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Visitação: Mais Endorfina, Menos Cortisol

Parque Nacional do Pau Brasil. Foto: Luciano Candisani.

Um questionamento contemporâneo é o estilo de vida que levamos, a rotina atribulada, a agenda densa, a carga de trabalho de no mínimo oito horas e cinco dias na semana, hierarquias rígidas, os desestímulos recorrentes, o pouco tempo para viver e outras tensões diárias. O cortisol, conhecido como hormônio do estresse, tem sido convidado com frequência para a vida das pessoas, com prejuízos ao bem-estar duradouro. 

Ao contrário, as unidades de conservação da natureza geram oportunidades para produção de endorfina, o hormônio do prazer. Elas alteram o estado de espírito do visitante para uma condição aberta à reconexão com o natural, permitem-lhe se inspirar para se reinventar e transformar seu estilo de vida. Mas isso pede a implantação do uso público nas UCs: abrir áreas naturais protegidas à visitação, implantar estruturas e serviços de apoio ao visitante e instrumentos de gestão e participação social. Significa ofertar ao público experiências inesquecíveis para produção de endorfina, bem-estar, inspiração, conexão e centenas de outras vivências sensoriais positivas. 

O direcionamento atual brasileiro para o uso de UCs privilegia os visitantes que gostam de atividades extremas, como escaladas e trilhas longas. O desafio dos gestores de unidades de conservação, portanto, é conectar visitantes de todos os perfis à essência desses lugares. 

Procura-se visitantes, radicais ou curtidores 

Visitante pratica yoga no Parque Estadual da Serra da Tiririca, Niterói, RJ. Foto: Enrico Marone.

É fácil reconhecer nos parques visitantes dispostos a uma longa caminhada, em áreas pouco acessadas, repletas de obstáculos e com paisagens naturais de tirar o fôlego. Esse perfil se enquadra no de uma pessoa sozinha até um grupo de dois ou três, no máximo, e pode ser classificado como ‘convertidos’. Embora esses visitantes sejam importantes, a visitação das áreas protegidas brasileiras precisa ser mais democrática. Afinal, todos têm direito de perder o fôlego diante de paisagens pujantes, desde pais com seus filhos, avós com seus netos, grupos da terceira idade, portadores de necessidades especiais, religiosos e outros públicos interessados. 

A acessibilidade até o parque e dentro dele é quesito indispensável para que isso ocorra, o que na prática significa oferecer estruturas e serviços de apoio adequados a um público eclético. 

Preparando a casa para visitas 

A essência de uma visita a uma unidade de conservação é a interação com a natureza. Procura-se um contato direto com o meio ambiente, como aquele proporcionado por banhos de rio, lago, cachoeira ou mar, piqueniques, caminhadas, pernoites ao ar livre, pedaladas, saltos de voo livre, surfe, corridas de aventura, escaladas, mergulho e outras atividades. Por isso, uma boa infraestrutura de visitação em unidades de conservação é aquela que permite essa variedade de atividades. Dentre as primeiras ações básicas, destacam-se estradas e trilhas bem sinalizadas e demarcadas. 

Vencida a primeira barreira, que são as estradas e, principalmente, as trilhas, os outros equipamentos devem ser implementados aos poucos, em sintonia com a demanda criada pelo uso. Locais para piqueniques, bancos, quiosques, mirantes, espaços apropriados para acampamento e abrigos de montanha podem ser construídos e administrados pelas próprias instituições gestoras das áreas protegidas. Já pousadas, lanchonetes e restaurantes, lojas de aluguel e venda de equipamentos (como bicicletas, mochilas, barracas etc.), dentro ou no entorno imediato de uma UC, podem ser viabilizados por meio de concessões ou atividades terceirizadas, para incentivar a economia das comunidades próximas e ajudá-las a gerar emprego e renda. 

Mais visitação, menos conflitos 

A prática sugere que a visitação e atividades do público nos parques complementam os esforços tradicionais de fiscalização para inibir a caça, impedir o extrativismo e reduzir conflitos com comunidades. O componente de gestão ‘uso público’ fortalece os laços da UC com pessoas, instituições e territórios e, por isso, não pode ser adiado ou preterido dentro das prioridades de gestão.

Por: Adriano Melo e Pedro da Cunha e Menezes (O Eco).

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