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Árvore da Vida das Plantas Revela Potencial Para Identificar Novas Espécies Para Conservação

Projeto contou com cientistas de 27 países e mapeou o DNA de 9.500 espécies de angiospermas, construindo “árvore genealógica” que inclui até plantas consideradas extintas. 

Dos trópicos à Península Antártica, é possível encontrar plantas angiospermas – aquelas que são capazes de produzir flores e frutos. E elas vão mais longe: são 90% da vida vegetal que conhecemos. Em pesquisa produzida por cientistas do Royal Botanic Garden, Kew e recém-lançada na revista Nature, pesquisadores apontam a criação de uma “árvore da vida” das angiospermas. Como numa árvore genealógica, o projeto mapeou como as plantas estão relacionadas através do sequenciamento e análise do DNA de mais de nove mil espécies, identificando as mudanças que se acumularam ao longo dos anos. 

A pesquisa prevê que a “árvore da vida” das angiospermas ajudará em “futuras tentativas de identificar novas espécies, a refinar a classificação das plantas, a descobrir novos compostos medicinais e a conservar plantas diante das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade”, relata José Rubens Pirani, professor e pesquisador do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências (IB) da USP. Esses aspectos se tornam viáveis porque a localização da planta no esquema da “árvore da vida” permite predizer as suas propriedades. 

As informações coletadas terão acesso aberto e livre para a população e a comunidade científica, com o objetivo de democratizar o conhecimento e possibilitar o uso em diferentes áreas. “Abrir os dados para todo mundo e permitir que as pessoas investiguem desde o dado bruto, que é a sequência de DNA, até o mais refinado, que é essa árvore da vida, faz com que qualquer pessoa que queira interagir e construir conhecimento em cima desse trabalho possa fazê-lo”, explica Alexandre Zuntini, biólogo doutor em botânica e pesquisador do Royal Botanic Garden. 

Ao todo, participaram da pesquisa 279 cientistas, de 138 organizações, e 27 países. Do Brasil, colaboraram 16 pesquisadores, seis egressos da USP, entre eles Alexandre Zuntini e José Rubens Pirani. 

Importância para a biodiversidade 

Com 15 vezes mais dados em comparação a qualquer outro estudo da área, os resultados da pesquisa exploram a complexidade da evolução das plantas. A tecnologia usada é capaz de separar o DNA através de magnetismo, método que já foi utilizado até em pesquisas com animais extintos, como mamutes. “Uma das vantagens da abordagem técnica molecular usada pela equipe é que ela permite que uma ampla diversidade de material vegetal, antigo e novo, seja sequenciado, mesmo quando o DNA foi extraído de amostra de planta coletada há um ou dois séculos, e esteja muito danificado – isso possibilitou acessar muitas coleções antigas depositadas nos herbários, os museus botânicos”, conta Pirani. 

O estudo contempla a questão da preservação da biodiversidade de plantas frente a questões ambientais, como as mudanças climáticas. “A gente não vai sobreviver, pensando no mundo com mudanças climáticas [sem as plantas]”. A perda de espécies de angiosperma afeta não apenas os seres humanos, mas todo o bioma comprometido. Por isso, a escolha de medidas a serem tomadas para conservação de uma ou outra espécie faz toda a diferença. “Nós temos que estabelecer prioridades e essa é uma das formas, pensando nas mudanças climáticas e no futuro do planeta”, esclarece Zuntini, destacando que, “se você tem um grupo de plantas que representou, no passado, uma linhagem inteira, e que hoje em dia só é reconhecido por poucas espécies, é importante a gente preservar esse grupo mais do que um grupo amplamente distribuído”.




Entre as amostras de espécies analisadas e sequenciadas, estavam a de uma Arenaria globiflora coletada há aproximadamente 200 anos no Nepal, e de plantas extintas, como a Hesperelaea palmeri, que não é encontrada viva desde 1875. Além de espécies já extintas, foram sequenciados os DNAs de 511 espécies que constam na lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). 

A árvore da vida das angiospermas é uma figueira​

Com tanta informação, a “árvore da vida” permite que muitas dúvidas sobre a evolução das angiospermas sejam sanadas, mas também levanta dúvidas sobre assuntos que ainda precisam ser estudados. “Com os dados que nós geramos hoje nós conseguimos então voltar no tempo e encontrar pontos onde as histórias entre os genes estão conflitantes”, relata Zuntini. 

Os pesquisadores, através dos dados, conseguiram chegar a respostas sobre a evolução e disseminação das angiospermas pelo globo. Baseados em 200 fósseis, os cientistas seguiram pela linha do tempo para descobrir que algumas poucas espécies deram origem a mais de 80% das linhagens existentes hoje em dia. No entanto, houve uma queda e estabilização e, há 40 milhões de anos, surgiu uma nova explosão de diversidade, que coincide com a diminuição das temperaturas no planeta. 

Para Zuntini, a “árvore da vida” é uma figueira. “Uma figueira, quando você olha, às vezes os troncos se encostam, se juntam e se separam de novo”, explica o pesquisador, falando sobre a complexidade nas relações entre as plantas, observada no projeto. “Agora, nós começamos a ter dados para testar, e como o nosso trabalho é o primeiro a apresentar dados de centenas de marcadores para milhares de grupos, a gente consegue estudar isso em diferentes escalas”, completa. 

*Com orientação de Luiza Caires e Fabiana Mariz e informações do Royal Botanic Garden.


Crescimento de Veículos Elétricos Derrubará Demanda Por Petróleo


Queda pode chegar a 12 milhões de barris de óleo por dia; Agência Internacional de Energia estima que 50% dos carros vendidos no mundo serão elétricos em 2035. 

O robusto crescimento da frota de veículos elétricos no mundo irá resultar em uma “profunda mudança” no setor de energia na próxima década, com queda considerável da demanda mundial por petróleo para transportes, apontou a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) em relatório lançado no dia 23/04/2024.

O levantamento projeta que 17 milhões de carros elétricos serão vendidos até o final deste ano, um crescimento de 21% na comparação com 2023. No primeiro trimestre de 2024, as vendas cresceram 25% em relação ao mesmo período do ano anterior, igualando em apenas três meses o total vendido em 2020. “Mais de um em cada cinco carros vendidos no mundo este ano deverá ser elétrico, com uma demanda crescente projetada ao longo da próxima década que remodelará a indústria automobilística global e reduzirá significativamente o consumo de petróleo para o transporte rodoviário”, afirmou a IEA. 

O relatório “Perspectivas Globais para Veículos Elétricos”, em tradução livre, é publicado anualmente pela agência. O crescimento previsto para este ano vem na sequência de um aumento recorde nas vendas globais de carros elétricos em 2023, que bateram os 14 milhões (subindo 35% em relação ao ano anterior). O salto de 21% previsto para este ano, apesar de não superar o de 2023, é considerado “muito forte” pela IEA, que vê uma tendência contínua de expansão da frota. 

O levantamento estima, segundo essa tendência, que um a cada dois carros vendidos no mundo será elétrico em 2035, considerando as políticas atuais de incentivo e de corte de emissões de gases-estufa pelos países. Em um cenário mais otimista, caso os países cumpram integralmente seus compromissos climáticos e com a transição energética, dois terços da venda global de carros será elétrica no mesmo ano. 

Nessas condições, a adoção acelerada de veículos elétricos – considerando não apenas o crescimento em carros, mas também em ônibus, caminhões, vans, motocicletas e outros – derrubará a demanda global por petróleo em até 12 milhões de barris por dia. O montante equivale à demanda diária de China e União Europeia somadas. Considerando as políticas atuais, a queda seria de 10 milhões barris ao dia em 2035, o que reduziria as emissões de gases de efeito estufa pelo setor em mais de 2 Gt de CO2 equivalente em relação aos padrões atuais. A figura abaixo projeta a queda na demanda por país e por tipo de veículo em diferentes cenários.

Queda na demanda por petróleo. À esquerda, por países, e à direita, por tipo de veículo. STEPS = políticas atuais; APS = compromissos anunciados; NZE = cenário compatível com zero emissões líquidas em 2050; RoW = outros países; LDV = veículos leves. (Fonte: IEA). Clique no gráfico para ampliar!
 

