A iniciativa dos Estados Unidos de reduzir suas emissões de carbono envia aos setores empresariais e de energia a poderosa mensagem de que o país está se afastando do carvão para adotar a eficiência energética e as energias renováveis, afirmou Samantha Smith, do Fundo Mundial Para a Natureza.
O mundo aplaude o plano dos Estados Unidos de reduzir até 2030 o dióxido de carbono (CO2) lançado por suas usinas de energia em 30%, com relação às emissões de 2005. A medida, que a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) anunciou no dia 02/06/2014, é especialmente importante porque a indústria norte-americana é a principal emissora de gases estufa que provocam o aquecimento do planeta. Além disso, seu setor energético é o responsável número um dessas emissões no território do país, com 40% do total.
O Plano de Energia Limpa apresentado pela EPA assegura que a redução, explicada ao longo de um informe de 645 páginas, equivale à metade das emissões produzidas pela energia utilizada em cada família nos Estados Unidos durante um ano. O plano não precisa de aprovação do Congresso, que durante o governo de Barack Obama rejeitou toda iniciativa relacionada à mudança climática.
A EPA deixou os 50 Estados que integram o país com liberdade para decidirem como essas metas serão cumpridas. Entre as opções que os governos locais poderão aplicar estão melhora da eficiência energética, investimento em energias renováveis, impostos sobre o carbono ou a eliminação gradual das usinas de energia movidas a carvão.
Segundo a Administração de Informação Sobre Energia dos Estados Unidos, o carvão gerou 39% da energia consumida neste país em 2013, enquanto as energias renováveis, como a hídrica e a solar, representam somente 13%.
O Plano de Energia Limpa é a medida “mais forte já tomada pelo governo dos Estados Unidos na luta contra a mudança climática”, afirmou Connie Hedegaard, comissária da União Europeia (UE) de Ação Para o Clima. “É um passo importante para um presidente que está realmente investindo de maneira política na luta contra a mudança climática”, acrescentou.
“Esperamos muito tempo para ver quem seria o primeiro a passar pela porta da ação climática”, afirmou o embaixador das Ilhas Seychelles, Ronald Jumeau, porta-voz da Aliança de Pequenos Estados Insulares (Aosis). A elevação do nível dos mares causada pela mudança climática ameaça a existência de muitas dessas ilhas de baixa altura. “Historicamente, os Estados Unidos são o maior emissor de CO2 no mundo, e por isso é importante que tome a iniciativa”, ressaltou à Inter Press Service.
“Já é hora de outros países que são importantes emissores de carbono darem o passo”, como Japão, Canadá, Austrália, China e Índia, acrescentou o porta-voz. “Os pequenos Estados insulares se movem com rapidez para reduzir suas emissões e incentivam a todos que se somem a eles”, apontou. Vários países insulares do Pacífico pretendem gerar 100% de sua eletricidade a partir de energia renovável até 2020. Já em 2013 o pequeno país de Palaos, próximo à Nova Zelândia, se converteu no primeiro a atingir essa meta.
Outros países também reforçaram suas medidas. A China aumentou recentemente sua meta de energia renovável e proibiu a construção de novas centrais energéticas movidas a carvão em muitas áreas urbanas. Em meados de maio de 2014, o México elevou seu objetivo de geração mediante energia renovável de 15% para 25% até 2018.
O plano de Washington é parte de uma série de medidas adotadas recentemente por alguns países para reduzir as emissões, disse Samantha Smith, diretora da Iniciativa Para o Clima e a Energia do Fundo Mundial Para a Natureza (WWF). “Isso é muito animador e deveria inspirar outros a agirem”, destacou à IPS, de Oslo. Ao tomar uma forte postura pública sobre as emissões, os Estados Unidos enviam a poderosa mensagem de que o país está se afastando do carvão para adotar a eficiência energética e as energias renováveis, ressaltou a diretora, acrescentando que “já há mais e melhores empregos na indústria da energia solar norte-americana do que na de carvão”.
Segundo um estudo recente, a eficiência energética por si só vai gerar mais de 600 mil postos de trabalho especializados, reduzir a contaminação do ar, combater a mudança climática e economizar US$ 17 bilhões em energia. Muitos países estarão atentos para ver se a EPA poderá cumprir sua promessa devido ao contencioso terreno político em Washington.
A indústria do carvão e seus defensores no Partido Republicano tentarão bloquear a EPA, mas têm poucas probabilidades de êxito, opinou Alden Meyer, diretor de estratégia e política da União de Cientistas Preocupados, com sede em Washington. A medida da EPA para as usinas de energia é um sinal positivo dos Estados Unidos, mas não é suficientemente ambiciosa para impedir o aquecimento global acima dos dois graus, assegurou à IPS.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, quer que os governantes que participarem em setembro da Cúpula Climática de 2014 em Nova York assumam compromissos novos e maiores com relação à redução das emissões de carbono. “Ban Ki-moon deixou claro que quer compromissos e não discursos. Mas não está claro o que vai acontecer”, ponderou Meyer.
A UE é a região do mundo líder na redução das emissões, mas poderia e deveria fazer muito mais, afirmou Smith, acrescentando que “a UE já alcançou sua meta para 2020, mas não está disposta a ir além, quando poderia fazer mais com as energias renováveis e a eficiência energética”. A diretora do WWF espera que o anúncio dos Estados Unidos estimule a ambição da UE nos meses anteriores à discussão de um novo tratado climático em Paris, no próximo ano.
As metas de redução no curto prazo – até 2020 – são muito importantes do ponto de vista do investimento em energia, já que explicam o rumo que seguem os países ou as regiões, afirmou Smith. Igualmente importante é a realidade científica de que as emissões de carbono devem alcançar seu máximo antes de 2020 para que exista a possibilidade razoável de o aquecimento global permanecer abaixo dos dois graus.
Jumeau pontuou que seus colegas da Aosis têm um otimismo cauteloso. Sentem uma mudança de rumo com relação à preocupação pública sobre o aquecimento do planeta. “Todos sofrem em todo o mundo e cada vez fica pior. O público começa a se dar conta e ver as consequências e apoia as advertências dos cientistas”, enfatizou.
Por: Stephen Leahy (IPS).
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