Foto: Vinicius Depizzol / Flickr / Creative Commons.
Estudo estima qual é o atual estágio da restauração de florestas nativas na Mata Atlântica. Foi identificada a recuperação de aproximadamente 740 mil hectares de florestas, ou cerca de 740 mil campos de futebol. A meta é reflorestar 1 milhão de hectares até 2020.
De forma inédita, um estudo conseguiu estimar qual é o atual estágio da restauração de florestas nativas na Mata Atlântica. Segundo o artigo There is hope for achieving ambitious Atlantic Forest restoration commitments, publicado na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation, cerca de 740 mil hectares de florestas estavam em recuperação entre 2011 e 2015 no bioma.
O estudo foi produzido pelo Pacto para a Restauração da Mata Atlântica, um movimento criado em 2009 por empresas, órgãos do governo, organizações da sociedade civil e centros de pesquisa, para estimular a restauração de 15 milhões de hectares de áreas degradadas no bioma até 2050. O trabalho envolveu mais de 20 autores, de dez instituições diferentes.
Em 2011, o Pacto se comprometeu com o Desafio de Bonn (Bonn Challenge) com a meta de restaurar 1 milhão de hectares na Mata Atlântica até 2020. Os resultados do estudo mostram que é possível bater essa meta.
"Os números trazem a esperança de que metas de restauração ambiciosas possam ser atingidas, trazendo benefícios para a população e ajudando o Brasil a cumprir seus compromissos internacionais", diz Renato Crouzeilles, líder do estudo e pesquisador do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).
O Brasil se comprometeu com a recuperação de 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030 no seu Plano Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa e no Desafio de Bonn.
A restauração de paisagens e florestas é uma atividade crucial para recuperar áreas degradadas do País, protegendo a biodiversidade, nascentes, rios, solo e ampla promoção dos serviços ecossistêmicos. Além disso, a restauração pode mover uma economia da floresta nativa baseada em produtos não-madeireiros, plantação de árvores nativas para madeira, coleta de frutas, castanhas, sementes e extração de princípios ativos para fármacos e essências.
"O estudo vem demonstrar a importância de iniciativas multissetoriais para o ganho de escala e abertura de oportunidades socioeconômicas na cadeia produtiva da restauração florestal", diz Severino Ribeiro, que foi o coordenador do Pacto para a Restauração da Mata Atlântica durante o desenvolvimento do estudo.
Ludmila Pugliese, atual coordenadora do Pacto ressalta: "É vital o engajamento da sociedade na ampliação da escala da restauração, já que essa atividade deve ser vista como um meio de transformação da sociedade. Dessa forma é importante cada vez mais ressaltar seu aspecto inclusivo e agregador. Estamos comunicando a resposta positiva de toda sociedade frente a um dos maiores desafios do século".
Fatores da restauração
Usando o mapeamento de satélite do projeto MapBiomas, o trabalho estima que estavam em processo de recuperação entre 673 e 740 mil hectares de florestas nativas nos anos de 2011 e 2015 na Mata Atlântica. Se essa tendência se mantiver até 2020, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica superará seu compromisso de restauração, atingindo a recuperação de cerca de 1,4 milhão hectares de florestas nativas na Mata Atlântica.
Olhando os números mais de perto, o estudo estima que cerca de 300 mil hectares de florestas foram recuperados por intervenções ativas de um dos mais de 350 membros do Pacto. O restante pode ter sido restaurado por outros atores ou ser resultado de regeneração natural, no entanto, não é possível distinguir a contribuição de cada técnica de restauração.
Segundo os autores, a Mata Atlântica registrou resultados positivos na recuperação florestal graças a três fatores: o desenvolvimento de uma estratégia de governança, comunicação e articulação em 14 dos 17 estados; o estabelecimento de um sistema de monitoramento da restauração; e a promoção de visão e estratégia para influenciar políticas públicas e ações de restauração em diferentes esferas.
Avanços sob risco
Apesar das boas notícias com os ganhos da restauração na Mata Atlântica relatadas pelo Pacto, os avanços estão em risco em função das mudanças nas políticas ambientais, incluindo estruturas de governança coletiva sem amplo debate e as propostas de alterações para enfraquecer o Código Florestal.
A política socioambiental do Brasil há décadas é referência internacional conferindo um valor adicional para a produção agrícola brasileira e puxando grandes discussões à cerca da mudança climática, pagamento por serviços ambientais, combate ao desmatamento e consequentemente da restauração florestal. Harmonizar a força produtiva vinda do campo e a proteção de matas e vegetações naturais tem sido um diferencial para o Brasil que precisa ser conservado e aprofundado.
Fonte: Página 22.
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