Segundo Fatih Birol, diretor-executivo da IEA, apesar dos empecilhos de médio prazo em alguns mercados – como a descontinuidade de incentivos às vendas na Europa, a falta de postos públicos para abastecimento nos países do Sul Global e dificuldades no acesso a baterias –, há um crescimento contínuo “evidente” dos carros elétricos. “Em vez de diminuir, a revolução global dos veículos elétricos parece estar se preparando para uma nova fase de crescimento. A onda de investimentos na fabricação de baterias sugere que a cadeia de suprimentos de veículos elétricos está avançando para atender aos ambiciosos planos de expansão dos fabricantes de automóveis. Como resultado, espera-se que a participação desses veículos nas estradas continue a aumentar rapidamente”, afirmou. 

O relatório destacou que a eletrificação segue bastante concentrada na China, na União Europeia e nos Estados Unidos. A agência projeta que 45% dos carros vendidos em 2024 na China serão elétricos. Na União Europeia, a cifra é de 25%. Já nos EUA, a projeção é de que um a cada nove carros vendidos este ano seja elétrico. Mantidas as políticas atuais, em 2030 a China terá uma média de um carro elétrico a cada três, considerados todos os carros que circulam no país. Nos EUA e União Europeia a cifra projetada será de um elétrico a cada cinco carros circulando.

Crescimento das vendas e concentração do mercado na China, UE e EUA. (Fonte: IEA). Clique no gráfico para ampliar!
 

Apesar da forte concentração, países em desenvolvimento como Vietnã e Tailândia têm observado crescimento expressivo em sua frota elétrica. Embora em menor intensidade, a tendência também é verificada no Brasil. No Vietnã, 15% dos carros vendidos hoje são elétricos. Na Tailândia são 10% e no Brasil, 3%. 

Na coletiva de lançamento do relatório, o diretor-executivo da IEA destacou as profundas mudanças no setor energético global diante do “extremo crescimento” da frota elétrica. Birol lembrou que, hoje, a China lidera a demanda global por petróleo para transportes, o que mudará rapidamente com o crescimento da frota elétrica. Segundo ele, a agência espera que o pico da demanda global por petróleo para transportes ocorra já no próximo ano, em 2025. Fica o alerta para os países que apostam em explorar petróleo “até a última gota” esperando enriquecer com exportações.

Fonte: Observatório do Clima. Por: Leila Salim.

Europa Esquenta Mais Rápido Que o Mundo – e recordes alarmam


Seca afetou alguns rios da Europa, como o Gardon, na França

Relatório registra acúmulo de ondas de calor, seca, incêndios florestais e enchentes graves em 2023. Efeitos prejudicam natureza e seres humanos. Fortalecimento de energias renováveis é a boa notícia. 

Os efeitos das mudanças do clima global ficam cada vez mais óbvios, e a Europa não é exceção. Isso comprovam os dados compilados no relatório mais recente do Copernicus Climate Change Service (C3S) e da Organização Mundial de Meteorologia (WMO): foram registrados os três anos mais quentes no continente desde 2020, assim como os dez mais quentes desde 2007.

Ao lado de 2020, 2023 foi o ano europeu mais quente, cerca de 1ºC acima do período de referência, 1991 a 2020. Ao todo, tratou-se de um ano complexo e diversificado, resume o diretor do Copernicus, Carlo Buontempo: "Em 2023, houve na Europa os maiores incêndios florestais já registrados, foi um dos anos mais úmidos, com fortes ondas de calor marinhas e inundações devastadoras em larga escala." 

Ao todo, as chuvas na Europa estiveram cerca de 7% acima do usual, e um terço dos rios apresentou cheias, em parte severas. Cerca de 1,6 milhão de cidadãos foram afetados por enchentes, pelo menos 40 morreram, segundo estimativas provisórias do Banco de Dados Internacional para Catástrofes (EM-DAT). As tempestades fizeram 63 vítimas, incêndios florestais, outras 44. Os eventos meteorológicos e climáticos na Europa provocaram, ao todo, danos de 13,4 bilhões de euros, mais de 80% devido a inundações. 

"A crise do clima é o maior desafio da nossa geração. Os custos das medidas climáticas podem parecer altos, mas os da inação são muito maiores", adverte Celeste Saulo, secretária-geral da WMO.

Enchente na região Karavelovo, na Bulgária
Saúde em perigo, seca e incêndios 

Os cientistas alertam, ainda, para um aumento do impacto dos eventos extremos sobre a saúde humana. O número dos mortos devido ao calor cresceu cerca de 30% nos últimos 20 anos. O ano 2023 na Europa também bateu o recorde de dias com calor extremo – o qual a ciência define como uma sensação térmica acima de 46ºC, quando torna-se indispensável tomar medidas para evitar consequências como a insolação. 

No auge da onda em julho, 41% do sul europeu esteve exposto a calor forte, muito forte ou extremo, com muitos casos de estresse térmico. O termo descreve os efeitos sobre o corpo humano das temperaturas altas, combinadas com fatores como umidade, velocidade do vento, radiação solar e térmica. 

Estresse térmico prolongado pode agravar doenças já existentes, além de elevar a probabilidade de exaustão e insolação, sobretudo em crianças pequenas, idosos e portadores de moléstias preexistentes. Ainda assim, tanto os pertencentes aos grupos de risco quanto parte dos serviços de saúde costumam subestimar os perigos do calor crescente, apontam o C3S e a WMO em seu relatório. 

As temperaturas de 2023 afetaram, ainda, todas as geleiras europeias, que perderam muito gelo, nos Alpes até mesmo em dimensão fora do comum – também pelo fato de, no inverno, a precipitação de neve também ter sido excepcionalmente baixa. Nos últimos dois anos, as geleiras alpinas reduziram seu volume em 10%, indica o serviço Copernicus. 

Esse fato evidencia as conexões entre calor, neve e seca: devido à camada de neve insuficiente, o nível do rio Po, nos Alpes italianos, permaneceu abaixo da média, e essa água fez falta ao norte da Itália, já afligido pela seca. 

Calor e seca também alimentam os incêndios florestais, que em 2023 ocorreram em toda a Europa, consumindo uma área equivalente a Londres, Paris e Berlim juntas. O maior incêndio já registrado na União Europeia foi na Grécia, destruindo uma superfície comparável ao dobro da metrópole Atenas.

Por que tanto calor na Europa?

A Europa é o continente que se aquece com maior velocidade, cerca de duas vezes mais rápido do que a média global. A vice-diretora do Copernicus, Samantha Burgess, atribui a proximidade ao Ártico, cujas temperaturas sobem quatro vezes mais rápido do que no resto do planeta. Maior incêndio florestal já registrado na União Europeia foi na Grécia, em 2023 (foto, clique p/ ampliar!). 

Outro fator seria também a melhora da qualidade do ar na Europa. Esta resulta na presença, na atmosfera, de menos partículas que refletem a luz solar e contribuem para o esfriamento, explica Burgess. 

Em contrapartida, nunca houve no continente tanta energia de fontes renováveis: em 2023 elas foram responsáveis por 43% da geração de eletricidade – contra 36% ainda no ano anterior. As tempestades do outono e inverno proporcionaram energia eólica acima do usual, e os níveis altos de alguns rios possibilitaram mais energia hidrelétrica. 

Apesar de ter sido o segundo ano com mais energia renovável do que de combustíveis fósseis, danosos ao clima, o relatório do C3S-WMO acusa em 2023 uma elevação das emissões de gases do efeito estufa, corresponsáveis pelo aquecimento do planeta. 

O diretor Buontempo considera improvável que os efeitos climáticos prejudiciais vão diminuir, pelo menos no curto prazo. Portanto, acrescenta Burgess, já se pode contar com recordes sucessivos, até que as emissões de gases-estufa atinjam o zero líquido e o clima global se estabilize. A vice-diretora do C3S já antecipa novos recordes de temperatura no próximo verão europeu (junho a setembro), em especial pelo fato de o efeito El Niño ter fim em 2024.

Fonte: DW. Por: Jeannette Cwienk.

A Planta Usada Como Alternativa ao Papel Higiênico na África e nos EUA


Será que o Plectranthus barbatus, popularmente conhecido como boldo, é uma alternativa sustentável aos caros papéis higiênicos no continente africano? Martin Odhiambo, fitoterapeuta do Museu Nacional do Quênia, diz que sim. "Pode ser o futuro papel higiênico." Assim como ocorreu com muitos outros produtos, o preço do papel higiênico aumentou em toda a África. Embora ele seja fabricado no continente, a pasta de papel utilizada na sua produção é, muitas vezes, importada. Martin, especializado em plantas tradicionais, acredita que a resposta ao aumento dos custos já pode existir no continente. "A Plectranthus barbatus é o papel higiênico africano. Muitos jovens hoje em dia desconhecem essa planta, mas ela tem potencial para ser uma alternativa, amiga do ambiente, ao papel higiênico", diz ele. 

