Na maior parte da história do Homo sapiens o crescimento econômico foi reduzido e a expectativa de vida ao nascer se manteve muito baixa. Mas o quadro mudou após a Revolução Industrial e Energética e com a transição demográfica. Considerando os últimos 250 anos, a economia global cresceu 177 vezes, a população mundial cresceu 9,5 vezes e a renda per capita cresceu 18,5 vezes, como mostra o gráfico abaixo com dados do Projeto Maddison e do FMI.
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Porém, todo o enriquecimento humano ocorreu às custas do empobrecimento do meio ambiente. O crescimento demoeconômico desregrado fez a humanidade ultrapassar a capacidade de carga da Terra, que refere-se à quantidade máxima de recursos naturais que o planeta pode garantir de forma sustentável, levando em consideração as necessidades de subsistência da população, o padrão de consumo e a preservação dos ecossistemas.
Para lidar com a crise ambiental foi criada a teoria do tripé da sustentabilidade. O tripé da sustentabilidade, também conhecido como “triple bottom line” ou três pilares da sustentabilidade, é um conceito amplamente utilizado para descrever a integração equilibrada de três dimensões fundamentais do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. Esse modelo foi popularizado a partir da década de 1990, especialmente após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), e busca orientar políticas e práticas que promovam um desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras.
Os Três Pilares da Sustentabilidade são:
1. Pilar Econômico:
a) refere-se à capacidade de gerar riqueza e garantir o crescimento econômico de forma sustentável;
b) envolve práticas como eficiência produtiva, inovação tecnológica, geração de empregos e distribuição equitativa de renda;
c) o desafio é promover um modelo econômico que não dependa da exploração desmedida dos recursos naturais ou da exclusão social.
2. Pilar Social:
a) aborda a necessidade de garantir equidade, justiça social e qualidade de vida para todas as pessoas;
b) Inclui temas como acesso à educação, saúde, moradia, segurança e participação democrática;
c) objetivo é reduzir desigualdades e garantir que os benefícios do desenvolvimento sejam compartilhados por todos.
3. Pilar Ambiental:
a) foca na preservação dos recursos naturais e na manutenção dos ecossistemas para as gerações atuais e futuras;
b) envolve práticas como conservação da biodiversidade, redução da poluição, uso eficiente de recursos e mitigação das mudanças climáticas;
c) o desafio é conciliar o desenvolvimento humano com os limites ecológicos do planeta.
O tripé da sustentabilidade propõe que os três pilares sejam interdependentes e devem ser equilibrados. Por exemplo: um projeto econômico que ignora a dimensão social pode aumentar as desigualdades; uma política ambiental radical, sem considerar os impactos econômicos, pode gerar desemprego e pobreza; a falta de atenção à dimensão ambiental pode levar à degradação dos recursos naturais, afetando a economia e a sociedade a longo prazo.
Embora o tripé da sustentabilidade seja um modelo amplamente aceito, ele também enfrenta críticas e desafios:
a) dificuldade de Implementação: na prática, é difícil equilibrar os três pilares, especialmente em contextos de escassez de recursos ou conflitos de interesse;
b) priorização do Econômico: muitas vezes, o crescimento econômico é priorizado em detrimento das dimensões social e ambiental;
c) complexidade das Interações: as interações entre os pilares são complexas e podem gerar “trade-offs” (escolhas difíceis) que nem sempre têm soluções claras;
d) visão antropocêntrica: alguns críticos argumentam que o modelo ainda é centrado no ser humano, negligenciando a importância intrínseca da natureza.
Em síntese, o tripé da sustentabilidade é um modelo que tenta defender a ideia do desenvolvimento sustentável. Porém, encontrar o equilíbrio entre economia, sociedade e meio ambiente é um dos maiores desafios do século XXI, especialmente diante de crises globais como as mudanças climáticas, a desigualdade social e a perda de biodiversidade.
Em 2015, junto com o demógrafo George Martine, escrevemos o artigo “Economia, Sociedade e Meio Ambiente no Século 21: Tripé ou Trilema da Sustentabilidade?” apresentando uma visão crítica da teoria do tripé da sustentabilidade. Por curiosidade, pedi ao assistente de inteligência artificial – DeepSeek – para resumir o referido artigo. Segue a resposta:
“O artigo ‘Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: tripé ou trilema da sustentabilidade?’, de George Martine e José Eustáquio Diniz Alves, publicado na Revista Brasileira de Estudos de População (Rebep) em 2015, discute os desafios de conciliar desenvolvimento econômico, equidade social e preservação ambiental no século XXI. Os autores questionam se é possível alcançar um equilíbrio entre esses três pilares (o chamado tripé da sustentabilidade) ou se, na prática, eles representam um trilema, ou seja, uma situação em que a priorização de um aspecto pode comprometer os outros.
Principais pontos do artigo:
1. Contexto Histórico e Conceitual:
• Os autores revisitam a origem do conceito de desenvolvimento sustentável, popularizado a partir do relatório Nosso Futuro Comum (1987) e consolidado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92).
• Eles destacam que o tripé da sustentabilidade (economia, sociedade e meio ambiente) foi proposto como uma forma de harmonizar crescimento econômico, inclusão social e preservação dos recursos naturais.
2. Críticas ao Modelo do Tripé:
• Martine e Alves argumentam que, na prática, os três pilares raramente são equilibrados. Em muitos casos, o crescimento econômico é priorizado em detrimento da justiça social e da sustentabilidade ambiental.
• Eles apontam que a exploração excessiva dos recursos naturais e a desigualdade social são resultados diretos desse desequilíbrio.
3. O Trilema da Sustentabilidade:
• Os autores propõem que, em vez de um tripé, a sustentabilidade enfrenta um trilema, onde a busca por um dos objetivos pode prejudicar os outros. Por exemplo:
- O crescimento econômico acelerado pode levar à degradação ambiental e à exclusão social.
- A proteção ambiental rigorosa pode limitar o desenvolvimento econômico e afetar populações vulneráveis.
- A priorização da justiça social pode exigir recursos que pressionam o meio ambiente ou a economia.
4. Desafios Globais e Locais:
• O artigo aborda questões como o consumismo, a exploração desmedida dos recursos naturais e as desigualdades sociais, que agravam os conflitos entre os pilares da sustentabilidade.
• Os autores destacam que os países desenvolvidos e em desenvolvimento enfrentam desafios distintos, mas interconectados, como a necessidade de reduzir emissões de carbono e garantir acesso a recursos básicos para populações pobres.
5. Propostas e Reflexões:
• Martine e Alves defendem a necessidade de mudanças estruturais no modelo de desenvolvimento atual, incluindo:
- Redução do consumo excessivo e adoção de práticas mais sustentáveis.
- Fortalecimento de políticas públicas que promovam a equidade social e a proteção ambiental.
- Reconhecimento dos limites ecológicos do planeta e da interdependência entre os pilares da sustentabilidade.
• Eles enfatizam que a sustentabilidade não pode ser alcançada sem uma visão integrada e ações coordenadas em nível global.
Conclusão:
O artigo conclui que o conceito de tripé da sustentabilidade, embora útil como referência, não reflete a complexidade e os conflitos inerentes à busca por desenvolvimento sustentável.
Martine e Alves propõem que o trilema da sustentabilidade seja reconhecido como uma realidade, exigindo soluções criativas e compromissos políticos para equilibrar economia, sociedade e meio ambiente de forma justa e viável no século XXI”.
Fonte: EcoDebate. Por: José Eustáquio Diniz Alves.
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