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Salutar/Basilar: Qualidade de Vida & Provimento do Lar

Imaginar de maneira fértil a vida inteligente como legado de uma remota visita dos desbravadores "deuses astronautas", em busca de um paraíso para acomodar sua nobre criação, nos coloca em uma encruzilhada dialética: nesse contexto hipotético, em paradoxo à realidade dos fatos, a espécie humana seguiu o curso da história menosprezando que a vida não é algo isolado do ambiente natural e que saúde não necessariamente significa ausência de enfermidade. Até entender que o homem nunca foi o centro do Universo e que recursos são finitos quando mal geridos! 

Por uma questão de instinto o ser humano tende a nutrir uma amor exclusivo a si próprio que o induz a barganhar para obter vantagens, desse modo o processo civilizatório global e o surgimento da ideia  de propriedade privada fizeram com que leis fossem impostas para manter a ordem das massas e para defender o capital dos abastados, contribuindo para a perda das virtudes naturais da humanidade (como o altruísmo e a compaixão) e fortalecendo o estado da natureza egoísta da sociedade. 

O Capitalismo, por sua vez, acelerou o motor do progresso e com a divisão do trabalho [na qual pessoas possuem um conjunto particular de habilidades] aumentou-se a produtividade através dos sistemas fabris - do século XVIII em diante -, permitindo que em séculos seguintes as múltiplas atividades humanas gerassem mais resíduos a partir da crescente diversidade de produtos com componentes e materiais de difícil degradação e de maior toxicidade. 

Portanto, ao considerarmos que aspectos físicos, químicos, biológicos, socioeconômicos e culturais estão intrinsecamente ligados à saúde como um todo, a qualidade de vida pode ser medida pela intensidade de um impacto e suas consequências - como os efeitos de uma crise econômica, por exemplo. Sem trabalho e renda o homem perde poder de compra e assim deixa de obter alimentação e moradia, exaurindo sua autossuficiência, passando a viver de caridade. E desde que carreiras profissionais foram inventadas no século XX a pressão por status e dinheiro tem sido cada vez maior.

A formação de um cidadão ecologicamente responsável [ter a consciência do seu lugar no mundo e compreender a dinâmica da natureza] passa antes por uma vida digna cujo acesso a bens e serviços essenciais, ao saneamento básico, à educação, ao transporte e ao lazer é capaz de despertar senso e atitudes preservacionistas. Do contrário, uma degradante situação pessoal pode vir a se tornar mais um elemento nocivo ao meio ambiente. 

Numa lógica de livre mercado onde cada indivíduo pode perseguir seus próprios interesses sob o trato de atender aos interesses do outro para que ambos obtenham êxito, confunde-se igualdade de condição com equidade de oportunidade já que querer nem sempre é poder e benefícios não são repartidos de forma justa e igualitária. Privilégios concentram-se nas mãos de poucos. Cooperação e assistência são essenciais para uma sociedade comercial que depende da força de trabalho de um grande número de pessoas, e pessoas geram lucros para si próprias ou para seus empregadores; parte desse lucro é de responsabilidade social, pois prover a casa e a família é basilar e viver qualitativamente é salutar. 

Porém, o Tripé da Sustentabilidade [People/Planet/Profit ou Pessoas+Planeta+Proveito/Ganho Líquido] - conceito que promove a expansão do modelo tradicional de negócio para um desenvolvimento das organizações baseado em resultados medidos por indicadores sociais, ambientais e financeiros - hoje exige mercadologicamente [para conservar a boa imagem da empresa perante as partes interessadas] ajustamento e práticas mais limpas e eficientes dos meios de produção a fim de que se limite a elevação da temperatura média do planeta em 1,5 grau Celsius, o que reflete uma maior percepção da problemática ambiental e cobrança por transparência pela sociedade civil e consumidores preocupados com a influência que seus hábitos podem representar para sua própria saúde e para a qualidade do ambiente. 

Dados da Organização das Nações Unidas [divulgados em 27/09/2016] corroboram essa preocupação: 92% das pessoas em todo o mundo vivem em locais onde a qualidade do ar é insatisfatória ou excessivamente poluída; 6,5 milhões de pessoas morrem todos os anos vítimas da poluição atmosférica no mundo todo; o ar poluído é responsável por 12% de todas as mortes mundialmente; e no Brasil há 14 mortes a cada 100 mil habitantes por problemas respiratórios decorrentes de poluentes atmosféricos [veja o mapa mundial da presença anual de partículas de matéria (PM)]. A Terceira Lei de Newton diz que a melhor forma de chegar a algum lugar é deixando alguma coisa para trás, por isso é preciso que a humanidade abra mão de tantas coisas para viver mais com menos. Devemos pensar mais como espécie do que como indivíduos.

"Novidades são diárias para nos entreter. O Mercado tem tudo que podemos querer. Tudo tentamos ter para nos satisfazer, mas nem tudo vai resolver quando a Mãe Terra adoecer." Cônscio Gusnob.


Por: Gustavo Nobio. O autor é técnico em Meio Ambiente formado pela FUNCEFET (RJ) e voluntarioso promotor da Sustentabilidade; articulista, comunicador ambiental e fundador do site SenhorEco.org.




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