As folhas dela são macias, diz Martin, e têm cheiro de menta. A planta é cultivada amplamente em toda a África e ainda é usada em áreas rurais, o que a torna facilmente acessível. As folhas têm tamanho semelhante a um quadrado de papel higiênico industrial, e podem ser usadas em vasos sanitários modernos com descarga. Benjamin, que utiliza Plectranthus barbatus há mais de 25 anos, cultiva a planta no quintal dele, perto de sua casa em Meru, no Quênia. Ele diz: "Aprendi sobre a planta com meu avô, em 1985, e a uso desde então. É macia e tem um cheiro agradável." Mas ela poderia ser usada por mais pessoas? A produção em larga escala ainda é algo distante. 

No entanto, o seu potencial está sendo explorado em outros países. Robin Greenfield, um ativista ambiental nos Estados Unidos, diz que usa folhas de boldo há cinco anos. Robin cultiva mais de cem pés de boldo em seu viveiro na Flórida. Ele compartilha mudas por meio de uma iniciativa que incentiva as pessoas a cultivarem seu próprio papel higiênico. "Há muitas pessoas que associam o uso da planta como papel higiênico à pobreza, mas devo lembrá-los que, quando usam papel higiênico industrial, continuam usando plantas. A diferença é que elas apenas têm uma indústria com elas", diz ele. 

Robin diz que recebeu comentários positivos de pessoas que usaram a planta. Ele diz que são pessoas que valorizam a sustentabilidade do cultivo do seu próprio papel higiênico. "Para quem hesita em experimentar o boldo como papel higiênico, eu diria para abandonar as preocupações sobre o que as pessoas pensam de você. E simplesmente dizer: vou ser eu mesmo. E isso pode significar me limpar com algumas folhas bem macias que eu mesmo planto."

Fonte: BBC. Por: Soo Min Kim.

Stephenson 2-18: A Maior Estrela Conhecida no Universo!

Se você acha que era a UY Scuti a maior estrela ou a VY Canis Majoris, saiba que não, não são. Stephenson 2-18, também conhecida como RSGC2-18 e Stephenson 2 DFK 1 é a líder.


A estrela supergigante vermelha está localizada a cerca de 20.000 anos-luz de distância na constelação de Scutum, no massivo aglomerado estelar aberto Stephenson 2, que contém 26 estrelas supergigantes vermelhas.


Stephenson 2-18 possui 2.150 raios solares, cerca de 1.497.131.000 de km, que é quase maior que a órbita de Saturno. Ela supera outras estrelas, como VY Canis Majoris (1420 ± 120R) e UY Scuti (1708 ± 192R) fácil.


É também uma das estrelas supergigantes mais brilhantes conhecida, com 440.000 vezes a luminosidade solar. Se este monstro for colocado no centro do sistema solar, ela engoliria todos os planetas rochosos, incluindo o maior planeta do Sistema Solar e encostaria na órbita de Saturno.


Fonte: Universo das Galáxias.

Conheça 12 Green Techs Que Estão Ajudando o Brasil a Limpar Seu Impacto Negativo




Levantamento, feito pelo Prática ESG, traz alguns exemplos de empresas em áreas como economia circular, monitoramento de florestas, logística reversa, dessalinização de água do mar, bioinsumos, fitoquímicos, entre outras. Confira... 

Relatórios de consultorias diversas têm apontado para um preocupante cenário: as empresas ainda não estão fazendo o suficiente para conseguirmos brecar as emissões de gases poluentes e evitar o aquecimento do planeta acima de 1,5ºC, o que foi acordado como meta no Acordo de Paris, em 2015, e reforçado na COP 26, em 2021. Além de esforço coletivo corporativo maior do que temos visto, o surgimento e uso de novas tecnologias também tende a ajudar nessa missão. A solução passa pela preservação de florestas, combate ao desmatamento, transição para o uso de energia mais limpa, despoluição e circularidade de produtos. As green techs, como são chamadas as startups que estão atuando nessas searas, são, portanto, parte importante da solução. 

O diferencial dessas empresas de tecnologia está no fato de elas trabalharem com base científica e técnica, como o problema exige. O objetivo final dessa classe é mitigar o impacto humano negativo no meio ambiente em diversos campos, que vão da agricultura à mobilidade urbana passando pela oferta de água potável.

Internacionalmente, há muita inovação sendo desenvolvida. Um artigo publicado no site do Fórum Econômico Mundial, em abril deste ano, assinado pelo professor Philip Meissner, da ESCP Business School, e também fundador e diretor do European Center for Digital Competitiveness, traz alguns exemplos interessantes. 

“No campo da agricultura, a agricultura vertical pode revolucionar a forma como os vegetais são produzidos. A Infarm, por exemplo, com sede em Berlim, usa 99% menos espaço, 75% menos fertilizante e 95% menos água do que a agricultura convencional. A proteína também pode ser produzida de uma maneira muito melhor: a startup suíça Planted produz alternativas de carne à base de plantas (e deliciosas), de kebab a pato à Pequim, com 74% menos emissões de CO². E as diferenças da carne à base de plantas vão ainda mais longe: elas podem liberar 80% das terras agrícolas em todo o mundo usadas para pecuária, que atualmente produz apenas 20% das calorias”, escreve. 

Outra frente grande de atuação são as startups com foco em oferecer soluções sobre clima e relacionadas às mudanças climáticas. Segundo relatório da consultoria e auditoria PwC de 2021, já foram identificadas mais de três mil “climatechs”. Muito dinheiro de investidores está indo para essa área. Entre 2013 e o primeiro trimestre de 2021, US$ 222 bilhões foram investidos em empresas de tecnologia relacionadas ao clima. 

Segundo a auditoria, um total de US$ 87,5 bilhões foram investidos no período que compreende o segundo semestre de 2020 e o primeiro semestre de 2021. Isso representa um aumento de 210% em relação aos US$ 28,4 bilhões investidos nos doze meses anteriores. Só nos primeiros seis meses do ano passado, foram US$ 60 bilhões em investimentos. “A tecnologia climática agora responde por 14 centavos de cada dólar de capital de risco”, apresenta o estudo. 

Outra consultoria, a BCG (ex-Boston Consulting Group), publicou em abril deste ano o relatório “The next 'digital': unlocking US$ 50 billion green tech opportunity”, em que traz que as empresas de tecnologia estão prontas para alcançar “um crescimento revolucionário”. “O crescimento da green-tech é impulsionado pela crescente adoção da transformação do modelo de negócios orientado para a sustentabilidade em todos os setores, criando uma vasta oportunidade de US$ 45 bilhões a US$ 55 bilhões por ano e com expectativa de crescimento de 25% a 30%, ao ano, nos próximos cinco anos”, aponta o estudo. 

No Brasil começam a surgir bons exemplos de empresas de tecnologia que trabalham para ajudar empresas, governos e consumidores nos desafios ESG (social, ambiental e de governança). São exemplos em economia circular, monitoramento de florestas, logística reversa, dessalinização de água do mar, bioinsumos, fitoquímicos, entre outros. Conheça as 12 empresas que o Prática ESG elencou e que estão atuando para proteger, preservar ou restaurar o meio ambiente e o planeta. 

1. Eco Panplas - Economia Circular 

A Eco Panplas promove a reciclagem de embalagens plásticas pós-consumo com tecnologia própria. A recuperação das embalagens se dá por meio da chamada descontaminação ecológica, que não utiliza água, não gera resíduos e tem rastreabilidade. Com isso, leva benefícios socioambientais de impacto para a cadeia produtiva, para a sociedade e o ambiente. A empresa desenvolveu uma tecnologia, e obteve uma patente verde, pela qual separa o óleo residual de embalagens de lubrificantes para veículos e recupera as embalagens para que não seja necessário contar com material virgem. A cada 500 toneladas de produto reciclado, seriam preservados 17 bilhões de litros de água. A empresa também recupera todo óleo residual das embalagens, sem a geração de efluentes e resíduos, completando o ciclo da economia circular e logística reversa. 

