Relatório da ONU comprova que os esforços para recuperar a cobertura atmosférica da Terra vêm finalmente dando resultado. Isso, claro, se não tirarmos o pé.
A importância dela para a existência humana é algo que você escuta desde a aula de ciências: sem a proteção da camada de ozônio, uma película de gases que envolve a Terra a 18 km de altura, a vida que levamos hoje simplesmente não seria possível.
Se essa barreira invisível sumisse, abrindo passagem para todo raio ultravioleta ultrapassar a atmosfera, um simples banho de Sol de cinco minutos já seria suficiente para tostar nossa pele – algo que ameaçaria animais, tornaria o solo infértil e extinguiria variedades inteiras de plantas, por tabela.
O famigerado "buraco", que a cada dia diminuía a proteção de ozônio do planeta, se tornou uma preocupação ambiental tão grave quanto o aumento da temperatura dos oceanos. Em 1974, com uma descoberta que arremataria o Nobel de Química anos mais tarde, os gases CFC (clorofluorcarbonetos) assumiram o posto de grandes vilões a serem combatidos.
Eliminados para o ar com o borrifo de aerossóis ou pelo funcionamento de ar-condicionados e geladeiras, tais gases eram nocivos à proteção natural da atmosfera. Isso porque os átomos de cloro, presentes nos CFC's, quando em contato com o ozônio (O3) quebram suas moléculas.
Estava dado o ultimato. Se não quiséssemos virar camarões já a partir das décadas seguintes, tínhamos de frear a utilização de gases do tipo. O chamado Acordo de Montreal, assinado por 24 países em 1987, foi a primeira grande medida que limitou a aplicação dos CFC's. Isso fez a indústria de eletrodomésticos passar a pesquisar alternativas. Em 2010, o uso de químicos do tipo acabou completamente banido – com exceção da China, outro poluidor de peso.
E foi importante que tenha acontecido exatamente assim. Se o tratado climático não tivesse vingado, o rombo na película protetora poderia ser de 40% até 2013, projetavam os cientistas em um levantamento feito em 2015.
Na linha do que sinalizou uma pesquisa publicada na revista científica Nature em 2016 [Emergence of healing in the Antarctic ozone layer], um relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a camada de ozônio está se recuperando, e já não corre tanto risco.
Agora, dá até para fazer projeções mais otimistas: os dados estimam que, se não tirarmos o pé das medidas que já vêm dando certo, podemos recuperar por completo a camada de ozônio até a década de 2060. Em certas áreas, como as polares, é possível que a recuperação aconteça até antes. Acredita-se que zonas como o Ártico e latitudes médias possam chegar lá ainda em 2030.
Algo que pode jogar água no chope, contudo, é o aumento da emissão de gases de efeito estufa. Como aponta o relatório, tal fator pode alterar a circulação de massas de ar atmosféricas, e causar uma distribuição desigual do ozônio.
Com o aquecimento global, é possível que haja menor concentração de ozônio em regiões tropicais (o que inclui o Brasil), no Ártico e nas áreas de latitudes médias – onde a camada de ozônio já é menos densa.
Alegria de terráqueo costuma mesmo durar pouco. O que, no caso, pode até ser um bom sinal. Pelo menos assim, não relaxamos com o ambiente – e jogamos pela janela o que demorou algumas décadas para começarmos a consertar.
Por: Guilherme Eler (Superinteressante).
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