Caso de sucesso, o Corredor ecológico no Pontal do Paranapanema, na Mata Atlântica do oeste paulista, é exemplo de como o Brasil pode avançar na restauração. Na foto à esquerda, a situação em 2011, antes do corredor; e à direita, como ficou depois da restauração, com o corredor de 800 hectares margeando o rio e unindo os fragmentos de floresta. Clique para ampliar!
Muito se fala em reflorestamento, mas menos em restauração florestal. Por trás disso, organizações e movimentos ambientais já se articulam para desenvolver projetos para restaurar florestas e áreas verdes. Na opinião de especialistas ouvidos pelo site ((o))eco, o Brasil pode ser um líder na área de restauração.
Na opinião do diretor do Programa de Pessoas e Ecossistemas do World Resources Institute (WRI), Craig Hanson, a restauração florestal é uma das estratégias deixada de lado na hora de discutir o combate às mudanças climáticas.
O assunto foi tema de um encontro promovido pelo BNDES para reunir projetos apoiados pela iniciativa Mata Atlântica do banco e pela Linha Florestal Mata Atlântica, nos dias 21 e 22 de novembro de 2017.
“As nações se desenvolvem, cortam suas florestas para abrir zonas para a agricultura e o setor industrial, mas a sociedade passa a reconhecer o valor que as florestas oferecem como a água potável e começam a restaurar suas florestas. Não há uma lei, mas há um padrão. A cobertura florestal recua, se estabiliza e depois se restaura”, disse Hanson. São muitas as definições de restauro florestal, mas o grande significado é restaurar os processos ecológicos de uma floresta. “É dar vazão para o processo natural e de resiliência. Em alguns lugares, é preciso acabar com as queimadas, retirar o gado ou abrir espaço para florestas próximas se expandirem. Algumas vezes, é preciso de fato plantar espécies e deixar a natureza tomar o controle. Não há uma única resposta. Mas é preciso dar tempo e uma chance para a floresta recuperar-se”.
Em busca de um plano nacional
O Brasil ainda está em fase de elaboração de seu rascunho zero de um plano nacional de restauração de paisagens florestais. O esforço está em fase inicial com encontros de ONGs que ajudam membros do governo a delinear estratégias para serem incluídas neste rascunho. Mesmo com ano de eleições, membros da sociedade civil e governo se mostram otimistas para lançar a política nacional até final de 2014.
Na opinião de Miguel Calmon, gerente sênior do programa de restauração florestal da IUCN, sediada em Washington, o plano brasileiro deve conter estratégias, diretrizes e formas de implementação a serem postas em prática ao longo de uma década. “O Estado deve liderar esse processo. O plano é pensado para 10 anos, com revisão a cada cinco para se ter resultados concretos”, disse a ((o))eco.
A restauração tem uma função múltipla na paisagem e pode armazenar carbono reduzindo em 25% ou mais a emissão de gases de efeito estufa.
(da esq para dir) Carlos Alberto Scaramuzza, diretor de conservação da biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente; Márcio Macedo Costa, área de meio ambiente do BNDES; Miguel Calmon, IUCN; Craig Hanson, World Resources Institute.
No entanto, restaurar não sai barato. Se existem florestas isoladas nas proximidades de uma área degradada, é possível recuperar a mata facilmente e com baixo custo. “É mais caro plantar cada uma das árvores, mas alguns países tiveram que fazer isso”, afirmou Calmon. O Brasil desenvolve um processo misto, em alguns lugares o solo é bom, há chuva suficiente e às vezes há florestas nas proximidades. “Assim é possível expandir e ter uma regeneração natural. Mas há outros lugares, como na Mata Atlântica, nos quais não há muita floresta e existe alta fragmentação. Nesses casos, é preciso replantar”.
Na opinião de Calmon da IUCN, a restauração pode se tornar um bom negócio para os proprietários de terra antenados na necessidade de conservar as suas áreas verdes.
“O Brasil tem milhões de áreas degradas de terras que não geram nenhum tipo de riqueza, degradam o meio ambiente, deixam as áreas mais vulneráveis, impactam na qualidade da água. Precisa-se de um investimento grande, mas que traz rendimentos e benefícios de longo prazo”, disse Calmon.