2. Umgrauemeio - Monitoramento de incêndios em florestas 

O nome da empresa remete ao Acordo de Paris, a fim de reduzir as emissões globais de gases do efeito estufa para que o aquecimento global não supere 1,5 grau celsius. A greentech Umgrauemeio monitora incêndios florestais diretamente na área desejada, instalando câmeras de alta resolução em torres, onde giram 360 graus em busca de focos de incêndio. Cada câmera possui capacidade de detecção de 15quilômetros sendo que o foco pode ser detectado em apenas três minutos após o início do fogo. Outra câmera é direcionada ao foco e, por meio da triangulação das imagens, a coordenada resultante é indicada. Assim, as brigadas de incêndio são rapidamente acionadas, diferentemente do que ocorre quando o monitoramento é feito por satélite. 

3. Tesouro Verde - Confiabilidade de informações sobre preservação florestal 

O Grupo BMV, com sua vertical Tesouro Verde, uma govtech (SaaS que auxilia estratégias de políticas públicas de sustentabilidade e combate a mudanças climáticas), apresenta uma solução para conservação da biodiversidade em floresta, como estratégia de combate às mudanças climáticas. Por meio de um selo ESG, a startup busca certificar que florestas nativas sejam conservadas, em um processo que envolve o uso de blockchain, que garante a confiabilidade da operação. 

4. Green Mining - Logística Reversa 

Por intermédio de um algoritmo exclusivo, a Green Mining faz o mapeamento de pontos de geração de resíduos pós-consumo. Após identificar uma grande quantidade, instala uma central de recebimento, onde fica armazenado todo o material coletado na região antes de seguir para seu destino final. O material é retirado dos estabelecimentos cadastrados utilizando triciclos, em vez de veículos motorizados. Quando o centro atinge sua capacidade, o material é enviado para usinas e empresas de reciclagem. Segundo a startup, o material é pesado em cada etapa do processo e registrado no sistema a fim de garantir que tudo que foi coletado seja corretamente destinado. Nesse processo de rastreabilidade, a empresa adota a tecnologia blockchain. 

5. Biosolvit - Reúso de rejeitos da indústria de palmito 

A empresa utiliza resíduos de diversas origens como matéria-prima, ao transformá-los em novos produtos, sendo então reaproveitados em um novo ciclo, em sintonia com a ideia de economia circular. De acordo com a empresa, numa fábrica de palmito, apenas 3% das palmeiras são aproveitados. Com o rejeito, criou uma linha de produtos para o cultivo de plantas. Também desenvolveu equipamentos para contenção de vazamentos de óleo, capazes de devolver o produto recolhido para a refinaria, e ainda atua no tratamento de águas contaminadas. 

6. Biotecland - Agrobiotecnologia com microalgas 

A Biotecland adota soluções de biotecnologia para serem aplicadas na lavoura como forma de agricultura regenerativa. A startup desenvolveu um biofertilizante que contém microalgas, que conseguem absorver mais CO², ajudando no combate de pragas e trazendo mais resistência às plantas. A Biotechland também promete maior produtividade com a utilização do seu biofertilizante. Isso porque, além de comprar os insumos, o produtor pode também optar por fabricar suas próprias microalgas, utilizando a consultoria e a tecnologia da startup. 

7. Treevia - Monitoramento florestal e de pegada de carbono 

Atuando desde 2016 em soluções para o monitoramento remoto de florestas, a Treevia Forest Technologies também pretende ampliar suas atividades para a mensuração de conservação das florestas e da pegada de carbono. A startup já possui tecnologias que permitem o controle de inventário florestal, performance de florestas e acompanhamento de pesquisas em tempo real. Além disso, recentemente, a startup esteve entre sete iniciativas selecionadas pelo Land Innovation Fund, da Cargill, que vai destinar R$ 4,5 milhões para projetos que visam fomentar a sojicultura sem desmatamento. A proposta da Treevia, em parceria com a empresa GSS Carbono e Bioinovação, pretende entregar uma solução que remunere propriedades do cerrado por serviços ambientais realizados, com base em mapeamento de dados florestais, que utilizam a tecnologia da Treevia. 

8. Natcrom - Fitoquímicos 

Criada em 2020, a Natcrom Soluções Sustentáveis trabalha com economia circular, fazendo o reaproveitamento de resíduos agroindustriais para a fabricação de ativos botânicos, ou seja, de extratos que podem ser utilizados por indústrias farmacêuticas e de cosméticos. Um dos materiais descartados pela agroindústria e reutilizados são os rejeitos da casca da manga. Para que os projetos da startup sejam desenvolvidos, a Natcrom recebe apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fapesp, que apoia pesquisas científicas. 

9. SDW - Água potável e impacto socioambiental

Especialista em projetos de impacto socioambiental voltados a populações de zonas rurais ao redor do mundo, a SDW desenvolveu o Aqualuz, um dispositivo premiado pela ONU para desinfecção de água de cisterna de captação de água de chuva de zonas rurais através da radiação solar. Torna potável a água captada pelas cisternas utilizadas por famílias de baixa renda em regiões remotas. Indicado contra a contaminação microbiológica da água, que causa doenças e mortes em crianças. Dura cerca de 20 anos apenas com limpeza de água e sabão, sem precisar de manutenção externa ou energia elétrica. A startup desenvolve ainda o projeto Sanuseco, banheiro sustentável voltado para regiões semiáridas, sem necessidade de descarga para remoção de dejetos e patógenos. Com o projeto Sanuplant Tecnologia complementar ao Sanuseco, voltada para o escoamento e tratamento do esgoto doméstico. 

10. MUSH - Agroindústria 

A startup Mush vem desenvolvendo pesquisas científicas há três anos para a utilização do micélio, que é uma parte componente de fungos, como matéria-prima biodegradável para a fabricação de produtos de ambientes domésticos e corporativos e embalagens sustentáveis. A startup também está criando soluções de isolamento térmico e acústico utilizando o material, ainda em processo de validação. Desde sua criação, a startup participou de várias chamadas e editais de fomento promovidos por Fundação Araucária, CNPq e SENAI. 

11. SOLUBIO - Bioinsumos 

A startup SoluBio possui uma solução de bioinsumos, o manejo biológico OnFarm, que pode ser produzido nas fazendas, diminuindo a necessidade de compra de defensivos ou outros insumos externos e trabalhando com a regeneração do solo. A startup promete uma economia de custos de até 70% para os produtores de cultivos de milho, soja, café, hortifruti, cana, trigo e algodão que utilizem a solução de bioninsumo. No ano passado, a SoluBio captou R$ 13,5 milhões para a ampliação de suas atividades e chegou a 1,6 milhão de hectares de atuação, abarcando mais de 250 grandes produtores. 

12. Yes, We Grow 

Fundada em 2019 pelo empreendedor Rafael Pelosini, a Yes We Grow tem como objetivo incentivar as pessoas a resgatarem o hábito de ter hortas em suas próprias casas. A startup vende kits orgânicos de brotos e mudas, pequenas caixas com sementes que desabrocham em até 20 dias, e vasos autoirrigáveis sem uso de terra. A palavra de ordem é facilidade.

Por: Italo Bertão, Cláudio Marques e Naiara Bertão. Fonte: Valor Econômico.

O Negacionismo Nuclear





Usinas de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro.

O negacionismo do atual desgoverno está presente em vários atos e atitudes de seus membros, em particular do presidente da República. O termo negacionismo é o ato de negar fatos, acontecimentos, e evidências científicas. Tal estratégia tem sido utilizada para a formação de uma governamentalidade (definição dada pelo filósofo francês Michel Foucault, como sendo o conjunto de táticas e estratégias usadas para exercer o poder e conduzir as condutas dos governados), e assim criar as próprias verdades. O que acaba dificultando e confundindo a percepção do público em geral, do risco de determinados eventos de grandes impactos e repercussão, como por exemplo, o que tem acontecido com a pandemia do Coronavírus. 

A criação de uma realidade paralela caracteriza-se por negar a própria pandemia, propagandear o uso de remédios ineficazes e questionar a eficácia da vacina. O que contribuiu nestes dois últimos anos para ceifar uma quantidade elevada de vidas humanas. Segundo cientistas, se cuidados básicos tivessem sido implementados pelo Ministério da Saúde para enfrentar a pandemia, um grande número de óbitos seria evitado. 

