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Temperatura dos Oceanos Cresce 450% nas Últimas 6 Décadas

Últimos cinco anos foram os mais quentes para as águas oceânicas; aquecimento ocorre em taxas mais elevadas do que previsto anteriormente, alertam cientistas. Temperatura dos oceanos cresce 450% nas últimas 6 décadas e bate terceiro recorde consecutivo em 2019, diz estudo. 

A temperatura média dos oceanos atingiu o maior registro da história em 2019 e bateu o terceiro recorde consecutivo, de acordo com um estudo internacional publicado no dia 13/01/2020 na revista científica Advances in Atmospheric Sciences

O estudo aponta que os oceanos estiveram 0,075°C acima da média registrada de 1981 a 2010. Nas últimas seis décadas, essa temperatura subiu 450%, informa a publicação, o que corresponde a uma elevação de 46 mm no nível dos oceanos. 

Além de os oceanos estarem mais quentes, a temperatura está se elevando a uma velocidade cada vez maior e, mesmo que as emissões de gases do efeito estufa parem, os oceanos continuarão a ter temperaturas elevadas porque demoram a se estabilizar, alertam os pesquisadores.

Infográfico mostra a elevação da temperatura dos oceanos de 2015 a 2019 — Foto: Elida Oliveira/G1.

"Esse aquecimento medido dos oceanos é irrefutável e é mais uma prova do aquecimento global. Não há alternativas razoáveis, além das emissões humanas de gases que retêm o calor, para explicar esse aquecimento", afirma o líder da pesquisa, Lijing Cheng

Em termos técnicos, em 2019 os oceanos acumularam uma energia média de 228 zetta joules acima do que havia sido registrado de 1981 a 2010. O número é 25 zetta joules acima do que registrou em 2018, até então a maior temperatura acumulada

"É como se os oceanos tivessem absorvido o calor liberado pela explosão de 3,6 bilhões de bombas atômicas como a de Hiroshima", compara Cheng, professor associado do Centro Internacional de Ciências Climáticas e Ambientais do Instituto de Física Atmosférica (IAP) da Academia Chinesa de Ciências (CAS). 

Segundo Cheng, a temperatura média do oceano até 2 mil metros de profundidade é de aproximadamente 5,85°C. Esse número, no entanto, é menos preciso para monitorar o aquecimento dos oceanos do que a análise da variação da temperatura. 

"Por exemplo, nos trópicos, a temperatura da superfície do mar é maior que 28°C, mas cai para cerca de 2°C a 2 mil metros. Já nas regiões polares, a temperatura é próxima de 0°C. Essa enorme variação dificulta a obtenção de um número exato de temperatura média global. Porém, para anomalias de temperatura (alterações relacionadas à temperatura média), elas são menos heterogêneas espaciais e alguns padrões de larga escala se formam, portanto nossa estimativa é mais confiável", afirma. 

Consequências do aquecimento dos oceanos

Com as águas oceânicas mais quentes, há o derretimento de geleiras, que leva ao aumento do nível do mar e ameaça comunidades costeiras; o embranquecimento dos corais, que reflete a perda de vitalidade neste ambiente que fornece alimento e abrigo para diversas espécies marinhas; e o aumento de tempestades e furacões. 

"Quando a energia do Sol chega à Terra, parte dela é refletida de volta ao espaço, e o restante é absorvido e irradiado por gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono. Isso é chamado efeito estufa, o que mantém nossa Terra quente. Desde a revolução industrial, as atividades humanas liberam cada vez mais gases de efeito estufa no ar com a queima de carvão, de petróleo e o transporte", explica Cheng

Citando outros estudos, os pesquisadores elencam algumas consequências do aumento da temperatura dos oceanos: 

1) Derretimento das camadas de gelo, elevando o nível do mar; 

2) Redução do nível de oxigênio das águas, afetando a vida marinha e corais; 

3) 95% dos recifes de coral sofrerão branqueamento até o final do século, se as emissões de gases do efeito estufa continuarem; 

4) Maior evaporação e aumento da umidade na atmosfera, levando a um ciclo hidrológico extremo; 

5) Condições mais propensas a fortes chuvas e inundações, além de furacões e tufões;

6) Formação de fenômenos como o El Niño e La Niña

O artigo liga os grandes incêndios registrados em 2019 ao aumento da temperatura dos oceanos. 

