A população mundial de morcegos carrega cerca de 3 mil tipos diferentes de coronavírus (Foto: Jackie Chin/Unsplash).
Estudo indica que espécies de morcegos, que carregam diferentes tipos de coronavírus, mudaram de região ao longo dos anos em decorrência das alterações no clima.
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, há um ano, algumas questões permanecem sem resposta. Entre elas, de onde surgiu o Sars-CoV-2, causador da Covid-19. No fim de janeiro, o jornal Science of the Total Environment publicou um estudo que evidencia uma possível relação entre a pandemia e as mudanças climáticas.
De acordo com a pesquisa, as emissões globais de gases do efeito estufa no último século favoreceram o crescimento de um habitat para morcegos, tornando o sul da China uma região propícia para o surgimento e a propagação do vírus Sars-CoV-2.
A análise foi feita com base em um mapa da vegetação do mundo no século 20, utilizando dados relacionados a temperatura, precipitação e cobertura de nuvens. Os pesquisadores analisaram a distribuição de morcegos no início dos anos 1900 e, comparando com a distribuição atual, concluíram que diferentes espécies mudaram de região por causa das mudanças no clima do planeta.
“Entender como a distribuição das espécies de morcego pelo mundo mudou em função das mudanças climáticas pode ser um passo importante para reconstruir a origem do surto de Covid-19”, afirmou, em nota, Robert Beyer, pesquisador do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e autor principal do estudo.
Foram observadas grandes alterações na vegetação da província chinesa de Yunnan, de Mianmar e do Laos. Os aumentos na temperatura, na incidência da luz solar e nas concentrações de dióxido de carbono presente na atmosfera fizeram com que o habitat, que antes era composto por arbustos tropicais, se transformasse em savana tropical e florestas temperadas.
As novas características criaram um ambiente favorável para que 40 espécies de morcegos migrassem para a província de Yunnan no último século, reunindo assim mais de 100 tipos de coronavírus na área em que os dados apontam como a origem do surto do Sars-CoV-2. Essa região também é habitat dos pangolins, que são considerados prováveis agentes intermediários na pandemia.
“Conforme as mudanças climáticas alteraram os habitats, espécies deixaram algumas áreas e foram para outras — levando os vírus com elas. Isso não apenas alterou as regiões onde os vírus estão presentes, mas provavelmente permitiu novas interações entre animais e vírus, fazendo com que vírus mais perigosos fossem transmitidos ou desenvolvidos”, explicou Beyer.
O estudo ainda identificou que as mudanças climáticas resultaram no aumento do número de espécies de morcegos em outras regiões, como na África Central, na América do Sul e na América Central. “A pandemia de Covid-19 causou grande prejuízo social e econômico. Os governos devem aproveitar a oportunidade para reduzir os riscos que doenças infecciosas apresentam à saúde e agir para mitigar as mudanças climáticas”, alertou o professor Andrea Manica, do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge.
Os pesquisadores também ressaltam que é preciso limitar a expansão de áreas urbanas, fazendas e áreas de caça em habitats naturais para que seja reduzido o contato entre humanos e animais transmissores doenças
Fonte: Revista Galileu.
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