Quase 40 vencedores de prêmios Nobel recomendam que os governos ajam imediatamente para reduzir emissões de gases de efeito estufa e minimizar os riscos das mudanças climáticas. Os cientistas, participantes da reunião anual de laureados com o Nobel em Mainau, na Alemanha, compararam os riscos das mudanças no clima à ameaça das armas nucleares. "Há quase 60 anos, aqui em Mainau, uma reunião semelhante de laureados com o Nobel de ciência lançou uma declaração sobre os perigos inerentes à então recém-desenvolvida tecnologia das armas nucleares. Até agora, temos evitado a guerra nuclear, embora a ameaça seja permanente. Acreditamos que nosso mundo hoje enfrenta outra ameaça de magnitude comparável", diz a declaração, assinada por 36 dos 65 participantes do encontro.
O documento ressalta a importância de os governos agirem imediatamente e firmar um acordo decisivo em Paris, [em dezembro de 2015], com o esforço conjunto de todas as nações, desenvolvidas ou em desenvolvimento. "A omissão sujeitará as futuras gerações da humanidade ao risco inconcebível e inaceitável", diz o texto. A declaração cita a responsabilidade dos cientistas quanto à questão, uma vez que o progresso da ciência também gerou aumento do consumo de recursos naturais. "Se não for controlada, a demanda crescente por alimentos, água e energia acabará por superar a capacidade da Terra para satisfazer as necessidades da humanidade, e vai levar a tragédia humana por atacado."
Os cientistas também alertaram para a necessidade de ação urgente em relação às populações mais vulneráveis a eventos extremos, em especial países e comunidades pobres do planeta. David Gross, Nobel de Física em 2004, um dos porta-vozes da declaração, relatou sua recente experiência em Ladakh, na Ásia. "São comunidades frágeis, muito dependentes dos rios que brotam das geleiras do Himalaia, e eles são os que sofrem em primeiro lugar." O físico também aponta o risco de conflitos motivados pelos eventos extremos e escassez de recursos.
A declaração reafirma a importância das conclusões do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], embora ainda aja incerteza entre alguns cientistas sobre as consequências das mudanças no clima. "Apesar de não ser perfeito, acreditamos que os esforços que levaram ao relatório representam a melhor fonte de informações sobre o estado atual do conhecimento sobre as mudanças climáticas", diz a declaração. "Nós não falamos como especialistas na área, mas como um grupo diverso de cientistas que têm um profundo respeito e compreensão da integridade do processo científico."
Sobre as dúvidas acerca da ciência do clima, o Nobel de medicina Peter Doherty separa ceticismo de negação. "Se você é cético, conversa com outros pesquisadores, olha para os dados. Se está em negação, simplesmente rejeita tudo o que é publicado." Em uma crítica aos céticos do clima nos Estados Unidos, em especial aos políticos que advogam contra a causa no país, Steven Chu, Nobel de Física e ex-secretário de Energia dos EUA, argumenta que os satélites mostram claramente a diminuição das geleiras em todo o mundo. "Mas há pessoas no Congresso que não querem olhar para imagens de satélite. Isso é o que eu chamo de negação."
Por: Cíntya Feitosa (Observatório do Clima).
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