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Gestão de Lixo: Revolução 4.0 e Criatividade Empurram Sociedade Para Um Modelo Circular

Em 2016, mais de 29 milhões de toneladas de lixo urbano foram parar em lixões irregulares ou aterros controlados – locais que não possuem medidas seguras para impedir a poluição e contaminação, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE). Além da grande geração de lixo, o índice de reciclagem ainda é muito baixo e se encontra estagnado há muitos anos. Segundo o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), o levantamento de 2016 apontava que apenas 31 milhões de brasileiros (15% da população) tinha acesso a programas municipais de coleta seletiva. A aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em 2010 tentou resolver alguns desses desafios. No entanto, mesmo quando a lei foi implementada em 2014, poucas coisas mudaram de fato quanto ao lixo. 

O que é preciso para mudar a gestão de resíduos sólidos no Brasil? Talvez a tecnologia seja um dos expoentes dessa mudança. Carlos Silva Filho, presidente da ABRELPE, trabalha no setor há 20 anos e recorda que, nos últimos três, houve uma mudança de mentalidade importante. 

"As pessoas estão percebendo que podemos fazer mais. Estamos em uma transição em que a gestão de resíduo deixa de ser gestão de lixo a passa a ser gestão de recursos. É pensar aberto: como que hoje a maior rede de hospedagem do mundo é Airbnb? Ou que existam grandes empresas de transporte urbano como a Uber e Cabify e que não são proprietárias de frota? São esses conceitos que precisamos trazer para a gestão de resíduos. É a criatividade que precisamos despertar, não só em cada um, mas despertar no próprio governo, em parceria com iniciativa privada, para oferecer esses tipos de solução", relata. 

A mentalidade empreendedora pode ser encontrada em alguns cases. Sabrina Gimenes de Andrade, da Coordenação Geral de Resíduos Sólidos do Ministério do Meio Ambiente, lembrou de um case emblemático: a Ecozinha. No começo de 2018, o Distrito Federal aprovou uma lei que transfere para estabelecimentos comerciais, órgãos públicos, terminais rodoviários e aeroportuários a responsabilidade da destinação dos resíduos produzidos. Mesmo pequenos restaurantes e bares poderiam ser considerados grandes geradores, de acordo com a lei. 

Alguns restaurantes então criaram uma logística compartilhada – que serve inclusive para resíduos orgânicos. O modelo instalou caçambas e coletores para a separação do lixo reciclável em cada um dos restaurantes, que são todos recolhidos pelo Sistema de Limpeza Urbana. No caso do vidro, a Ecozinha construiu uma parceria com a ONG Greenn Ambiental para transportar o material até usinas de reciclagem em São Paulo – isso porque o DF não possui nenhuma instalação para o trato do material. 

No caso do lixo orgânico, os estabelecimentos construíram um projeto de compostagem, alugando um pátio em que instalam composteiras e destinam ali os restos de alimento. O adubo gerado será destinado a agricultores da região: no fim, o lixo ajuda na produção da comida que será comprada e usada como insumo nos restaurantes. 

Como a inovação e tecnologia estão ajudando nesse processo 

A International Solid Waste Association (ISWA) apontou em uma pesquisa no ano de 2017 que 97% dos respondentes consideravam que as indústrias relacionadas à gestão de resíduos seriam afetadas pela quarta revolução industrial. A expectativa dos entrevistados é que inovações como chatbots sejam usados para auxiliarem pessoas na informação sobre geração de lixo e reciclagem, por exemplo. Além disso, mais de 50% acreditam que robôs automatizarão alguns serviços como a direção dos caminhões de lixo e outros processos que hoje são feitos de maneira mecânica. A maioria espera que, de alguma forma, a tecnologia ajudará a economia a ser mais circular. 

Davi Bomtempo, gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é um dos que concorda com essa visão. Ele lembra que os problemas da gestão de resíduos devem ser pensados desde o início da cadeia. 

"Começamos a perceber que com Internet das Coisas, a parte dos sensores, podemos acompanhar o material desde sua composição até sua destinação, uma abordagem inovadora para a logística reversa, garantindo com que aquele resíduo seja destinado adequadamente. Outra inovação é a impressão 3D. Dado que recursos naturais estão escassos, é útil para produzir menos e com mais eficiência. A gestão de resíduos começa no início da cadeia, usando menos recursos para fazer seu produto. Economia circular não é só reciclagem: é já produzir de maneira modular para, na hora que tiver problema, é só fazer manutenção, trocar peça, não precisa de um novo produto", explica.


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