Outro tipo de negacionismo praticado tem sido o negacionismo nuclear. Com uma campanha publicitária lançada recentemente pela Eletrobras Eletronuclear, o desgoverno federal escolheu exaltar mentiras, distorcer fatos, manipular e esconder dados sobre as usinas nucleares, cujas instalações no país se tornaram uma prioridade. 

O que tem sido constatado após o último acidente nuclear, ocorrido em Fukushima (antes, o de Chernobyl), é que financiadores de “think tanks” (instituições que se dedicam a produzir conhecimento, e cuja principal função é influenciar a tomada de decisão das esferas pública e privada, como de formuladores de políticas) e lobistas defensores da tecnologia nuclear é que as campanhas pró usinas nucleares, estão muito ativas e atuantes, se valendo de desinformação. A falta de transparência é a arma utilizada pelos interesses dos negócios nucleares. 

Negar fatos e evidências científicas, mesmo que elas estejam muito bem explicadas, documentadas é a essência da prática que serve para explicar qualquer tipo de negacionismo, incluindo o do uso de usinas nucleares, que nada mais são do que instalações industriais, que empregam materiais radioativos para produzir calor, e a partir deste calor gerar energia elétrica, como em uma termoelétrica. O que muda nas termoelétricas é o combustível utilizado. 

No caso do uso da energia nuclear, também conhecida como energia atômica, algumas mentiras sobre esta fonte energética são defendidas, disseminadas, replicadas, compartilhadas, e assim, passam a construir verdades que acabam exercendo pressão, com o objetivo de minimizar e dificultar a percepção da população sobre os reais riscos e perigos que esta tecnologia representa, além de caras e sujas, e de ser totalmente desnecessária para o país. 

A política energética atual tem-se caracterizado pela falta de apoio efetivo às fontes renováveis de energia. Ao contrário, o ministro de Minas e Energia proclama como prioritário, a nucleoeletricidade. Insiste em priorizar e promover fontes de energia questionadas, e mesmo abandonadas pelo resto do mundo, caso do apoio ao carvão mineral para termelétricas, e da própria energia nuclear. 

No mundo em que vivemos cada ação praticada, implica em riscos. Assim, precisamos decidir sobre quais são aceitáveis, já que eliminá-los é impossível. Não existe risco zero. 

A ocorrência de um acidente severo em usinas nucleares é catastrófica aos seres vivos, ou seja, o vazamento de material radioativo confinado no interior do reator para o meio ambiente. É bom que se saiba, que inexiste qualquer outro tipo de acidente que se assemelha a radioatividade lançada ao meio ambiente, e suas consequências e impactos, presentes e futuros. 

No caso de usinas nucleares, onde reações nucleares com material físsil produz grande quantidade de calor concentrada em um espaço pequeno, no núcleo do reator, maiores são as consequências de qualquer anomalia acontecer, e se tornar uma catástrofe. Quanto maior a complexidade do sistema, mais elementos interagem entre si, e maiores são as chances de acidentes, mesmo com todos os cuidados preventivos. Neste caso, existe a possibilidade concreta de se cumprir a Lei de Murphy, segundo a qual “se uma coisa pode dar errado, ela dará, e na pior hora possível”.

Eis algumas mentiras que são propagadas, e que são motivadas pelas consequências políticas e econômicas que representam, e que merecem os esclarecimentos devidos: 

A energia nuclear é inesgotável, ilimitada 

As usinas nucleares existentes no país, e as novas propostas, utilizam como combustível o urânio 235 (isótopo do urânio encontrado na natureza). Este tipo de urânio, que se presta a fissão nuclear, é encontrado na natureza na proporção, em média, de 0,7%. Todavia é necessária uma concentração superior a 3% para ser usado como combustível, assim é necessário enriquecê-lo, aumentando o teor do elemento físsil. Pode-se afirmar que haverá urânio 235, suficiente para mais 30-50 anos, a custos razoáveis, para atender as usinas nucleares existentes. 

A energia nuclear é barata 

É muito mais cara do que nos fazem crer, sem contar com os custos de armazenagem do lixo radioativo, e o desmantelamento/descomissionamento no fim da vida útil da usina (custa aproximadamente o mesmo valor que a de sua construção). Logo, o custo do kWh produzido é próximo, e mesmo superior ao das termelétricas a combustíveis fósseis. E sem dúvida, acontecerá o repasse de tais custos para o consumidor final. 

A taxa de mortalidade de um desastre nuclear é baixa 

O contato de seres vivos, em particular de humanos com a radiação liberada por uma usina nuclear, tem efeitos biológicos dramáticos, e vai depender de uma série de fatores. Entre os quais: o tipo de radiação, o tipo de tecido vivo atingido, o tempo de exposição e a intensidade da fonte radioativa. Conforme a dose recebida os danos às células podem levar um tempo. Podem ser, desde queimaduras até aumento da probabilidade de câncer em diferentes partes do organismo humano. Portanto, em casos de acidentes severos já ocorridos, o número de mortes logo após o contato com material radioativo não foi grande; mas as mortes posteriores foram expressivas, segundo organismos não governamentais. Nestes casos a dificuldade de contabilizar a verdadeira taxa de mortalidade é dificultada pela mobilidade das pessoas. Pessoas que moravam próximas ao local destas tragédias, e que foram contaminadas, se mudam, e a evolução da saúde individual, fica praticamente impossível de se acompanhar. 

O nuclear é seguro 

Embora o risco de acidente nuclear seja pequeno, é preciso considerá-lo, haja vista que já aconteceu em diferentes momentos da história, e possui consequências devastadoras. Um acidente nuclear torna a área em que ocorreu inabitável. Rios, lagos, lençóis freáticos e solos são contaminados. Esse tipo de acidente ainda ocasiona alterações genéticas em seres vivos. 

O uso da energia nuclear está em pleno crescimento no mundo 

Esta é uma falácia recorrente dos que creditam a esta tecnologia um crescimento mundial. Vários países têm criado dificuldades para a expansão de usinas, e mesmo abandonando a nucleoeletricidade. Como exemplos temos a Alemanha, Áustria, Bélgica, Itália, Portugal, …. E em outros países o movimento anti usinas nucleares tem crescido entre a população, como é o caso da França e Japão. 

A energia nuclear é necessária, é inevitável 

No caso do Brasil, as 2 usinas existentes participam da matriz elétrica com menos de 2% da potência total instalada. E mesmo que as projeções governamentais apontem para mais 10.000 MW até 2050, assim mesmo, a contribuição da nucleoeletricidade será inferior aos 4%. A energia nuclear não é necessária no Brasil que detém uma biodiversidade extraordinária e fontes renováveis em abundância. 

A energia nuclear é limpa 

Por princípio não existe energia limpa, e sim as sujas e as menos sujas. No caso da energia nuclear ela é classificada de suja, pois é responsável por emissões de gases de efeito estufa ao longo do ciclo do combustível nuclear (da mineração a produção das pastilhas combustíveis), e produz o chamado lixo radioativo. O lixo é composto por tudo o que teve contato com a radioatividade. Logo, entra nessa categoria: resíduos do preparo das substâncias químicas radioativas, a mineração, o encanamento através do qual passam, as vestimentas dos funcionários, as ferramentas utilizadas, entre outros. Parte deste lixo, por ser extremamente radioativo, precisando ser isolado do meio ambiente por centenas, e mesmo milhares de anos. Não existe uma solução definitiva de como armazená-lo. Um problema não solucionado que será herdado pelas gerações futuras. 

O nuclear resolve nosso problema energético, evitando os apagões e o desabastecimento 

Contribui atualmente com 2% da potência total instalada no país, podendo chegar a 4% em 2050, caso novas usinas sejam instaladas. O peso das potências total instaladas, atual e futura, na matriz elétrica é muito inferior ao potencial das alternativas renováveis (por ex.: Sol e vento) disponíveis. Logo, a afirmativa de que a solução para eventuais desabastecimentos de energia pode ser compensada pela energia nuclear é uma mentira das grandes. 

O que está ocorrendo no país, caso prossiga a atual política energética nefasta, no sentido econômico, social e ambiental, é um verdadeiro desastre que deve ser evitado. 

