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Vegetais Esquisitos


Você compraria estes vegetais?


A maioria das pessoas diz que não. E isso é uma importante causa de desperdício de comida.
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FEIOS, NÃO. DIVERTIDOS, SIM: Alimentos "esquisitões" fotografados para o livro Taste the Waste, sobre desperdício de comida
“Legume tem que ter a cara bonita”, diz Inês Oliveira, de 33 anos, ao ver fotos dos legumes ao lado, numa manhã de compras em um supermercado de São Paulo. Ela não desconfia, mas, ao fazer essa ligação equivocada entre forma e conteúdo, contribui para o desperdício de alimentos do mundo. 

Um estudo divulgado no início deste ano pelo Institution of Mechanical Engineers, maior associação de engenheiros do Reino Unido, detectou que cerca da metade de tudo o que produzimos em alimentos vai direto para o lixo — algo que pesquisas parecidas já haviam apontado. Mas o que chama atenção no documento é que grande parte do desperdício é causado por mero preconceito estético. 

Os autores calculam que “30% do que é colhido nunca chega de fato ao mercado graças a descartes, controles de qualidade e dificuldade de atender a critérios puramente cosméticos”. A nutricionista Camila da Silva conhece bem essa realidade. Ela trabalha na ONG Prato Cheio, que redistribui alimentos descartados por supermercados entre instituições carentes — mais de 80% dos cerca de 600 quilos de legumes e frutas recolhidos por dia são reaproveitados. 

“O legume ou a fruta fora do padrão tem exatamente as mesmas propriedades que aqueles com aparência perfeita”, garante a nutricionista, lembrando que o desperdício atravessa toda a cadeia produtiva. Como o consumidor não gosta de legume feio, o supermercado não o coloca na prateleira, os distribuidores não os repassam para os supermercados e os produtores sequer colhem o produto que nasceu meio torto. Além do alimento propriamente dito, julgar pela aparência também leva ao desperdício de terra, água e combustível. 

É por isso que os engenheiros britânicos aconselham que os governos tenham “políticas que mudem a expectativa dos consumidores”, a fim de “desencorajar a rejeição de comida baseada em características visuais”. E estimam que, com alimentos mais caros, esse mau hábito vai ser cada vez menos viável. 

“O consumidor é apenas uma parte de toda a cadeia, mas repensar seus hábitos é um passo fundamental”, diz Denise Hamú, coordenadora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, um dos braços da ONU responsáveis pela campanha Think, Eat, Save (Pense, Coma, Poupe), lançada em janeiro para reduzir os índices de desperdício de comida no mundo. Uma das dicas é: “compre frutas divertidas — muitas delas são jogadas fora só porque seu tamanho, forma ou cor não são ‘certos’”. Então, dona Inês, da próxima vez não chame aquele legume de feio, mas de engraçado. 

Fonte: Revista Galileu. Por: Juliana Elias.

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