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A Reciclagem da Água

Nós, seres humanos, bebemos água e geramos esgoto. O normal seria um grupo de pessoas beber água de um rio e, num ponto mais à frente, jogar seu esgoto, que seria aos poucos naturalmente tratado (isso se chama auto-depuração). Outro grupo de pessoas, localizado mais ainda à frente, poderia então beber a água do mesmo rio, pois estaria limpa. A coisa começou a complicar com a urbanização. A maciça concentração de gente em espaços não muito grandes fez com que esse "grupo" significasse muitas pessoas juntas. Muita gente bebendo água e gerando esgoto. Aí pode faltar água e sobrar rios tão emporcalhados que não se tratam sozinhos. Nesse momento, passou da hora dos humanos, os seres mais inteligentes do planeta, fazerem algo. 

Atualmente, os humanos mais simplistas continuam jogando esgoto nos rios e se virando para pegar água com uma qualidade razoável (chamada água bruta). Porém, há a necessidade de tratar essa água bruta, fazendo operações físicas e químicas para torná-la potável. Assim como há o tratamento de água, deveria também haver o tratamento de esgoto, para que fosse lançado nos rios algo que eles pudessem depurar. 

Mas afinal, o que é esgoto? São águas que passaram pelo consumo, num banho, numa lavagem de roupas ou louças. Ainda, é o que damos descarga nos nossos banheiros. Simplificando muito, o esgoto doméstico tem dois componentes básicos, além de água: microrganismos e matéria orgânica. Cerca de 25% a 33% do peso de nossas fezes são bactérias, sendo o grupo mais comum delas o dos coliformes fecais. São bactérias aeróbias que, assim como eu e você, necessitam de água, alimento e oxigênio para viver. Alimento para elas é a própria matéria orgânica das nossas fezes. Oxigênio elas tiram da água, líquido em que o gás se dissolve. 

Imagine então, a carga de esgoto de uma imensa população jogada direto num rio. As bactérias consumiriam o oxigênio dissolvido na água do rio, fazendo com que os peixes, que também são aeróbios como eu, você e os coliformes, morram. E com isso o rio vai morrendo junto. Se fosse uma população pequena, dependendo da distância até a próxima comunidade e da vazão do rio (que dilui o esgoto), seria possível que a descarga não fosse impactante a ponto de matar peixes e que, aos poucos, o alimento das bactérias fosse escasseando e elas fossem morrendo. Assim, a próxima comunidade poderia pegar água do mesmo rio e beber. Mas, como as cidades tendem a ser cada vez maiores, invariavelmente os rios não têm tempo de se auto-depurar. Assim, tem que haver tratamento de esgoto. 

O jeito mais comum de se tratar esgoto direciona imensas quantidades desse para tanques gigantes. O esgoto vai ser batido como se esses tanques fossem um grande liquidificador, processo que vai oxigenar a água. Assim, as bactérias ficam felizes, no meio de água, oxigênio e alimento. Só que o alimento vai acabando e as bactérias vão morrendo. Após a morte delas, o esgoto está tratado e pode ser lançado num rio novamente. 

A futura água de reuso que o governo do Estado de São Paulo anunciou [em 05/11/2014] não deixa de ser esgoto tratado. Mas, nesse caso, deverá estar pronta após dois tratamentos: o comum e um adicional, constituído de membranas que ajudarão a reter impurezas. A ideia, após o tratamento, é despejar a água de reuso na represa de Guarapiranga, onde essa água será misturada à água bruta normalmente captada e enviada ao local. Assim, é algo semelhante ao despejo num rio e deve acontecer a mesma diluição que acontece naturalmente em corpos d"água.


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