A Oceana lançou um novo relatório destacando o potencial do Global Fishing Watch (em português: Sistema Global de Observação da Pesca) de visualizar as atividades pesqueiras em áreas marinhas protegidas (AMPs) em todo o mundo. Especificamente, o relatório mostra que o GFW - que é resultado de uma parceria entre SkyTruth, Oceana e Google - pode monitorar o sucesso ou fracasso de medidas de controle da atividade pesqueira em áreas protegidas. Essa ferramenta, o Global Fishing Watch, documentou o sucesso da Área Protegida das Ilhas Fênix (também conhecida como PIPA) mostrando uma redução drástica na atividade pesqueira após as medidas que estabeleceram a proteção daquela região.
Sobre o Global Fishing Watch
O GFW, que estará disponível ao público ainda em 2016, disponibiliza e analisa os dados do Automatic Identification System - AIS (em português: Sistema de Identificação Automática), que transmite a identidade de um navio, além de dados como sua localização, velocidade e direção. O AIS é um sistema de rastreamento utilizado por mais de 200 mil embarcações em todo o mundo e foi desenvolvido como um mecanismo de segurança para evitar colisões no mar. As informações sobre o comportamento de pesca do navio podem ser modeladas pelo GFW. Isso gera em uma transparência da atividade pesqueira comercial global sem precedentes para todas as partes interessadas, incluindo cidadãos, governos, gestores da pesca, cientistas e membros da própria indústria pesqueira.
"O Global Fishing Watch fornece a primeira visão global da atividade da pesca comercial", afirma Jacqueline Savitz, vice-presidente da Oceana nos EUA. "Esta tecnologia permitirá que qualquer pessoa monitore a atividade pesqueira global em tempo real e sem custo, o que permitirá melhorar a transparência e rastreabilidade da frota pesqueira global. Permitirá que os jornalistas rastreiem navios suspeitos, que cientistas estudem as interações entre pescarias e processos oceanográficos, que governos fiscalizem medidas destinadas à recuperação de pescarias e fornecerá aos cidadãos, ONGs e ativistas as informações necessárias para poder cobrar ações dos gestores e governos com relação ao manejo responsável das pescarias".
Segundo Monica Brick Peres, diretora geral da Oceana no Brasil, “o GFW trará benefícios ambientais e socioeconômicos enormes. A pesca ilegal é um dos maiores impactos sobre a vida marinha. O que muitos não sabem é que a pesca ilegal gera também prejuízos socioeconômicos para a frota legalizada, que acaba tendo custos mais altos e recebendo menos por seu produto no mercado. Por isso, acho que teremos o apoio e o entusiasmo de todos aqueles que pescam dentro das regras. Muitos países que investem em transparência já estão disponibilizando outros tipos de sinais de localização dos barcos de pesca de seus países para o GFW, ampliando o controle social sobre a pesca ilegal em suas águas”. Por isso, diz Peres, em minha opinião, “será uma das ferramentas abertas mais importantes para combater a pesca ilegal em nível mundial. É uma ideia simples, mas genial. Haverá um dia em que muitos de nós diremos 'como vivemos até 2016 sem o GFW?'”
Em 11/03/2016 foi publicado um artigo na revista Science intitulado Ending hide and seek at sea (em português: “Acabando com o 'esconde-esconde' no mar"), de autoria de cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e da Universidade Dalhousie. O artigo, que foi desenvolvido em parceria com a Oceana, SkyTruth e Google, demonstra o potencial de ferramentas como o GFW para "criar perspectivas abrangentes da utilização humana dos oceanos que irão permitir uma nova era de governança marítima e ciência espacialmente ambiciosas".
"Utilizando dados do GFW, nós podemos finalmente começar a avaliar se essas enormes áreas marinhas protegidas estão sendo fiscalizadas corretamente e realmente ajudando a fauna marinha - ou se são simplesmente linhas ineficazes desenhadas no mapa", afirmou o Dr. Douglas McCauley, principal autor do artigo da revista Science e professor assistente na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara.
PIPA foi designada como uma AMP em 2006 pela República de Kiribati, uma país na região central do Oceano Pacífico e uma das maiores reservas marinhas do mundo (aproximadamente do tamanho da Califórnia). Entre 2008 e 2014, a pesca comercial era proibida em apenas 12% da área de PIPA , mas a partir de 1º de janeiro de 2015 o presidente Tong proibiu a pesca comercial em 100% da área da reserva. O GFW permitiu à Oceana monitorar a atividade pesqueira na PIPA, revelando uma diminuição marcante do número de navios pesqueiros detectados após a implementação da nova política de proibição da pesca.
"Quando políticas consistentes, monitoramento efetivo e fiscalização eficazes trabalham juntos, podemos realmente proteger os ecossistemas importantes do oceano," afirma Jacqueline Savitz, vice-presidente da Oceana nos EUA. "Com a proibição de pesca na PIPA, as embarcações de pesca comercial parecem ter ido para outros lugares, dando oportunidade para que atuns e outros estoques importantes de peixes se recuperem e repovoem outras áreas de pesca. Se utilizarmos esta poderosa combinação de política, monitoramento e controle nas AMPs, podemos proteger ecossistemas marinhos importantes da devastação causada pelas pescas excessiva e ilegal".
Sobre a PIPA
Localizada no meio do Oceano Pacífico entre o Havaí e a Nova Zelândia, PIPA é lar de um dos peixes mais apreciados – o atum. Nessa área vivem também pelo menos oito espécies de tubarões, mais de 500 espécies de peixes de recifes, 200 espécies de corais e muitos mamíferos marinhos, como golfinhos-nariz-de-garrafa e golfinhos-comum. A reserva inclui várias montanhas submarinas ou vulcões submersos extintos, que atraem uma abundância incrível de vida marinha, incluindo grandes peixes pelágicos (que vivem na coluna d’água).
Sobre a Oceana
A Oceana foi criada em 2001 para trabalhar exclusivamente na proteção e recuperação dos oceanos em escala global, por meio de campanhas e estudos científicos. A organização já conquistou mais de 100 vitórias para os oceanos ao redor do mundo. A Oceana está presente em sete países e na União Europeia, que, juntos, são responsáveis por mais de 40% da produção de pescado do mundo; ela atua no Brasil desde julho de 2014.
Por: Gabriela do Vale (Oceana).
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