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Políticas Públicas Precisam Adotar Economia Comportamental

As políticas públicas têm sido implementadas tradicionalmente com base em modelos que consideram as pessoas como agentes capazes de tomar decisões racionais, ponderadas e com capacidade ilimitada de processar informações. Foto: EBC.

Compreender os processos decisórios, os hábitos e as experiências daqueles em situação de pobreza é essencial para a elaboração de políticas públicas mais eficazes. É o que sugere o estudo do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (IPC-IG/PNUD) divulgado 10/10/2017.

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O Prêmio Nobel de Economia de 2017 foi concedido ao norte-americano Richard Thaler por suas contribuições no campo da economia comportamental. Thaler é um dos mais destacados economistas na aplicação da psicologia às análises das teorias econômicas e das consequências da racionalidade limitada, das preferências pessoais e da falta de autocontrole

Um desdobramento mais recente dessa área é a aplicação de “insights” comportamentais às políticas públicas. Compreender os processos decisórios, os hábitos e as experiências pessoais daqueles em situação de pobreza é essencial para a elaboração de políticas públicas e para sua eficácia. 

A conclusão é de estudo do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (IPC-IG/PNUD), Insights Comportamentais e Políticas de Superação da Pobreza, de autoria de Antonio Claret Campos Filho e Luis Henrique Paiva, pesquisadores associados do IPC-IG e pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). 

“A gente não acorda de manhã pensado na qualidade da água que estamos bebendo ou que os recursos gastos no almoço irão fazer falta no fim do mês. O pobre gasta boa parte do seu sistema cognitivo enfrentando dilemas cotidianos deste tipo e, por isso, ele tem uma maior sobrecarga mental”, explica Luis Henrique Paiva, coautor do estudo. “Viver na pobreza exaure a sua capacidade mental e isto acaba conduzindo o indivíduo a tomar decisões ruins e com maior probabilidade de cometer erros. Isso retroalimenta a pobreza. O contexto da pobreza perpetua a escassez”. 

As políticas públicas têm sido implementadas tradicionalmente com base em modelos que consideram as pessoas como agentes capazes de tomar decisões racionais, ponderadas e com capacidade ilimitada de processar informações. 

Em contraposição a essa visão, os estudos sobre economia comportamental sugerem que a realidade é diferente: as pessoas têm um sistema cognitivo limitado, decidindo com base em hábitos e experiências pessoais. Aceitam soluções satisfatórias, tomam decisões de forma rápida, têm dificuldade em equilibrar interesses de curto e longo prazos, são fortemente influenciadas por fatores emocionais e pelos comportamentos dos outros. 

O estudo publicado pelo IPC-IG defende que aqueles em situações de escassez, como a pobreza, têm uma maior sobrecarga mental, pois estão sujeitos a preocupações que não ocorrem entre pessoas de maior renda, como a qualidade da água consumida ou o acesso à alimentação. 

Contrair empréstimos a juros altos é um exemplo de falta de autocontrole que tende a ser mais frequente e mais onerosa para os pobres. Decisões de longo prazo também tendem a ser negativamente afetadas pelas sobrecargas associadas à escassez, como retirar os filhos da escola para que eles trabalhem devido à perda de emprego dos pais, o que terá consequências negativas para a vida da criança. 

Segundo o estudo, o desenho de políticas e programas sociais precisa considerar esta ocorrência esperada de erros e as situações concretas vividas por famílias ou comunidades pobres. Os programas deveriam ser tão simples quanto for possível para atingir seus objetivos, evitando demandas e compromissos desnecessários sobre seus beneficiários. 

Para os pesquisadores, essas pessoas tomariam melhores decisões no longo prazo, como acumular poupança, caso tivessem alguma perspectiva de futuro. Um mínimo de segurança também é fundamental: microcrédito, educação, segurança no emprego, disponibilidade de uma rede de proteção social básica e seguro contra doenças ou calamidades. 

Um número crescente de países, como Estados Unidos, Austrália, Canadá e França, tem adotado a abordagem comportamental na análise e no aprimoramento de suas políticas. Recentemente, a ONU instituiu um grupo de assessoramento para o secretário-geral das Nações Unidas com o objetivo de tratar de temas comportamentais com ênfase no alcance dos objetivos da Agenda de 2030. No Brasil, no entanto, ainda são raras as políticas públicas desenhadas com base nos estudos comportamentais, concluiu o estudo do IPC-IG.

Fonte: ONU.

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