao estilo de vida da mesma. 

Muito conforto 

Um alto nível de conforto só pode ser oferecido com o comprometimento da qualidade ambiental do nosso planeta. Assim, tentar manter este ritmo sem tentar conciliar a produção de bens com a preservação é uma atitude suicida ou no mínimo egoísta para as gerações futuras, que terão que pagar um alto preço para saldar nossa dívida ambiental e conseguir uma qualidade de vida aceitável. Diante deste quadro torna-se necessário e urgente a formação de profissionais que atendam com eficiência à resolução dos problemas ambientais na área de tratamento de água, efluentes e esgoto e que evidenciem esforços no sentido de promover o desenvolvimento do setor. 

As universidades, salvo algumas exceções, não preparam os estudantes para as necessidades existentes no segmento, muitas vezes estes profissionais são treinados e moldados pelas empresas, o que demanda altos investimentos para a formação destes profissionais. O mercado recruta geralmente profissionais da área química, biológica, engenharias mecânicas, elétricas ou cívil, além dos profissionais das áreas administrativas.

No mercado mundial de tratamento de águas e efluentes, a tecnologia dos controles vem avançando de forma gradual, ou seja, muito menos do que a indústria da automação desejaria, mas num ritmo muito lento sob o ponto de vista da necessidade desta automação. Por outro lado, a indústria química movimenta bilhões de dólares na produção e venda de produtos químicos para o condicionamento correto de água e efluentes líquidos. Entretanto, o ponto “nevrálgico” da área de utilidades está na operação dos sistemas.

Na tomada de decisão para a escolha da tecnologia de tratamento da água a ser adotada pelo cliente, o fator decisório é o resultado esperado no condicionamento e o custo do tratamento. No Brasil ainda existem muitas fábricas que realizam seu próprio tratamento químico, seguindo alguma “receita” coletada na literatura ou na experiência de um técnico ou engenheiro. As grandes indústrias compram um “pacote” de tratamento de água onde está incluído o produto químico, a instrumentação de controle, o monitoramento e dosagem de produtos além da assistência técnica. É óbvio que o preço deste pacote torna-se mais caro devido à aplicação dos controladores e as manutenções pertinentes.

A indústria da automação vem evoluindo de forma rápida em todos os setores da sociedade e a consciência da necessidade desta ferramenta de controle e monitoramento está cada dia mais evidente. Há trinta anos, as opções que as fábricas tinham era o controle via laboratório, o que tornava a resposta aos tratamentos um pouco mais lenta, visto que as ações corretivas só eram tomadas após a realização dos testes de bancada. Muitas análises eram realizadas apenas uma vez ao dia, talvez três vezes. É evidente que a tecnologia dos produtos químicos também evoluiu, mas, as medições online facilitou a vida de muita gente. Atualmente, o monitoramento e o controle podem ser feitos de forma contínua e com precisão de teste de laboratório, sem a necessidade do analista de bancada. 

Mercado ainda é carente

Para Paulo César Modesto, diretor de desenvolvimento de negócios da Enfil S/A Controle Ambiental, “o mercado para o saneamento continua existindo, nossas carências com relação a este tema nunca deixaram de existir. O que acontece com frequência é a falta de projetos para tratamento de água, efluentes, redes coletoras etc. Os projetos existentes nas prateleiras dos municípios não conveniados com as empresas de saneamento foram colocados abruptamente no mercado sem nenhuma qualificação ou revisão, sem levar em conta novas tecnologias que proporcionariam custos operacionais muito menores dos que os praticados hoje, tudo isto para atender a uma demanda disponível de financiamento do PAC 1, o que resulta hoje em mais de 90 projetos licitados transformados em obras iniciadas e nunca acabadas por deficiências de projeto e custos. O conhecimento e as responsabilidades podem ser divididas entre o fornecedor do programa de tratamento de água e os representantes da indústria de processamento. Entretanto, o risco sempre será maior para a indústria de processamento. Risco da perda de produção, da perda de contratos e de clientes, e custo de recuperação dos danos causados pelos acidentes e incidentes em um setor de utilidades”, afirma. 

Concorrência

Modesto afirma que a concorrência dentro da área depende muito do cliente: “Ele é quem definirá se a concorrência será muito grande, ou não, através do termo de referência que colocará no mercado para uma questão ambiental que ele precise solucionar. Se o cliente quiser tecnologia e qualidade, a concorrência não será muito grande, se quiser um projeto apenas para cumprir compromisso político, aproveitar um financiamento disponível, a concorrência será muito grande com certeza”, disse.

Sem pestanejar, Modesto fala como contratar profissionais qualificados para a área: “Essa é uma atividade que começou a se desenvolver nos últimos 12 anos. A falta de profissionais com qualificação técnica ainda é muito grande e, muitas vezes, os melhores estão em algumas companhias estatais de saneamento. No meu entendimento, a faculdade não prepara um profissional desta área para sair rodando, ele tem que ser treinado e muito. A realidade fora dos bancos universitários é outra. Nossos profissionais muitas vezes não são melhores porque as projetistas que são responsáveis por elaborar projetos não exigem muito tecnicamente de seus clientes, justamente por também não terem profissionais com o domínio de tecnologias avançadas e consagradas. E repetem sempre a mesma coisa. Por isso, quem tem bons profissionais, segura”, afirma.

Modesto finaliza dizendo que “a Enfil é partidária de tecnologia, sempre que podemos estamos implantando algo neste sentido, o Cenpes da Petrobras que o diga. Tivemos muita oportunidade de implantar várias tecnologias na Petrobras através do Cenpes. Alguns exemplos: a maioria dos sistemas de ultrafiltração, MBR, eletrodiálise reversa, filtros coalecedores, entre outros”. Modesto dá um exemplo prático de como as coisas funcionam na área: “A Sabesp projetou a ETE de Barueri há 40 anos, com o que havia, na época, de melhor em tecnologia disponível. A primeira fase foi, talvez, para 6 m³/s. Hoje, depois de 40 anos, ela continua ampliando, já está chegando a 16 m³/s e com a mesma tecnologia, existem equipamentos no site que não são mais fabricados, o horizonte para esta planta é para mais 40 anos. Podemos concluir que estará atrasada 80 anos, em tecnologia, a principal planta de tratamento de efluentes da cidade de São Paulo, quem sabe de toda América do Sul’’, diz. 

UNIFESP

A opinião de Paulo César Modesto é endossada completamente por um pesquisador de peso: o doutor Francisco Vieira Costa Aguiar, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): “O mercado de tratamento de água e efluentes está em expansão completa. Ele é muito novo ainda, mas deve crescer muito nos próximos cinco anos. Em uma década, no máximo, a preocupação com o tratamento da água e dos efluentes será quase uma obsessão. Essa atual crise hídrica tem contribuído para que haja uma conscientização do problema’’, disse.

O doutor Francisco também acredita que ainda faltam mais profissionais qualificados no mercado, mas que eles virão justamente pela necessidade premente de se cuidar melhor da água: “Isso fica cada dia mais claro. O tratamento da água e dos seus efluentes é uma necessidade cada vez maior. E isso vai forçar a formação de novos e bons profissionais’’, disse.


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