Apesar do discurso favorável às fontes energéticas renováveis, os países mais desenvolvidos do mundo ainda preferem os combustíveis fósseis. Entre 2013 e 2014, o G20 destinou US$ 452 bilhões à produção de petróleo, gás e carvão, quase quatro vezes mais do que todo o investimento global em energia eólica, biomassa e solar.
O estudo Empty Promises [promessas vazias], assinado pelo Instituto de Desenvolvimento Ultramarino (ODI, na sigla em inglês) e pela organização Oil Change International lembra que, em 2009, todos os países do G20 comprometeram-se em eliminar gradualmente subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis. A promessa foi reiterada no ano passado.
Para evitar que a temperatura global aumente mais do que 2 graus Celsius, pelo menos 75% das reservas de petróleo, gás e carvão devem ser mantidas abaixo do solo.
No entanto, todos os países do G20 continuam investindo na produção de combustíveis fósseis. Os subsídios nacionais somam US$ 78 bilhões. Empresas estatais fornecem US$ 286 bilhões. As finanças públicas, por sua vez, trazem US$ 88 bilhões.
Derrame de petróleo em Hong Kong (2007). |
A China foi a campeã em investimentos em combustíveis fósseis — destinou a eles mais de US$ 77 bilhões. Os EUA aplicaram mais de US$ 20 bilhões, mesmo com os apelos do presidente Barack Obama contra o uso de petróleo, gás e carvão. O Brasil enviou US$ 5 bilhões para a exploração de combustíveis fósseis em áreas "cada vez mais distantes e difíceis".
— Mesmo países com boas políticas internas para a retirada do carvão da economia, como a Alemanha, continuam apoiando a produção de combustíveis fósseis no exterior — lamenta Shelagh Whitley, pesquisadora da ODI e coautora do relatório. — A Petrobrás investiu US$ 3,8 bilhões entre 2013 e 2014 em operações internacionais de exploração, produção, petroquímica, distribuição, óleo e energia em 12 países.
O documento destaca que as usinas hidrelétricas geram 75% da eletricidade do Brasil. No entanto, a estiagem de 2015 — a pior dos últimos 40 anos — aumentou a dependência do país em relação aos combustíveis fósseis.
Whitley assinala que a produção das companhias de petróleo é altamente dependente dos governos. O G20 dá subsídios anuais de US$ 19 bilhões para esta atividade econômica. É praticamente o dobro da quantia investida por ano (US$ 10 bilhões) pelas vinte maiores empresas voltadas ao ramo dos combustíveis fósseis.
— Os governos do G20 estão pagando aos produtores de combustíveis fósseis para minar suas próprias políticas de mudanças climáticas — critica. — Acabar com estes subsídios reequilibraria os mercados de energia e permitiria a igualdade de condições para alternativas limpas e eficientes.
A pesquisadora, porém, é otimista. Whitley assinala que, em setembro, os presidentes de EUA e China divulgaram uma declaração conjunta sobre mudanças climáticas. O mandatário chinês, Xi Jinping, comprometeu-se a reforçar as normas de Pequim "com o objetivo de controlar investimentos públicos em projetos sobre as altas taxas de poluição e emissões de carbono, tanto nacional como internacionalmente".
— Podemos esperar um futuro livre de carbono, e acho que isso vai acontecer mais cedo do que pensamos — anuncia. — Espero que daqui a cinco anos tenhamos mais apoio, inclusive de empresas, e investimento tecnológico em projetos de eficiência energética. As alternativas aos combustíveis fósseis estão cada vez mais acessíveis.
Por: Renato Grandelle (O Globo).
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