Aspiramos a uma vida mais plena. Para alcançar isso, precisamos acreditar na possibilidade do progresso. Se perdermos essa crença, sofremos uma espécie de morte: a existência sem desenvolvimento. Então devemos acreditar na vida. Em 1957, perto do fim de sua longa vida, o acadêmico, político radical e ativista dos direitos civis norte-americano William Du Bois (1868-1963) escreveu o que se tornou conhecida como sua última mensagem ao mundo. Sabendo que não tinha muito ainda por viver, redigiu um texto curto para ser lido em seu funeral. Na mensagem, Du Bois expressou sua esperança de que qualquer bem que tivesse feito sobrevivesse tempo suficiente para justificar sua vida, e que as coisas que deixou por fazer, ou fez de maneira imprópria, pudessem encontrar aperfeiçoamento e conclusão pelas mãos de outros.
"Sempre os seres humanos irão viver e progredir para uma vida maior, mais ampla e mais completa". Esta é uma declaração de convicção, em vez de uma declaração de fato. É como se Du Bois estivesse dizendo que devemos acreditar na possibilidade de uma vida mais completa ou na possibilidade do progresso, de sermos capazes de progredir. Nessa ideia, Du Bois mostrou a influência do movimento filosófico americano conhecido como pragmatismo, que afirma que o que importa não são apenas nossos pensamentos e crenças, mas também as implicações práticas deles.
Du Bois disse, ainda, que a "única morte possível" é perder a crença na perspectiva do progresso humano. Há também, aqui, alusões a raízes filosóficas mais profundas, voltadas para a antiga ideia grega de eudaimonia ou "florescimento humano" - para o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), isso envolvia viver uma vida de excelência baseada na virtude e na razão.
Ativista político
Martin Luther King (1929-1968) citou os textos de Du Bois como grande influência para sua decisão de se tornar um militante na batalha contra a segregação racial e pela igualdade social nos Estados Unidos. Du Bois considerava o racismo e a desigualdade social dois dos principais obstáculos a uma vida de excelência. Ele rejeitava o racismo científico - a ideia de que negros são geneticamente inferiores aos brancos -, predominante durante a maior parte de sua vida. Como a desigualdade racial não tem base na ciência biológica, ele a considerava um problema puramente social, que só poderia ser tratado por meio do compromisso e do ativismo político e social.
Du Bois foi incansável em sua busca por soluções para o problema de todas as formas de desigualdade social. Ele argumentava que ela era uma das principais causas da criminalidade, afirmando que a carência de educação e emprego está relacionada com os altos níveis de atividade criminal. Em sua mensagem, Du Bois lembrou-nos que a tarefa de alcançar uma sociedade mais justa está incompleta. Ele afirmou que cabe às gerações futuras acreditar na vida, a fim de que possamos contribuir para a concretização do "florescimento humano".
Sobre William Du Bois
Revelou-se uma excepcional promessa acadêmica desde jovem. Ganhou uma bolsa na Universidade Fisk e passou dois anos na Alemanha, estudando em Berlim, antes ingressar em Harvard, onde escreveu uma dissertação sobre o tráfico de escravos. Foi o primeiro afro-americano a se graduar em Harvard com um doutorado.
Em paralelo à carreira ativa como professor universitário e escritor, Du Bois envolveu-se no movimento dos direitos civis e na política racial. Às vezes, seu julgamento político foi posto em dúvida: numa ocasião célebre, escreveu um ardente panegírico depois da morte do ditador soviético Josef Stálin (1879-1953).
De qualquer modo, Du Bois permanece uma figura importante na luta pela igualdade racial, graças ao que Martin Luther King chamou de "insatisfação divina com todas as formas de injustiça".
Fonte: The Philosophy Book (DK UK). Tradução: Douglas Kim.
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