"Essa é uma das principais razões pelas quais a Terra experimentou crescentes incêndios catastróficos na Amazônia, Califórnia e Austrália em 2019 (estendendo-se para 2020 na Austrália)", afirmam. 

O que indica o aquecimento dos oceanos 

Mais de 90% do calor retido na terra pelos gases do efeito estufa é absorvido pelos oceanos, segundo estudos científicos citados na pesquisa. “Mensurar o calor retido nos oceanos (OHC) é uma das melhores formas de quantificar a taxa de aquecimento global”, argumentam os pesquisadores no artigo. 

"É importante observar que o aquecimento dos oceanos vai continuar, mesmo que a temperatura média da Terra na superfície seja estabilizada a [uma elevação de] 2ºC (o principal objetivo do Acordo de Paris)", dizem os pesquisadores. 

Isso ocorrerá porque o oceano e outros grandes sistemas, como as geleiras, demoram a reequilibrar, "mas os riscos associados serão menores". 

"A taxa de aumento deve ser diminuída por ações humanas para levar a uma rápida redução de emissão de gases do efeito estufa, reduzindo os riscos para humanos e outras vidas na Terra", relatam. 

Oceanos Atlântico e Antártico estão aquecendo mais

Os oceanos Atlântico e Antártico continuam apresentando maior aquecimento, comparado aos demais, embora todos os oceanos tenham registrado aumento constante nas temperaturas, segundo o estudo. 

"O Oceano Antártico e o Oceano Atlântico estão aquecendo mais rápido que os oceanos Pacífico e Índico. Isso está relacionado à circulação das águas oceânicas. Os oceanos Antártico e Atlântico são mais eficientes no transporte de calor da superfície para o oceano profundo", explica Cheng

Pesquisas anteriores já demonstraram que a energia absorvida pelo oceano Antártico foi responsável pela elevação de 35% a 45% da temperatura dos oceanos (OHC, sigla em inglês para Ocean Heat Content) no período de 1970 a 2017. 

Os pesquisadores afirmam que o calor está associado ao aquecimento dos mares na Tasmânia, o que causa profundo impacto na pesca e nos ecossistemas marinhos. 

"Curiosamente, a maior parte dos registros de ondas de calor marinhas foram feitas em regiões de aquecimento oceânico, como o Mar Mediterrâneo, o Pacífico Norte (apelidado de The Blob), o pacífico equatorial central, o Mar da Tasmânia e o Atlântico Norte", alertam. "Ondas de calor marítimas e as mudanças ambientais nos oceanos representam altos riscos à biodiversidade e à pesca e causam perdas econômicas", afirmam. 

Metodologia

A pesquisa foi conduzida por um time de 14 cientistas de 11 instituições. Eles coletaram dados do Instituto de Física Atmosférica (IAP), da China, e do Departamento Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), dos EUA

"Usamos observações 'in situ' [no local] com termômetros, e não usamos dados de satélites. Os dados são coletados por muitos instrumentos, alguns em navios e outros transportados por mamíferos oceânicos", explica Cheng

Outras pesquisas

Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ligado à Organização das Nações Unidas (ONU) e divulgado em setembro de 2019 aponta que, se nada for feito até 2100, o nível do mar pode avançar até um metro de altura, o que pode levar à retirada de milhões de moradores de áreas costeiras e ilhas. 

Outro relatório, feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), também ligado à ONU, afirma que a emissão de gases causadores do efeito estufa precisa diminuir mais de 7% ao ano no período entre 2020 e 2030 para que o aumento na temperatura média global seja de apenas 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. 

Caso as emissões não sejam reduzidas nesse ritmo, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,2ºC, "trazendo impactos climáticos ainda maiores e mais destrutivos". 

Em novembro de 2019, mais de 11 mil cientistas de 153 países se uniram para declarar emergência climática em um artigo publicado no periódico Bioscience, onde apresentam evidências de que o planeta está em crise.

Por: Elida Oliveira (G1).

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