Para saber mais sugiro a leitura dos livros:

Por um Brasil livre das usinas nucleares - Chico Whitaker 

Bomba atômica pra quê? - Tania Malheiros

E os artigos de opinião: 

Energia nuclear é suja, cara e perigosa - Chico Whitaker

O Brasil não precisa de mais usinas nucleares - Ildo Sauer e Joaquim Francisco de Carvalho

Porque o Brasil não precisa de usinas nucleares - Heitor Scalambrini Costa e Zoraide Vilasboas

Insegurança na usina nuclear de Angra 3 - Célio Bermann e Francisco Corrêa.



Por: Heitor Scalambrini Costa (EcoDebate).

As Plantas Conversam Entre Si: Isso Não É Ficção, É Ciência

Guarde esse nome: rizosfera. É aí que tudo acontece e onde está focada a pesquisa de cientistas brasileiros realizada por Embrapa e USP. 

No filme “Avatar”, de 2009, dirigido pelo norte-americano James Cameron, sucesso na época que se tornou um símbolo cult, os organismos conversam entre si. A cena da comunicação entre as árvores se tornou icônica e simboliza uma área do conhecimento que extrapola a ficção. Porque é justamente o contrário: a ficção veio depois da realidade. Foi o trabalho pioneiro da ecologista Suzanne Simard, da Universidade da Columbia Britânica que ajudou o cineasta a colocar nas telas a sua arte. As plantas conversam entre si: isso não é ficção, é ciência. 

No Brasil, essa realidade científica passa pelos corredores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em parceria com a Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). Um bioensaio realizado pela universidade e a unidade Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), envolveu plantas de trigo no qual os pequisadores mostram que elas se “comunicam” com microorganismos benéficos que envolvem suas raízes para terem acesso a mais nutrientes do solo e obterem maior proteção contra doenças fúngicas. 

Os experimentos ocorreram ao longo de 2021, com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), foram apresentados em outubro, durante o Simpósio Internacional “Avances en el mundo de Microbiomas”, da Universidad San Francisco de Quito, e devem continuar. O próximo passo para mapear essa comunicação será analisar o impacto da invasão de fungos e bactérias benéficas na montagem das comunidades bacterianas e fúngicas da rizosfera para entender os padrões e correlações entre a estrutura do microbioma da rizosfera, com o solo, a diversidade do microbioma e o estabelecimento do inoculante benéfico. 

Plantas de trigo do bioensaio realizado pela Embrapa e USP.


Para quem não sabe o que é rizosfera, anote: é a região do solo influenciada pelas raízes das plantas. Os pesquisadores querem, com novos experimentos, entender os padrões e relações que se estabelecem entre um microbioma, o solo e bactérias benéficas eventualmente inoculadas. Explicando em detalhes: sabendo que o microbioma da rizosfera fornece serviços ecológicos, incluindo nutrição e proteção contra doenças, os cientistas foram observar se as plantas de trigo mudariam o padrão da exsudação da raiz (aquele líquido que sai dos poros de uma planta ou um animal, e adquire consistência viscosa) para acessar os recursos fornecidos por esses microrganismos antagônicos, no caso de uma infecção por um patógeno transmitido pelo solo, o fungo Bipolaris sorokiniana. Os patógenos são organismos capazes de causar doenças em um hospedeiro. 

Os cientistas testaram o impacto de três bactérias benéficas – Streptomyces, Paenibacillus e Pseudomonas –, antagônicas ao patógeno, no início da doença, para entender como a planta hospedeira e os micróbios benéficos se comunicam para afastar o patógeno da rizosfera. “Testamos a inoculação independente dos três isolados bacterianos em mudas de trigo inoculadas ou não com o fungo patógeno. O índice de severidade foi o mais alto (93%) em plantas inoculadas exclusivamente com o patógeno (tratamento controle)”, explica Helio Quevedo, da Esalq/USP. “Em plantas inoculadas com a bactéria antagonista e com o patógeno, o índice de severidade variou de 50 a 62%, mostrando uma diminuição significativa na incidência da doença em comparação com o controle tratamento.” 

Diversidade microbioma é boa para o planeta 

Em outro estudo, os cientista avaliaram a diversidade do microbioma da rizosfera e seu impacto na proteção da planta de trigo inoculada com o patógeno de raiz Bipolaris sorokiniana e com um inoculante bacteriano antagonista – Pseudomonas. Utilizando uma técnica chamada “diluição à extinção”, os pesquisadores “diluíram” a diversidade microbiana de um solo natural e, além do solo natural, usaram tratamentos com um gradiente de solo diluído e também autoclavado. 

A inoculação resultou em maior altura de planta e massa seca de raiz, principalmente em tratamentos com o solo natural para a altura, mostrando o potencial de promoção do crescimento deste inoculante. Este inoculante também promoveu a proteção da planta nos tratamentos onde o patógeno foi introduzido. 

Rodrigo Mendes, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, explica que o microbioma da rizosfera oferece à planta hospedeira funções benéficas, incluindo absorção de nutrientes, tolerância ao estresse abiótico – onde há ausência de vida – e defesa contra doenças transmitidas pelo solo. Por exemplo, durante uma invasão de patógeno fúngico do sistema radicular, famílias bacterianas específicas e com certas funções são enriquecidas na rizosfera e ajudam a prevenir a infecção das plantas pelo patógeno. 

Conforme Caroline Nishisaka, da Esalq, o índice de gravidade da doença foi maior em todos os tratamentos que receberam o fungo patógeno Bipolaris sorokiniana, principalmente no solo mais “diluído”, mostrando que é mais destrutivo em solos com baixa diversidade microbiana, onde o inoculante antagonista também é mais eficaz na proteção a planta.

Por: Vera Ondei. Fonte(s): Forbes Agro / Embrapa.

Nem do Oceano Nem da Amazônia: De Onde Vem o Oxigênio Que Respiramos?


É comum ouvir que o oxigênio que respiramos vem do oceano ou das florestas tropicais. No entanto, o biólogo espanhol Carlos Duarte, uma das autoridades máximas da vida oceânica, diz que essa afirmação não possui respaldo científico. 

 De onde vem o oxigênio? 

“No oceano, assim como nos ecossistemas terrestres, a maior parte do oxigênio produzido é consumido pelos próprios organismos do sistema, tanto no caso das cianobactérias como no caso da Amazônia, em que o balanço do oxigênio é quase neutro”, explica Duarte. 

“A fotossíntese produz oxigênio, mas toda a cadeia trófica e os micro-organismos o consomem, de forma que o balanço é de quase zero”, continua. Isso significa que as grandes quantidades de oxigênio geradas nos oceanos e florestas são consumidas pelos mesmos organismos que as geram. 

Então, de onde vem o oxigênio que respiramos? “O oxigênio que está presente na atmosfera vem do evento da ‘Grande Oxigenação’, que ocorreu como o desenvolvimento da fotossíntese, há milhões de anos, e é esse oxigênio que continua sendo o legado que encontramos na atmosfera e que mantém nossa respiração”, afirma o especialista. 

Trata-se de um processo que ocorreu há aproximadamente 2,4 bilhões de anos, pela proliferação de bilhões de cianobactérias. Muito mais tarde, há cerca de 600 milhões de anos, o processo teve outra fase, que completou a configuração atmosférica que conhecemos. 

Além disso, Duarte afirma que, se todos os combustíveis fósseis da Terra fossem queimados, a enorme massa de oxigênio não diminuiria nem 3%. “A reserva de oxigênio na atmosfera é tão enorme, que se pudéssemos fazer uma experiência mental de apagar a fotossíntese, sem haver nova produção de oxigênio na biosfera, poderíamos continuar respirando, não somente nós, humanos, mas todos os organismos do planeta, durante três mil anos ou mais”.

Fonte: History.

Carne Ainda Mais Cara e Pecuária Mais Poluente: Os Efeitos da Mudança Climática


Mais calor e menos água devem prejudicar a qualidade do pasto, afetando a produção de carne, dizem cientistas. Preços altos vão tornar o consumo do produto ainda mais desigual. 

Quem está pagando R$ 40 o quilo em cortes de segunda ou já nem vê mais carne no prato neste ano de 2021 deve achar que pior do que está, a coisa não fica. Mas como no Brasil, diz o ditado, "no fundo do poço tem um alçapão", os cientistas trazem más notícias: pode ficar muito pior. 

O motivo é o rápido e já perceptível avanço das mudanças climáticas. 

Durante dez anos, pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto simularam os efeitos do aumento de temperatura e menor oferta de água sobre a qualidade do pasto, que serve de alimento para mais de 90% do gado de corte brasileiro. 

