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Entenda Como a Marinha Identificou Navios Suspeitos de Terem Contaminado de Óleo as Praias do Nordeste

Comandante Gustavo Calero Garriga Pires, capitão de Mar e Guerra da Marinha, está à frente do Centro Integrado de Segurança Marítima (Cismar). Foto: Agência O Globo

Centro Integrado de Segurança Marítima da instituição, sediado no Rio de Janeiro, investigou mais de mil embarcações e apontou 30 suspeitas de terem liberado material. 

As investigações para determinar a origem do óleo cru que já contaminou 167 localidades em todos os estados do Nordeste ganharam um rumo importante na última semana. 

Na quinta-feira (10/10/2019), a Marinha do Brasil divulgou ter notificado 30 navios-tanque — que carregam combustíveis — de dez países diferentes que podem ter relação com o derramamento do óleo. 

A triagem foi feita pelo Centro Integrado de Segurança Marítima (Cismar) da Marinha, cuja sede fica no Centro do Rio. O número partiu de um universo de 1.060 navios-tanque inicialmente identificados em trajetos similares, considerados os de maior tráfego de navios. 

Foram excluídos aqueles que carregavam no lugar do óleo cru combustíveis como querosene de aviação, por exemplo, e embarcações que divergiam de condições ou rotas compatíveis com o padrão de contaminação encontrado no Nordeste. 

Ao todo, a autoridade marítima brasileira conta com 66 organizações descentralizadas em todo o território nacional, entre centros regionais e locais, que trocam informações técnicas com o Cismar, subordinado ao Comando de Operações Navais. Os sistemas da Marinha são capazes de monitorar virtualmente todas as embarcações que cruzam as águas jurisdicionais do Brasil e os navios de bandeira brasileira em qualquer ponto do globo. 

Desde a primeira ocorrência reportada ao Cismar, quando placas de óleo foram encontradas em João Pessoa, na Paraíba, o órgão definiu uma área de buscas de 90 quilômetros a partir da costa da capital paraibana, bem como em Recife (PE) e Fortaleza (CE), e identificou todas as embarcações que cruzaram esse perímetro. Àquela altura, entendia-se o problema como um fenômeno regional. 

Na medida em que a crise sofreu uma escalada, e o óleo foi observado em diferentes estados, a área foi expandida até o recorte atual, de 800 quilômetros em relação à costa do Nordeste, do Maranhão à Bahia. O estudo das correntes foi levado em conta no cálculo das possibilidades de deslocamento do óleo. A área inclui trajetos de maior tráfego marítimo nas águas brasileiras. 

Desde então, segundo o comandante do Cismar, o capitão de Mar e Guerra Gustavo Calero Garriga Pires, os 60 militares que atuam no centro de comando têm trabalhado em escalas estendidas, incluindo aos domingos, para dar conta da demanda de trabalho. Foi assim que a equipe conseguiu reduzir o número de embarcações suspeitas para 30. A investigação, por sua vez, cabe ao inquérito aberto pela Marinha

— Nós verificamos de qual terminal o barco estava vindo, qual o destino, o que estava carregando. E temos a capacidade de verificar o passado. Sabemos de onde vieram e até mesmo portos anteriores ao momento em que ele passou naquela área, assim como sua velocidade e o tipo de carga. Temos a capacidade de ver o histórico de qualquer navio, incluindo onde ele estava há cinco meses. 

A operação, no enquanto, não encontra parâmetros para comparação. 

— A Marinha entende que nunca tivemos um caso como esse. É um evento sem precedentes. É uma região do globo imensa — reconhece o comandante Garriga. — Não descartamos nenhum tipo de possibilidade. O foco das nossas pesquisas são esses navios. Agora, nossos esforços se concentram em termos de inteligência e imagens de satélite nas regiões navegadas por eles. 

As ‘camadas’ de monitoramento 

O Cismar tem capacidade de monitorar qualquer navio em qualquer ponto do globo em tempo real ou retrospectivamente. A base de dados utiliza diferentes fontes, a maioria delas brasileira, segundo o comandante Garriga. O trabalho dos agentes que atuam no Rio acompanha os navios de interesse, ou seja, de bandeira brasileira, e todas as embarcações que cruzam as águas de jurisdição do país, bem como a Zona Econômica Exclusiva, determinada pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que avança 370 quilômetros a partir da costa. 

O trabalho, ainda de acordo com Garriga, ocorre de maneira integrada com outros órgãos do governo, como a Polícia Federal (PF), a Receita, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre outros. Agências americanas colaboram com o trabalho, mas, segundo o comandante, o detalhamento é sigiloso. 

Os militares se alternam em turnos no centro de controle dentro do Edifício Almirante Tamandaré, no 1º Distrito Naval da Marinha, no Centro do Rio. O espaço conta com diversos computadores e uma grande tela que reproduz imagens de satélites e a localização precisa de embarcações. 

Há, ainda, uma sala de crise com equipamentos capazes de acompanhar o tráfego marítimo e realizar videoconferências com qualquer ator doméstico ou externo. O espaço não é usado apenas em emergências, ressalta Garriga, mas já foi utilizado várias vezes desde a crise do óleo no Nordeste. O monitoramento, segundo o Cismar, é feito diuturnamente há 50 anos.

Por: Johanns Eller (O Globo).

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