A injunção de pensar como uma montanha se tornou intimamente associada com o conceito de "ecologia profunda" - termo cunhado em 1973 pelo filósofo e ecologista norueguês Arne Naess (1912-2009). Ele usou o termo para ressaltar sua crença de que devemos primeiro reconhecer que somos parte da natureza , e não separados dela, se pretendemos evitar a catástrofe ecológica. Mas a noção de "pensar como uma montanha" remonta a 1949, quando foi formulada pelo ecologista norte-americano Aldo Leopold no livro de mesmo nome na tradução em português.
Trabalhando como guarda-florestal no início do século XX, Leopold atirou numa fêmea de lobo na montanha. "Alcançamos a velha loba a tempo de ver um brilho verde selvagem morrendo em seus olhos", ele escreveu. "Percebi, e sei desde então, que havia algo de novo naqueles olhos, algo conhecido apenas pela loba e pela montanha." A partir dessa experiência, Leopold chegou à ideia de que devemos pensar como uma montanha, reconhecendo não apenas nossa necessidades ou as dos seres humanos, mas as de todo o mundo natural. Ele sugeriu que, com frequência, não percebemos as implicações mais amplas de nossas ações, considerando apenas o benefício próprio e imediato. "Pensar como uma montanha" significa se identificar com o ambiente mais vasto e estar consciente do seu papel em nossas vidas.
Harmonia com a natureza
Naess adotou a ideia de Leopold ao propor sua "ecologia profunda". Ele afirmava que somente protegeremos o meio ambiente passando pelo tipo de transformação que Leopold descreveu. Naess nos conclamou a ver nós mesmos como parte da biosfera. Em lugar de ver o mundo como apartado de nós, devemos descobrir nosso lugar na natureza, reconhecendo o valor intrínseco de todos os elementos do mundo em que vivemos.
Naess introduziu o "eu ecológico", uma percepção de "si" enraizada na consciência de nossa relação com uma "comunidade maior de todos os seres vivos". Ele afirmou que a ampliação de nossa identificação com o mundo para incluir lobos, sapos, aranhas, e talvez até montanhas, leva a uma vida mais prazerosa e significativa.
A "ecologia profunda" de Naess teve um efeito poderoso na filosofia ambiental e no desenvolvimento do ativismo ecológico. Para quem vive na cidade, pode parecer difícil ou mesmo impossível se conectar com um "eu ecológico". Contudo, pode ser possível. Como escreveu o mestre zen Robert Aitken Roshi em 1984, "quando pensamos como uma montanha, pensamos também como um urso negro, de modo que o mel escorre por sua pele enquanto você toma o ônibus para o trabalho."
Sobre Arne Naess
Amplamente reconhecido como o principal filósofo norueguês do século XX, tornou-se o mais jovem professor catedrático da Universidade de Oslo, aos 27 anos. Foi também montanhista célebre e comandou uma expedição bem-sucedida ao cume do Tirich Mir, no norte do Paquistão, em 1950.
Apenas depois de se aposentar do cargo de professor, em 1970, é que Naess desenvolveu ativamente seu pensamento sobre o mundo natural e envolveu-se na ação direta em questões ecológicas. Em 1970, acorrentou-se aos rochedos da Queda Mardalsfossen, na Noruega, para protestar contra a construção de uma barragem. Eleito presidente do Greenpeace norueguês em 1988, foi nomeado cavaleiro em 2005.
"O pensamento pelo futuro tem que ser leal à natureza." Arne Naess.
Fonte: The Philosophy Book (DK UK). Tradução: Douglas Kim.
3 comentários:
Parabéns pelo artigo!
muito loco
AMEI SEU ARTIGO!
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