A atual produção em massa de celulares exige que o descarte deles seja pensado desde a fabricação dos aparelhos. Destinação incorreta e o desperdício precoce desses produtos geram danos ambientais e de saúde, segundo nova organização criada para combater o problema.
O avanço tecnológico vem deixando efeitos colaterais pelo mundo, e o descarte dos materiais eletrônicos é um dos piores. São US$ 62,5 bilhões perdidos em produtos jogados fora anualmente, valor maior do que o PIB de países como Uruguai, Paraguai e Bulgária.
Isso sem contar o risco ambiental. O relatório, apresentado no último Fórum Econômico Mundial pelo grupo Plataforma pela Aceleração da Economia Circular (PACE, na sigla em inglês) – uma iniciativa conjunta de especialistas da ONU, do próprio Fórum e do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável – diz que o contínuo lançamento de televisões, celulares, computadores e outros eletrônicos faz com que produtos de versões anteriores sejam descartados precocemente. Isso gera uma quantidade grande de lixo: 44,5 milhões de toneladas, em 2018.
"O desperdício de eletrônicos é hoje a fonte de geração de lixo que cresce mais rapidamente", diz o relatório. O principal problema é que os componentes não são biodegradáveis e muitas vezes contêm elementos tóxicos que acabam expostos, como chumbo. E mesmo quando há a reciclagem – o contrabando de eletrônicos descartados é comum em países como a Nigéria —, os trabalhadores envolvidos no processo podem acabar intoxicados.
Para ao menos amenizar o problema, a ideia dos integrantes do PACE é criar novas campanhas de comunicação. As peças seriam distribuídas pelos governos e empresas multinacionais, que também estariam envolvidos em ações concretas para dar a destinação correta aos eletrônicos. Ignorar essa necessidade seria caminhar para um mundo onde os eletrônicos respondam por 14% das emissões de CO2 – um cenário previsto para 2040.
"Sem a atenção do público e seu engajamento, não conseguiremos reverter o sistema que temos agora, baseado em eletrônicos descartáveis", aponta Nathan Proctor, chefe do grupo de direitos dos consumidores americano PIRG.
Para ele, o principal desafio encontra-se na atual postura da indústria de eletrônicos, de incentivar a compra de novos produtos todos os anos e não lembrar seus clientes da importância de consertar e utilizar os dispositivos até o fim de sua vida útil. "A conclusão óbvia [a partir do relatório] é que nossa relação com o consumo de eletrônicos está fora de controle", aponta.
Já para Ruediger Kuehr, diretor do programa da ONU para Ciclos Sustentáveis em Universidades, o maior desafio é dar conta de recolher toda a quantidade de material descartado e dar a destinação correta a ele. "A União Europeia tem como meta reciclar 85% do descarte, mas hoje só consegue fazer isso com 30% a 40%", lembra.
Nenhuma estratégia, por mais bem intencionada que seja, irá funcionar sem a participação dos fabricantes de eletrônicos, afirma Kuehr. "Eles precisam apoiar mais o reparo e a reutilização de produtos junto ao público", diz.
Fonte: Época Negócios.
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