No final do ano de 2016, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é a responsável por analisar o risco de agrotóxicos para a saúde humana, divulgou o resultado de uma pesquisa que analisou resíduos de pesticidas em 12 mil amostras de alimentos durante três anos. O objetivo era verificar se os produtos apresentavam nível de agrotóxicos dentro dos limites máximos de resíduos estabelecidos pela Anvisa.
O resultado mostrou que 99% das amostras estavam dentro dos limites permitidos. Foram avaliados cereais, leguminosas, frutas, hortaliças e raízes, totalizando 25 tipos de alimentos, que representam mais de 70% dos vegetais consumidos pela população.
Vale dizer que países como a França já proibiram um dos agrotóxicos mais usados no Brasil: o herbicida glifosato. Em 2009, a União Europeia já havia adotado o princípio da precaução como norma e proibiu a pulverização aérea de agrotóxicos. E os Estados Unidos já aboliram mais de 200 princípios ativos de pesticidas desde 1996.
Pesquisa do IBGE divulgada em 2015 concluiu que, nos 10 anos anteriores, o uso de agrotóxicos tinha aumentado 150%. Hoje, o Brasil consome cerca de um milhão de toneladas desses produtos por ano.
A médica sanitarista Jandira Maciel da Silva, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que existem poucas informações sobre o uso dos agrotóxicos pelos pequenos produtores que, em geral, não sabem informar a quantidade e a periodicidade do manuseio dos pesticidas, o que dificulta diagnóstico relativo a queixas sobre problemas de saúde como formigamento no corpo, fraqueza, impotência sexual e outras.
"Precisamos avançar na notificação compulsória de problemas causados por agrotóxicos. Mas, para isso, temos que melhorar a capacitação dos profissionais de saúde e o diagnóstico", comenta a médica, que participou de audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados.
Se não forem usados como manda o fabricante, segundo a professora da UFMG, os agrotóxicos podem causar sérios riscos à saúde do consumidor e principalmente do trabalhador do campo, como câncer, malformações de fetos e outros. Dependendo do tipo de exposição, podem até matar. O problema é que muitos especialistas afirmam que não existe uso seguro para agrotóxicos, principalmente pelos pequenos agricultores.
Leite contaminado
José Luiz Paixão, professor do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, na cidade de Muriaé, aproveitou a audiência para apresentar dados relativos ao uso de produtos veterinários contra pragas e doenças, também considerados agrotóxicos por ele.
Segundo o especialista, em 2012, mais de 90% das amostras de leite produzidas no sudoeste e sul da Bahia apresentaram resíduos acima do considerado normal do antibiótico oxitetraciclina. "É um perigo subestimado, já que nenhum agricultor compra produto veterinário com nota fiscal e receituário", alerta o professor.
Fonte: Revista Encontro.
Estudo mostra que brasileiros ingerem doses de agrotóxicos acima do permitido
A dieta dos brasileiros é rica em agrotóxicos, inclusive os mais tóxicos. Ao cruzar os dados sobre o que come habitualmente a população brasileira com a lista de agrotóxicos autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a serem aplicados na agricultura, uma pesquisa realizada na USP identificou 68 compostos que excedem o valor de ingestão diária aceitável de acordo com limites estabelecidos pela própria Anvisa.
Entre os 283 agrotóxicos verificados, o brometo de metila – pertencente à classe dos inseticidas, formicidas e fungicidas e listado como extremamente tóxico – foi a substância com maior estimativa de frequência nos alimentos. Os resultados fazem parte da dissertação de mestrado de Jacqueline Mary Gerage, defendida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em 2016. A ideia foi avaliar o risco de exposição crônica de agrotóxicos na dieta da população, levando em conta o uso regular dessas substâncias em cultivos como arroz, feijão, soja e frutas.
O brometo de metila é um gás que age como inseticida para desinfestação de solo, controle de formigas e fumigação de produtos de origem vegetal. Mata insetos, fungos e bactérias, ervas daninhas ou qualquer outro ser vivo presente no solo. Embora seja usado rotineiramente na agricultura, Jacqueline Gerage explica que o produto é altamente prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente. "Seu uso está em descontinuação global por causar danos à camada de ozônio e provocar riscos à saúde de trabalhadores rurais e moradores de regiões próximas às áreas de produção agrícola", esclarece a pesquisadora. Em 1990, na assinatura do Protocolo de Montreal, houve um comprometimento de 180 países para diminuir o uso de produtos semelhantes ao brometo de metila na agricultura. O Brasil aderiu ao tratado internacional com a promessa de diminuir gradualmente o manejo ao longo dos anos.
Metodologia
Baseada em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Jacqueline obteve os alimentos que compunham a dieta habitual de 33.613 brasileiros, com idade superior a 10 anos. Foram considerados 743 itens alimentares. Em seguida, a pesquisadora buscou informações na Anvisa sobre a quantidade de agrotóxicos que era autorizada para cada tipo de alimento a ser analisado, chegando a 283 compostos. Destes, a mestranda da USP verificou que 68 excediam o valor máximo permitido pela agência.
Apesar de este tipo de exposição não ter sido avaliado por meio da pesquisa, a especialista ressalta que na área rural há também os riscos de intoxicação aguda envolvidos com a aplicação destes produtos, ao inalar ou manipulá-los diretamente.
Fonte: Revista Encontro.
0 comentários:
Postar um comentário