A mudança climática já está afetando e afetará ainda mais nos próximos anos a prática de esportes no Brasil. Como ficou evidente ainda nos eventos-teste para a Olimpíada do Rio, o calor excessivo tende a prejudicar o desempenho dos atletas, impedindo a quebra de recordes. Em casos extremos, colocará suas vidas em risco.
Essa é a principal conclusão do relatório Mais Longe do Pódio – Como as Mudanças Climáticas Afetarão o Esporte no Brasil, lançado pelo Observatório do Clima, que coletou dados de pesquisas sobre o tema ao redor do mundo e ouviu médicos do esporte, preparadores físicos e atletas.
Além da maior atenção e tecnologia voltada à saúde e à adaptação térmica dos atletas antes, durante e depois das competições, as mudanças climáticas estão impondo alterações nos calendários e horários das provas. Nesta Olimpíada, por exemplo, os seis jogos de futebol da Arena da Amazônia, em Manaus, foram remanejados para as 18 horas devido ao forte calor das 13 horas, horário previsto inicialmente. Na Copa de 2014, duas partidas precisaram de tempo técnico quando a chamada temperatura de bulbo úmido nos estádios de Fortaleza e Manaus atingiu 32° Celsius.
No caso da Rio2016, os eventos-teste já mostraram o impacto do aquecimento global. Em pleno inverno, triatletas da prova masculina largaram sob um calor de 35°C e uma umidade relativa do ar de 70%. Na prova de marcha atlética, realizada em um final de semana de fevereiro com 41% de umidade do ar e temperatura de 38°C, 11 dos 18 participantes sucumbiram. Em 2015, um jogo de futebol feminino no Piauí precisou ser interrompido depois que nove jogadoras passaram mal por excesso de calor.
No futuro, caso não se cumpram as metas do Acordo de Paris, essas cenas deverão se tornar mais comuns. O relatório usou dados de modelos globais de clima para montar um mapa do risco à prática esportiva nas capitais brasileiras no final do século. A conclusão é que, no pior cenário de emissões estabelecido pelo IPCC (o painel do clima da ONU), 12 delas terão períodos do ano impróprios à prática de qualquer atividade física ao ar livre – em Manaus, caso extremo, a restrição ocorrerá no ano inteiro.
“O que esses dados mostram é que o risco de atletas literalmente morrerem de calor, algo que já acontece hoje, será multiplicado no Brasil nas próximas décadas caso não se reduzam dramaticamente as emissões globais”, disse Claudio Angelo, do Observatório do Clima, coordenador do relatório. “É claro, estamos falando de esportes aqui, mas na verdade qualquer trabalho ao ar livre poderá ser impactado, o que demandará um esforço brutal de adaptação do setor de esportes e de outras atividades econômicas.”
“Os atletas já estão sentindo os efeitos das mudanças climáticas na prática. Daí a importância da campanha ‘1,5° C: o recorde que não devemos quebrar’, a qual chama a atenção para o limite máximo de aquecimento global que podemos suportar. Acima disso, o risco é grande demais”, alerta Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Associada à saúde, a prática de esportes pode se tornar exatamente o oposto por conta da poluição atmosférica, problema que tem a mesma origem do aquecimento global: a queima dos combustíveis fósseis. Como o volume respiratório aumenta durante os exercícios, o atleta – profissional ou amador – pode tragar mais dióxido de enxofre, particulados finos e outros compostos que provocam danos imediatos aos pulmões. Especializado em atividade física adaptada, Luzimar Teixeira, da Escola de Educação Física e Esporte da USP, prevê uma geração relativamente jovem de ex-atletas com problemas respiratórios graves, como se fossem doenças laborais. E, sarcástico, avisa que em dias quentes e locais poluídos, é mais saudável sair para beber cerveja (à sombra) do que fazer esportes ao ar livre. Ou seja, não são só os atletas de elite que participam das grandes competições que precisam se cuidar: esportistas amadores e de final de semana precisam igualmente rever onde e quando praticam atividades físicas.
Fonte: Observatório do Clima.
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