Uma nova era industrial já molda o futuro de muitos empreendedores.
A Revolução Industrial transformou a vida das pessoas. Agora, qualquer um tem acesso à grande variedade de produtos, a novas formas de geração e distribuição de energia, a meios de transporte mais eficientes. Houve também uma migração massiva para as cidades. Recentemente, a internet encolheu o planeta e revolucionou o acesso à informação e o modo de relacionamento entre as pessoas.
Vivemos agora uma revolução tecnológica que promete transformar novamente a maneira como o mundo funciona, proporcionando crescimento econômico, gerando empregos mais qualificados e propiciando elevação dos padrões de vida.
A era da Internet Industrial já começou e ela une máquinas inteligentes, análise computacional avançada e trabalho colaborativo entre pessoas conectadas para gerar profundas mudanças e trazer eficiência operacional para setores industriais diversos: manufatura, transporte, energia e saúde.
Analistas indicam um mercado potencial de US$ 15 trilhões em 15 anos. Gigantes globais como GE e Intel, empresas de tecnologia no geral, universidades e institutos de pesquisa trabalham para vencer desafios técnicos, como nível de segurança viável para troca de informações sensíveis e criação de padrões e referências para a interoperabilidade entre máquinas e dispositivos.
Para acelerar esse processo e fomentar colaboração entre os participantes dessa comunidade, foi criado, nos Estados Unidos, em 2014, o Consórcio de Internet Industrial (IIC), com cerca de 250 associados, de 30 países. No entendimento das empresas participantes, nós já dispomos da tecnologia para criar soluções inovadoras, e boa parte do esforço do consórcio está em criar projetos pilotos (testbeds) que coloquem em prática as novas ideias.
Aqui no Brasil, inspirados no modelo do IIC e buscando inserir o país nesta revolução, a Pollux, a Fiesc/Ciesc e a Embraco fundaram, em agosto de 2016, a Associação Brasileira de Internet Industrial. A ABII visa divulgar e fortalecer a Internet Industrial no Brasil e criar um fórum permanente de discussões sobre o tema, além de intercâmbio tecnológico e de negócios com parceiros internacionais, promoção do desenvolvimento econômico e geração de emprego.
O que é?
Foi na edição de 2011 da Feira de Hannover, Alemanha, que o conceito da Indústria 4.0 começou a ser revelado ao público em geral. A iniciativa, fortemente patrocinada e incentivada pelo governo alemão em associação com empresas de tecnologia, universidades e centros de pesquisa do país, propõe uma importante mudança de paradigma em relação à maneira como as fábricas operam nos dias de hoje.
Nessa visão de futuro, ocorre uma completa descentralização do controle dos processos produtivos e uma proliferação de dispositivos inteligentes interconectados, ao longo de toda a cadeia de produção e logística.
O impacto esperado na produtividade da indústria é comparável ao que foi proporcionado pela internet em diversos outros campos, como no comércio eletrônico, nas comunicações pessoais e nas transações bancárias.
Tornar a Indústria 4.0 uma realidade implicará a adoção gradual de um conjunto de tecnologias emergentes de TI e automação industrial, na formação de um sistema de produção físico-cibernético, com intensa digitalização de informações e comunicação direta entre sistemas, máquinas, produtos e pessoas; ou seja, a tão famosa Internet das Coisas (IoT). Esse processo promete gerar ambientes de manufatura altamente flexíveis e autoajustáveis à demanda crescente por produtos cada vez mais customizados.
Para o sucesso do projeto, a consolidação de um único conjunto de padrões técnicos de comunicação e segurança será um elemento-chave. Com ele, a troca de informações entre os diferentes tipos de sistemas e dispositivos será assegurada, eliminando-se as restrições relacionadas aos padrões proprietários vigentes.
Um bom exemplo é o material disponibilizado pelo site da Academia Nacional de Ciência e Engenharia da Alemanha (conteúdo disponível em inglês). É importante frisar que boa parte dessas novas tecnologias já está disponível, mas que a transição para a Indústria 4.0 não ocorrerá de forma repentina, e sim gradual, com uma velocidade de implantação que dependerá de fatores econômicos e estratégicos e da capacitação tecnológica da indústria presente em cada país.
E o Brasil?
O consenso entre os especialistas é de que a indústria nacional ainda está em grande parte na transição do que seria a Indústria 2.0, caracterizada pela utilização de linhas de montagem e energia elétrica, para a Indústria 3.0, que aplica automação por meio da eletrônica, robótica e programação.
Para termos uma ideia da nossa defasagem, precisaríamos instalar cerca de 165 mil robôs industriais para nos aproximarmos da densidade robótica atual da Alemanha. No ritmo atual, cerca de 1,5 mil robôs instalados por ano no país, levaremos mais de 100 anos para chegar lá.
A boa notícia é que não precisaremos passar por todo o processo de modernização fabril ocorrido nos países desenvolvidos nas últimas décadas para poder abraçar as tecnologias da Internet Industrial e da Indústria 4.0. Podemos e devemos queimar etapas. O que não podemos fazer é ignorar essa revolução se quisermos preservar a indústria presente no Brasil e prepará-la para esse novo panorama competitivo.
Trata-se de criar um cenário no qual as tecnologias de informação e de automação, e não a mão de obra de baixo custo, é que vão gerar as vantagens competitivas para as nações com setor de manufatura relevante. A conjuntura brasileira atual, marcada por uma severa crise econômica e política, torna esse desafio ainda mais difícil para o país.
Precisaremos, mais do que nunca, de lideranças fortes e articuladores na indústria, no governo e nas instituições acadêmicas e de pesquisa. Precisaremos também de níveis de investimento relevantes e da capacitação intensiva de gestores, engenheiros, analistas de sistemas e técnicos nessas novas tecnologias, além de parcerias e alianças estratégicas com entidades de outros países.
Cada um precisará fazer a sua parte:
- Governo: políticas estratégicas inteligentes, incentivos e fomento;
- Empreendedores e gestores da indústria: visão, arrojo e postura proativa;
- Instituições acadêmicas e de pesquisa: formação de profissionais e com desenvolvimento tecnológico, preferencialmente em grande proximidade com a indústria.
A Internet Industrial e a Indústria 4.0 criam também enormes oportunidades para empreendedores que atuam na área de tecnologia, talvez como nunca antes na história da humanidade. Muito do que será necessário para converter a manufatura, os meios de transportes, o agronegócio e outros setores industriais ainda precisa ser desenvolvido. Boa parte dessas tecnologias disruptivas ainda requer aperfeiçoamento, customização e a criação de soluções abrangentes que funcionem e gerem os benefícios esperados.
Para mencionar apenas algumas dessas novas ferramentas, precisaremos de empresas e de startups focadas em Big Data Analytics, nuvem, segurança e automação de conhecimento na área de software e em robótica avançada, manufatura aditiva, novos materiais, energias sustentáveis e simulação no campo da engenharia. Para empreendedores que já atuam em um dos segmentos diretamente impactados por essa revolução, vale investir tempo na formulação de um plano consistente para avaliar e aplicar as novas tecnologias em suas operações.
O ideal é reunir a equipe interna com especialistas do mercado para analisar a viabilidade e o impacto de cada uma das novas tecnologias. Na transição, uma dica é pensar grande e começar pequeno, ou seja, pilotar cada ideia, medir os resultados e expandir para toda a operação. Outra dica é não esperar por um momento futuro, a hora é agora, antes que seus competidores o tirem do mercado.
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