Para ele, a restauração tende a ser um novo vetor de desenvolvimento nas áreas que em que é realizada, pois é capaz de alavancar uma economia florestal de geração de emprego e renda. “Falta acreditar que a restauração é um bom negócio. Se isso ficar claro, todo o resto vem atrás”, disse Calmon.
Para quem vê de fora, o Brasil está seguindo na direção certa. Hanson afirma que o país já reúne pensadores sobre o tema da restauração de florestas tropicais e o conhecimento técnico existe.
Corredor florestal da Mata Atlântica
A Mata Atlântica figura como um dos biomas mais ameaçados, do qual resta menos de 10% de sua cobertura original. A conservação da biodiversidade é um desafio ainda mais difícil quando se trata da floresta semidecidual do extremo oeste do estado de São Paulo, o Pontal do Paranapanema. Lá restam apenas 1,4% da floresta remanescente na região.
É uma área onde assentados da reforma agrária e sem-terras, grandes latifundiários pecuaristas, indústria da cana de açúcar e hidrelétricas no rio Paraná e no rio Paranapanema disputam espaço e criam pressões formidáveis sobre as Unidades de Conservação locais.
“Lá temos fragmentos florestais que ficaram isolados nessa paisagem hostil”, disse a ((o))Eco Laury Cullen, coordenador de projetos e pesquisas ecológicas do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). Somente a UHE Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera, no rio Paraná, tem uma barragem gigante de mais de 10 km de comprimento e um reservatório de 2.250 km2 (quilômetros quadrados).
Há uma década o IPÊ decidiu lançar-se ao desafio de criar um corredor florestal que reconectasse duas UCs, a Estação Ecológica do Mico Leão Preto (com 6 mil hectares) e o Parque Estadual do Morro do Diabo (com 37 mil hectares).
Um mapa ideal
O projeto de corredores florestais é conhecido como o “mapa dos sonhos” para a região onde a meta inicialmente era formar um corredor de 800 hectares. “A gente quer ver essa paisagem que hoje é isolada religada. Dentro de um modelo de conservação de longo prazo, queríamos montar uma equação que pudesse colocar na paisagem todos os atores”, disse Cullen.
Hoje as duas ilhas de biodiversidade já estão reconectadas. A última árvore foi plantada em outubro deste ano. As equipes do IPÊ e da comunidade local aproveitaram os cursos de água e ampliaram as áreas de conservação ao longo dos rios, assim como utilizaram as áreas de reserva legal, pastagens degradadas e áreas de baixa aptidão agrícola.
No meio do caminho entre uma UC e outra havia pastagens. “Usamos solos diferentes que, somados, permitiram esse corredor ecológico. O eixo principal passava por duas grandes propriedades”, disse Cullen.
Restaurar não foi barato e para que a ambição do IPÊ se concretizasse foi necessário concorrer a inúmeros editais e conquistar parceiros como o BNDES, a Duke Energy, a Companhia Energética de São Paulo (CESP) e a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP).
Só o BNDES financiou R$ 3,6 milhões para a recuperação de 200 hectares e o plantio de 400 mil mudas de espécies nativas.
O custo médio de restauração florestal do programa variou entre R$ 10 a 15 mil por hectare. Ao longo de 800 hectares, a conta saiu entre R$ 8 e 12 milhões.
Este é considerado o maior corredor florestal restaurado já implementado na Mata Atlântica brasileira, orgulha-se Cullen. O desafio será manter a fiscalização nos próximos anos e monitorar queimadas e tentativas de invasão.
A ambição não para por aí. O passivo ambiental na região é de quase 70 mil hectares, isto é, 70 mil campos de futebol. Agora Cullen e seus colegas do IPÊ querem reconectar todos os fragmentos florestais ali existentes.
Por: Fabíola Ortiz (O Eco).
1 comentários:
Essas lacunas que os pecuaristas exigiram,comprometem os corredores,os micos não irão atravessar o pasto.
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