Eles constataram que a qualidade das folhas será severamente afetada pelo aumento de pelo menos 2°C esperado nas temperaturas nos próximos anos. 

Com isso, vai ser mais difícil engordar o gado, ou será preciso complementar a alimentação dos animais "a cocho" — expressão usada pelos pecuaristas para a nutrição do gado em confinamento, geralmente feita com grãos como milho, soja e sorgo — o que tende a reduzir a oferta ou encarecer ainda mais a carne bovina. 

E talvez ainda mais grave: o pasto com menos proteína e mais lignina (um componente indigerível pelos animais) pode levar os bois a produzirem ainda mais metano no seu processo digestivo. Com isso, uma atividade que já é considerada atualmente uma "vilã" do clima pode contribuir ainda mais para as mudanças climáticas, num ciclo vicioso. 

Em outro processo pernicioso, o aumento de temperaturas deve fazer o gado precisar de ainda mais água para se refrescar, num ambiente onde a oferta do líquido será mais restrita. 

Diante desse cenário, o recado dos cientistas é unânime: é preciso atuar já para mitigar as mudanças climáticas, melhorar o uso dos recursos hídricos pela agropecuária e desenvolver novas forrageiras (como são chamadas as plantas usadas na alimentação animal) mais resistentes ao calor e à falta de água. 

A boa notícia, diz a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), é que o país já tem experiência no assunto, pois produz proteína animal no semiárido, que é uma espécie de "microcosmo" do que será um Brasil futuro mais quente e com menos chuva. 

O gado e a grama

"Lá na USP Ribeirão Preto, nós temos uma estrutura montada para simular o clima futuro. Basicamente: o incremento do CO2 [gás carbônico, principal responsável pelo efeito-estufa], o aumento da temperatura e a falta de água", conta o professor Carlos Alberto Martinez Y Huaman, do departamento de Biologia da USP em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. 

"Nosso objetivo principal foi fazer uma simulação de como as pastagens poderiam responder às mudanças climáticas — ao aumento da temperatura em 2°C, ao aumento do CO2 em 50% e à restrição hídrica", explica o pesquisador. "Escolhemos para começar duas forrageiras brasileiras, uma gramínea e uma leguminosa, que foram cultivadas nesses ambientes modificados." 

E o que os pesquisadores encontraram nesses dez anos de estudos? 

"Encontramos o seguinte: o aumento de temperatura e a falta de água são muito prejudiciais para os pastos. Não somente para a produção de biomassa, mas também para a qualidade das folhas, que é a parte da planta que o gado come", diz Martinez, lembrando que os pastos ocupam no Brasil cerca de 160 milhões de hectares — uma área equivalente ao Irã e maior do que todo o Estado do Amazonas, a maior unidade federativa brasileira em território. 

Tanto a produção de carne, como a de leite, dependem do acesso do gado a pastos de boa qualidade e em boa quantidade. "Quando aumenta a temperatura e chove menos, as plantas vão produzir menos folhas e a qualidade da folha também muda: começa a cair o teor de proteína — nós encontramos uma queda entre 20% e 30%." 

"Com menos proteína e mais lignina — um polímero que o gado não consegue digerir —, o aproveitamento do pasto pelo gado cai. Assim, ele ganha menos peso. Para compensar, o gado vai ter que comer mais folha, mais pasto, ou o pecuarista vai ter que dar suplemento alimentar, se não o gado não engorda", afirma. 

"E se aumenta o teor de lignina, pode haver maior emissão de metano, um gás do efeito estufa que tem 20 vezes mais efeito de aquecimento que o CO2. Então pode causar mais problemas para as mudanças climáticas", alerta o especialista. 

Com a mudança climática também se altera a microbiota do solo — microbiota é o nome que se dá aos microrganismos que vivem em um ambiente. "Surgem fungos patogênicos que causam doenças nas plantas, isso é ruim para elas e para a produção pecuária." 

Além da emissão de metano, também podem aumentar as emissões de óxido nitroso, um gás que tem 300 vezes mais efeito de aquecimento que o CO2. 

"Quando se altera o ambiente e é aplicado, por exemplo, um adubo nitrogenado no pasto, pode haver uma perda grande de nitrogênio na forma de óxido nitroso. Isso tem impacto nas mudanças climáticas, contribuindo para o aquecimento global", explica o pesquisador. 

Preço da carne e desigualdade social

Entre as soluções para mitigar o problema, Martinez enumera: o uso de plantas mais resistentes à seca, a fixação biológica do nitrogênio (feita através de bactérias colocadas junto com as sementes que fixam o componente químico no solo) e a recuperação de pastos degradados para evitar o avanço do desmatamento. 

Ele também defende o incentivo ao método de produção chamado ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), que inclusive ajuda no controle de temperatura na criação dos animais, que podem recorrer à sombra das árvores para se proteger, diminuindo consequentemente a necessidade de consumo de água pelo gado num futuro que será mais quente. 

"É preciso que a informação chegue aos produtores, aos tomadores de decisão, para que vejam que o problema já está acontecendo. As mudanças climáticas e os eventos extremos estão ocorrendo dia a dia", alerta. 

"Se não tomarmos medidas para enfrentar essa situação, o preço da carne e do leite vai subir, para compensar o aumento de custo que os pecuaristas terão com a piora da qualidade do pasto. É um problema social, econômico e científico", conclui. 

Ao se vislumbrar esse futuro de preços ainda mais altos, é preciso levar em conta que o consumo de carne é um importante marcador de desigualdade social no Brasil. 

Segundo um estudo de pesquisadores do IFMG (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais), com base em dados da POF do IBGE (Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o consumo médio per capita anual de carne bovina entre 2008 e 2009 era de 17,61 kg para as classes com rendimento acima de R$ 6,2 mil, sendo 11,33 kg de carne de primeira e 6,28 kg de carne de segunda. 

Para as classes com renda até R$ 830, o consumo médio por pessoa anual era de 8,88 kg, sendo 6,03 kg de carne de segunda e 2,85 kg de carne de primeira. 

Ou seja: um futuro em que as mudanças climáticas torne as carnes ainda mais caras deve aprofundar a desigualdade no acesso às proteínas mais nobres.

Clique no gráfico para ampliar!
"O que estava previsto para acontecer até 2050, 2100, agora se espera que aconteça até 2030, 2040. As estimativas mais pessimistas já falam que podemos chegar em cinco anos a [um aumento de temperatura de] 1,5°C, que é o limite do Acordo de Paris", alerta Martinez. 

"Normalmente, aqui no Brasil, a época de seca durava entre dois e quatro meses. Se a seca dura cinco, seis, oito meses, não há forma de cultivar plantas. Isso cria um cenário bastante pessimista na produção pecuária e agrícola. E temos que ter consciência de que isso é um problema sério de segurança alimentar." 

Água como questão-chave

Gherman Araujo, pesquisador da Embrapa Semiárido, destaca que, com o aumento esperado da temperatura nos próximos anos, os animais podem demandar um consumo de água entre duas e quatro vezes maior para manter a temperatura de seus corpos sob controle. 

Segundo ele, o consumo de água pelos animais varia de 2% a 6% do seu peso vivo. Isso significa que um boi de cerca de 500 kg ingere pelo menos 20 litros de água por dia. 

"O componente água é o principal dentro do sistema de produção agropecuário e o que mais será afetado [pelas mudanças climáticas]", destaca Araujo. "Sem água não há possibilidade de se ter qualquer tipo de produção de proteína animal ou vegetal." 

Durante a elaboração do PNHS (Plano Nacional de Segurança Hídrica), a ANA (Agência Nacional de Águas) identificou que os riscos diretos à produção animal por "fragilidades no balanço entre oferta e demanda de água" já alcançam R$ 29,86 bilhões, podendo somar R$ 44,57 bilhões em 2030, conforme informou o coordenador de estudos setoriais da ANA, Thiago Fontenelle, durante simpósio promovido pela Embrapa no ano passado. 

"Isso é muito sério e pode afetar todas as cadeias de produção animal, desde suínos, aves, até os ruminantes caprinos, ovinos e bovinos de leite e de corte", diz o pesquisador. "Até porque esses animais dependem para sua nutrição de grãos e a produção de grãos será afetada — haverá uma competição natural entre a demanda de grãos para consumo humano e para atender o consumo dos animais." 

