Urubuservando A Situação

Alusão ao início da industrialização na Inglaterra.

O advento do modelo mecanicista no século XVIII - que impulsionou as primeiras máquinas a vapor na Inglaterra - foi o ponto de ignição para a Revolução Industrial, se espalhando pelo mundo nos anos seguintes acompanhada pelas transformações econômicas, sociais e políticas e permitiu ao homem a dominação dos meios de produção através do controle de mecanismos diversos. O tal modelo veio para o bem e para o mal, ditando as regras do nosso modo de vida contemporâneo e, sem sombra de dúvida, é responsável pela atual crise ambiental. A partir da deflagração da Primeira Guerra Mundial, em 1914, a humanidade deu um salto para o progresso e fez-se descobertas e inventos incríveis no campo da ciência e da tecnologia. 

Um futuro sombrio e decadente mostrado no filme "Blade Runner" (1982).

Tudo isso trouxe consequências positivas e negativas, encontramos a cura para várias doenças, porém, aumentamos absurdamente o padrão de consumo e a demanda por água e alimentos, além de poluirmos e degradarmos o meio ambiente a um ritmo bastante acelerado em questão de dez décadas. Estima-se que a cada ano 2,5 milhões de pessoas vão a óbito mundialmente em decorrência da poluição atmosférica. A impressão que se tem é que ao longo desse tempo fingimos não ter aprendido com as lições da história ou, de fato, não aprendemos absolutamente nada. 

Certamente, a ganância do ser humano ganhou espantosa voracidade e hoje a parcela 1% mais rica do mundo detém metade da riqueza global, criando uma disparidade social de tamanha proporção que põe em risco a sustentabilidade do planeta. Diferenças astronômicas entre grupos de indivíduos só geram fome e miséria, desequilíbrio que acarreta o uso oneroso e predatório dos bens fornecidos pela natureza e isso reflete em problemas econômicos (inflação, recessão, desemprego, etc.) - afetando a minha e a sua vida prática. 

Penso o seguinte: daqui adiante o homem deverá reavaliar sua postura no mundo e enxergar com olhos mais atentos para a realidade ao seu redor que está a urgir por atitudes de solidariedade e de cooperação, sendo assim uma maneira de criar uma cultura sustentável entre todos os povos da biosfera. Pode parecer utopia, mas se a espécie humana foi capaz de saltitar sobre a superfície lunar, ela também é capaz de pôr a virtude à frente do dinheiro para evitar desperdícios e minimizar impactos, fazendo valer a responsabilidade socioambiental. 

O urubu quando sobrevoa uma área observa o panorama em busca do seu sustento e não necessariamente encontra o melhor prato, no seu cardápio há apenas duas opções: lixo e restos mortais. Será que estamos preparados para mudanças tão radicais? O animal é adaptado àquela condição, nós não! O futuro já se anuncia trazendo a bordo possíveis novas transformações que talvez exijam de nós resiliência para nos adaptarmos e evoluirmos. Tudo vai depender de hábitos e tendências, mas nada garante que será em nosso benefício (tomara que seja).

Não se respeita ou não se preserva aquilo que não se compreende, portanto, educação ambiental é algo que deveria vir de berço e ser ensinada desde o nível fundamental com o intuito de formar adultos dotados de conhecimento sobre ecologia (ou ao menos noções básicas que guiem suas decisões). Ter consciência ecológica é importante para uma relação que dirá respeito às nossas ações e interações com tudo que nos cerca e com todos os seres vivos.

Por: Gustavo Nobio. Sustentabilista, comunicador ambiental, articulista e administrador de conteúdo da mídia online #SenhorEco. Técnico em Meio Ambiente pela FUNCEFET (RJ).