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Os Impactos da Falta de Saneamento Básico na Vida das Mulheres

Estudo aponta que uma em cada quatro mulheres não tem acesso adequado à água tratada, coleta e tratamento dos esgotos e que a universalização dos serviços tiraria imediatamente 635 mil mulheres da pobreza. 

A falta de saneamento básico tem impactos negativos para toda a sociedade, e o problema é um dos fatores que reforçam a desigualdade de gênero no Brasil. Essa é uma das conclusões do estudo inédito O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira, feito pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a BRK Ambiental e apoio do Pacto Global, conduzido pela empresa Ex Ante Consultoria. O estudo revela que o acesso à água e esgoto tiraria imediatamente 635 mil mulheres da pobreza, a maior parte delas negras e jovens. 

O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira tomou como base dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos Ministérios da Saúde, Educação e Cidades. A metodologia completa pode ser conferida em www.tratabrasil.org.br.

Hoje, no país, 27 milhões de mulheres – uma em cada quatro – não têm acesso adequado à infraestrutura sanitária, sendo o saneamento variável determinante em saúde, educação, renda e bem-estar. Os resultados do estudo se somam às preocupações levantadas pela Campanha Outubro Rosa de atenção à saúde da mulher. 

Os números mostram ainda que a falta de acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário é uma das principais causas de incidência de doenças diarreicas, que levam as mulheres a se afastarem 3,5 dias por ano, em média, de suas atividades rotineiras. O afastamento por esses problemas de saúde afeta principalmente o tempo destinado a descanso, lazer e atividades pessoais. 

Meninas de até 14 anos são as maiores vítimas desse quadro, com índice de afastamento por diarreia 76% maior que a média em outras idades (132,5 casos de afastamento por mil mulheres contra 76). Já no caso da mortalidade, o déficit de saneamento é mais perigoso para a mulher idosa, que corresponde a 73,7% das mortes entre as mulheres sem acesso ao saneamento. 

O economista Fernando Garcia de Freitas, responsável pela pesquisa, lembra que quando há falta de água em casa ou quando alguém da família adoece em decorrência da falta de saneamento, em geral a rotina das mulheres é mais afetada – o impacto desses problemas no tempo produtivo delas é 10% maior que o dos homens. "Temos um retrato evidente de como a falta de água e esgoto impacta a criança, a jovem, a trabalhadora, mãe e a idosa, impedindo a melhoria de vida e aprofundando as desigualdades". 

Teresa Vernaglia, presidente da BRK Ambiental, destaca que a pesquisa mostra a dupla jornada praticada pela maior parte das mulheres no Brasil e o peso que a falta de saneamento tem nessa rotina. "No Brasil é a mulher que cuida dos afazeres domésticos. É ela quem cozinha e é quem se ausenta do trabalho para levar o filho no posto de saúde. Portanto, a falta de saneamento afeta diretamente a sua vida em diversas esferas, com impactos inclusive na sua mobilidade socioeconômica", afirma. 

Ainda de acordo com Teresa Vernaglia, são informações impactantes dada a importância da autonomia financeira para a igualdade de gênero e para o empoderamento da mulher, previstos no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 da Agenda 2030 da ONU. "Parte da transformação dessa realidade depende de investimentos e do compromisso das empresas com a universalização de água e esgoto", completa a presidente da BRK Ambiental

Um dos embaixadores do Instituto Trata Brasil, doutor Artur Timerman, mestre em Infectologia pela Universidade de São Paulo, e presidente Sociedade Brasileira de Dengue/Arbovirosrs, acrescenta que um diagnóstico específico sobre os impactos à saúde da família é importante para compreender os problemas que a ausência do saneamento básico provoca na sociedade. "A situação do saneamento básico é preocupante e este estudo mostra que infelizmente estamos deixando gerações, sobretudo de mulheres, às margens devido a um problema que não corrigimos ainda. Sem oferecer água tratada e esgotamento sanitário adequado a todos, estamos condenando o nosso futuro". 

O estudo apontou, ainda, que na idade escolar, as meninas sem acesso a banheiro têm desempenho estudantil pior, com 46 pontos a menos em média no ENEM quando comparadas à média dos estudantes brasileiros. O saneamento impacta também no ingresso ao mercado de trabalho, uma vez que o acesso à água tratada, coleta e tratamento de esgoto poderia reduzir em até 10% o atraso escolar da estudante. Outro dado impactante aponta que 1,5 milhão de mulheres não têm banheiro em casa e que essas brasileiras têm renda 73,5% menor em comparação às trabalhadoras com banheiro em casa.    