"É preciso que a zootecnia atue trazendo soluções tecnológicas para mitigar os efeitos da alteração do clima", defende o especialista da Embrapa. "A região semiárida pode ser uma referência para como se produzir e ser eficiente num ambiente onde haja aumento de temperatura e menor disponibilidade hídrica." 

Segundo Araujo, o semiárido tem a ensinar técnicas diversas de captação e conservação de água; o uso de espécies vegetais altamente eficientes no uso do líquido, como a palma forrageira, um cacto utilizado na alimentação animal; além de animais tolerantes a altas temperaturas e eficientes no consumo de alimentos de baixa qualidade. 

"Nós temos muito o que ofertar como alternativas em um ambiente menos favorável em relação a temperatura e precipitação. O semiárido vai ser olhado na busca por soluções para a adaptação de outros biomas. Não tenha dúvida disso."

Por: Thaís Carrança (BBC Brasil).

Entenda o Inequívoco Papel Humano na Mudança Climática


A comunidade científica não tem mais dúvida sobre a mudança climática causada por atividades humanas. A DW explica como o estudo do clima evoluiu para o consenso científico sobre o aquecimento global.

É verdade que, dentro de sua história de 4,5 bilhões de anos, o planeta Terra experimentou eras de menor e maior calor. 

Numa alternância de milhares de anos, essas mudanças foram determinadas por variações na órbita da Terra ao redor do Sol. Enquanto distâncias maiores resultaram em ciclos mais frios, a proximidade gerou eras mais quentes e interglaciais. 

No final do século 20, quando cientistas começaram a observar como as temperaturas mudaram ao longo da história, eles notaram um aquecimento planetário muito mais rápido que a média, iniciado a partir dos anos 1980. 


Em 1998, pesquisadores da Universidade de Massachusetts e do Laboratório de Pesquisas de Anel de Árvore da Universidade do Arizona, ambas nos Estados Unidos, publicaram um estudo mostrando a temperatura média anual global durante os últimos mil anos. 

Para calcular temperaturas tão antigas, eles estudaram os chamados registros naturais – medições de núcleos de gelo, anéis de árvores e corais. 

O resultado mostrou pouca variação durante muitas centenas de anos até o século 20, quando subitamente houve um aumento acentuado. 

Em 2013, uma pesquisa publicada na revista Science analisou temperaturas ainda anteriores, datando de 11 mil anos atrás. A conclusão foi a mesma: o planeta aqueceu mais rápido no século passado do que em qualquer outra época desde o final da última era glacial. 

O estudo também revelou que, nos últimos 2 mil anos, a Terra vem enfrentando um período de resfriamento natural em termos de sua posição em relação ao Sol. 

Mas, como explica o estudo, esse resfriamento natural praticamente não foi notado devido ao aquecimento sem precedentes causado pelas emissões humanas de gases de efeito estufa. 

O que as emissões de CO2 têm a ver com a mudança climática? 

O efeito estufa – um processo natural que aquece a Terra – é necessário para sustentar a vida no planeta. Ele acontece quando certos gases em nossa atmosfera capturam o calor emitido pela Terra e atuam como o próprio efeito estufa do planeta. Os gases naturais que retêm o calor em nossa atmosfera, que incluem dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso, são necessários para manter a temperatura da superfície da Terra quente. 

Sem o efeito estufa, a temperatura da superfície cairia 33 graus Celsius, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Isso tornaria o planeta um lugar congelado e inabitável. 

Durante milhares de anos, a natureza regulou bem a concentração desses gases. Mas isso começou a mudar quando os seres humanos passaram a queimar combustíveis fósseis para criar energia, o que desencadeou um aumento acentuado das emissões não naturais de CO2. Isso interferiu no equilíbrio atmosférico do planeta e, como resultado, a Terra começou a aquecer mais rapidamente. 

De acordo com o relatório da OMM sobre o Estado do Clima Global 2020, a temperatura média no ano passado foi 1,2 grau Celsius mais alta do que os níveis pré-industriais. Isso se refere ao período entre 1850-1900, quando os combustíveis fósseis não eram amplamente utilizados como meio para gerar energia. 

O relatório descreveu os níveis crescentes de gases de efeito estufa na atmosfera resultantes das atividades humanas como "um dos principais motores das mudanças climáticas".

Em 2001, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estimou que a concentração de CO2 na atmosfera havia sido de 280 partes por milhão (ppm) por vários milhares de anos antes da era industrial. Em 1999, havia aumentado para 367 ppm. 

Criado como um órgão da ONU em 1988, o IPCC tem 195 países-membros e se ocupa da ciência relacionada à mudança climática. Ele atribuiu o aumento de CO2 atmosférico às emissões geradas pelo homem, três quartos delas provenientes da queima de combustíveis fósseis, e o restante da mudança no manejo da terra. 

Em maio de 2021, o nível médio global de CO2 atmosférico atingiu 415 ppm. A última vez em que os níveis de CO2 haviam sido tão elevados foi há cerca de 3 milhões de anos, quando o nível do mar era cerca de 30 metros mais alto, e os humanos modernos nem sequer existiam. 

O cientista climático Benjamin Cook, do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa, explica que, no final do século 20, quando os pesquisadores começaram a procurar respostas para explicar a tendência de aquecimento, eles examinaram diferentes fatores, incluindo gases de efeito estufa, energia solar, circulação oceânica e atividade vulcânica. 

"Somente as emissões de gases de efeito estufa dos combustíveis fósseis e a industrialização nos deram uma previsão que se alinha com o aquecimento que estamos vendo", disse Cook à DW. 

Ele afirma que a comunidade científica está tão confiante na mudança climática causada pelo homem hoje quanto na compreensão da teoria da gravidade. 

"Há incertezas e nuances a serem discutidas na ciência climática", comenta Cook. "Mas a única coisa em que praticamente todo cientista concorda hoje é que o aquecimento que estamos vendo é impulsionado pela queima de combustíveis fósseis." 

Por que demorou para se chegar a essa conclusão?

Uma análise amplamente discutida sobre a evolução do consenso científico sobre o aquecimento global antrópico foi publicada em 2013. 

Liderado por John Cook, pesquisador do Centro de Pesquisa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas da Universidade de Monash, na Austrália, pesquisadores americanos, britânicos e canadenses examinaram 11.944 textos relacionados ao clima publicados na literatura científica revisada por pares entre 1991 e 2011. 

Menos de 1% dos trabalhos de pesquisa examinados rejeitavam a ideia da influência humana sobre o clima da Terra. Dos textos, 66,4% não expressaram nenhuma posição sobre o fator antrópico, e 32,6% o endossaram. Uma análise mais aprofundada desse último número revelou um consenso de 97,1% sobre a mudança climática causada pelo homem. 

Os críticos, no entanto, atacaram as conclusões com base no fato de que o consenso de 97,1% foi derivado de menos de um terço (32,6%) de todos os artigos revisados. A maioria (66,4%), argumentaram eles, não havia expressado um ponto de vista. 

O consenso científico não pode ser alcançado através de votação, mas evolui com o tempo à medida que mais pesquisas são feitas. 

Um estudo mais recente conduzido por um grupo de autores internacionais confirmou que mais de 90% dos cientistas climáticos compartilham o consenso de que a mudança climática é causada pelo homem. 

E uma análise de 2019 de 11.602 artigos revisados por pares sobre mudança climática publicados nos primeiros sete meses de 2019 constatou que os cientistas chegaram a um acordo de 100% sobre o aquecimento global causado pelos humanos. Essa pesquisa foi realizada por James Lawrence Powell, geólogo americano e autor de 11 livros sobre mudanças climáticas e ciência da Terra. 

"Se uma teoria alternativa do que está impulsionando a mudança climática em vez de gases de efeito estufa fosse apoiada por pesquisas e evidências, tal trabalho seria inovador", diz Benjamin Cook. "Seria um estudo de nível de prêmio Nobel. Mas nós não temos ainda essa pesquisa." 

A mudança climática de origem humana é endossada pelo IPCC. Já em 1995, o órgão intergovernamental disse: "O equilíbrio das evidências sugere que existe uma influência humana discernível sobre o clima global." 

"Uma abordagem científica significa olhar para os dados, observações e resultados para tirar conclusões", afirma Helene Jacot Des Combes, climatologista da Universidade do Pacífico Sul, autora do IPCC e assessora do governo das Ilhas Marshall. "E tudo isso nos diz que a atual mudança climática é causada pelas atividades humanas."

Por: Tatiana Kondratenko (Deutsche Welle).