No caso da renda, o acesso ao saneamento traria ainda um acréscimo médio de R$ 321,03 ao ano para cada uma dessas brasileiras, o que representaria um ganho total à economia do país de mais de R$ 12 bilhões ao ano. 

Investimentos necessários à universalização do saneamento

O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), lançado em 2013 pelo Governo Federal, prevê alcançar a universalização do abastecimento de água e da coleta e tratamento de esgoto até 2033, mas o país não tem conseguido investir o suficiente nos últimos 11 anos. Para cumprir esta meta, estudos do setor mostram que o Brasil necessitaria de investimentos da ordem de R$ 20 bilhões por ano contra os R$ 11,5 bilhões investidos em 2016.


Uma em cada quatro mulheres não tem acesso a saneamento básico. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Uma em cada quatro mulheres no país não tem acesso adequado a infraestrutura sanitária e saneamento, conforme mostra um estudo do Instituto Trata Brasil. A falta desses serviços a 27 milhões de brasileiras contribui para reforçar as desigualdades de gêneros, pois impactam a saúde, o acesso à educação e à renda, além do bem-estar dessas mulheres, conforme as conclusões da pesquisa O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira. Na idade escolar, por exemplo, as meninas sem acesso a banheiro têm desempenho estudantil pior, com, em média, 46 pontos a menos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) quando comparadas à média dos estudantes brasileiros. 

A falta de saneamento é uma das principais causas de incidência de doenças diarreicas, que levam as mulheres a se afastarem, em média, por 3,5 dias ao ano de atividades rotineiras, como escola ou trabalho. A incidência de afastamentos por motivo de diarreia ou vômito é maior entre as mulheres, com 80,1 casos para cada mil habitantes, segundo dados de 2013. A proporção entre os homens é de 73,4 para cada mil habitantes. Este fator também impacta a mulher pelas características familiares no Brasil que levam a afastamento mais frequentes delas como cuidadoras dos filhos ou pais idosos que adoecem. 

No caso da renda, a pesquisa aponta que o acesso ao saneamento traria um acréscimo médio de R$ 321,03 ao ano para cada uma dessas brasileiras, o que representaria um ganho total à economia do país de mais de R$ 12 bilhões ao ano. "A perda da renda pode ser diretamente – no caso de uma diarista que se não vai trabalhar não recebe –, mas pode ser indireta – tendo doenças recorrentes [a mulher] se afasta mais do trabalho e progride menos na carreira", disse o coordenador da pesquisa, o economista Fernando Garcia

O estudo foi feito pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a BRK Ambiental e apoio do Pacto Global, conduzido pela Ex Ante Consultoria, com base em dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dos Ministérios da Saúde, da Educação e de Cidades

Garcia destaca que a partir de uma metodologia do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é possível estimar que 635 mil mulheres sairiam da pobreza se acessassem serviços de saneamento básico. "É uma linha sentida materialmente em termos de poder de consumo. Conseguiríamos resgatar uma parte dessa população feminina e colocá-la numa situação de riqueza material melhor", explicou. A pesquisa mostra que 1,5 milhão de mulheres não têm banheiro em casa e que essas brasileiras têm renda 73,5% menor em comparação às trabalhadoras com banheiro em casa. 

Diferenças regionais

No Norte e no Nordeste, o atendimento regular de água chega a 53,2% das mulheres. Além disso, 70% das mulheres que não têm banheiro em casa estão na região Nordeste. Na região Sudeste, apesar de percentualmente os índices serem mais baixos, os números absolutos chamam atenção: em São Paulo, são mais de dois milhões de mulheres sem água na torneira de forma frequente; no Rio de Janeiro, 2,1 milhões; e em Minas Gerais, 1,5 milhão. 

Em relação à coleta adequada de esgoto, o maior déficit é no Norte, onde o problema atinge 67,3% da população. São consideradas coletas adequadas nas áreas urbanas as casas que estão ligadas à rede pública ou, no caso de áreas rurais, as que contam com fossas sépticas.

Por: Camila Maciel / Edição: Denise Griesinger (Agência Brasil).

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