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Tripé ou 'Trilema' da Sustentabilidade?


Na maior parte da história do Homo sapiens o crescimento econômico foi reduzido e a expectativa de vida ao nascer se manteve muito baixa. Mas o quadro mudou após a Revolução Industrial e Energética e com a transição demográfica. Considerando os últimos 250 anos, a economia global cresceu 177 vezes, a população mundial cresceu 9,5 vezes e a renda per capita cresceu 18,5 vezes, como mostra o gráfico abaixo com dados do Projeto Maddison e do FMI. 

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Em 1772, a população mundial era pouco menos de 900 milhões de pessoas e passou para 8 bilhões de habitantes em 2022. A renda per capita global, em preços constantes em poder de paridade de compra, estava abaixo de US$ 900 e passou para cerca de US$ 15 mil, no mesmo período. Este crescimento da população e do poder de compra ocorrido em dois séculos e meio foi muito maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores. 

Porém, todo o enriquecimento humano ocorreu às custas do empobrecimento do meio ambiente. O crescimento demoeconômico desregrado fez a humanidade ultrapassar a capacidade de carga da Terra, que refere-se à quantidade máxima de recursos naturais que o planeta pode garantir de forma sustentável, levando em consideração as necessidades de subsistência da população, o padrão de consumo e a preservação dos ecossistemas. 

Para lidar com a crise ambiental foi criada a teoria do tripé da sustentabilidade. O tripé da sustentabilidade, também conhecido como “triple bottom line” ou três pilares da sustentabilidade, é um conceito amplamente utilizado para descrever a integração equilibrada de três dimensões fundamentais do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental. Esse modelo foi popularizado a partir da década de 1990, especialmente após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), e busca orientar políticas e práticas que promovam um desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras. 

Os Três Pilares da Sustentabilidade são: 

1. Pilar Econômico: 

a) refere-se à capacidade de gerar riqueza e garantir o crescimento econômico de forma sustentável; 

b) envolve práticas como eficiência produtiva, inovação tecnológica, geração de empregos e distribuição equitativa de renda; 

c) o desafio é promover um modelo econômico que não dependa da exploração desmedida dos recursos naturais ou da exclusão social. 

2. Pilar Social: 

a) aborda a necessidade de garantir equidade, justiça social e qualidade de vida para todas as pessoas; 

b) Inclui temas como acesso à educação, saúde, moradia, segurança e participação democrática; 

c) objetivo é reduzir desigualdades e garantir que os benefícios do desenvolvimento sejam compartilhados por todos. 

3. Pilar Ambiental: 

a) foca na preservação dos recursos naturais e na manutenção dos ecossistemas para as gerações atuais e futuras; 

b) envolve práticas como conservação da biodiversidade, redução da poluição, uso eficiente de recursos e mitigação das mudanças climáticas; 

c) o desafio é conciliar o desenvolvimento humano com os limites ecológicos do planeta. 

O tripé da sustentabilidade propõe que os três pilares sejam interdependentes e devem ser equilibrados. Por exemplo: um projeto econômico que ignora a dimensão social pode aumentar as desigualdades; uma política ambiental radical, sem considerar os impactos econômicos, pode gerar desemprego e pobreza; a falta de atenção à dimensão ambiental pode levar à degradação dos recursos naturais, afetando a economia e a sociedade a longo prazo. 

Embora o tripé da sustentabilidade seja um modelo amplamente aceito, ele também enfrenta críticas e desafios: 

a) dificuldade de Implementação: na prática, é difícil equilibrar os três pilares, especialmente em contextos de escassez de recursos ou conflitos de interesse; 

b) priorização do Econômico: muitas vezes, o crescimento econômico é priorizado em detrimento das dimensões social e ambiental; 

c) complexidade das Interações: as interações entre os pilares são complexas e podem gerar “trade-offs” (escolhas difíceis) que nem sempre têm soluções claras; 

d) visão antropocêntrica: alguns críticos argumentam que o modelo ainda é centrado no ser humano, negligenciando a importância intrínseca da natureza. 

Em síntese, o tripé da sustentabilidade é um modelo que tenta defender a ideia do desenvolvimento sustentável. Porém, encontrar o equilíbrio entre economia, sociedade e meio ambiente é um dos maiores desafios do século XXI, especialmente diante de crises globais como as mudanças climáticas, a desigualdade social e a perda de biodiversidade. 

Em 2015, junto com o demógrafo George Martine, escrevemos o artigo “Economia, Sociedade e Meio Ambiente no Século 21: Tripé ou Trilema da Sustentabilidade?” apresentando uma visão crítica da teoria do tripé da sustentabilidade. Por curiosidade, pedi ao assistente de inteligência artificial – DeepSeek – para resumir o referido artigo. Segue a resposta: 

“O artigo ‘Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: tripé ou trilema da sustentabilidade?’, de George Martine e José Eustáquio Diniz Alves, publicado na Revista Brasileira de Estudos de População (Rebep) em 2015, discute os desafios de conciliar desenvolvimento econômico, equidade social e preservação ambiental no século XXI. Os autores questionam se é possível alcançar um equilíbrio entre esses três pilares (o chamado tripé da sustentabilidade) ou se, na prática, eles representam um trilema, ou seja, uma situação em que a priorização de um aspecto pode comprometer os outros. 

Principais pontos do artigo: 

1. Contexto Histórico e Conceitual: 

• Os autores revisitam a origem do conceito de desenvolvimento sustentável, popularizado a partir do relatório Nosso Futuro Comum (1987) e consolidado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92).

• Eles destacam que o tripé da sustentabilidade (economia, sociedade e meio ambiente) foi proposto como uma forma de harmonizar crescimento econômico, inclusão social e preservação dos recursos naturais. 

2. Críticas ao Modelo do Tripé: 

• Martine e Alves argumentam que, na prática, os três pilares raramente são equilibrados. Em muitos casos, o crescimento econômico é priorizado em detrimento da justiça social e da sustentabilidade ambiental. 

• Eles apontam que a exploração excessiva dos recursos naturais e a desigualdade social são resultados diretos desse desequilíbrio. 

3. O Trilema da Sustentabilidade: 

• Os autores propõem que, em vez de um tripé, a sustentabilidade enfrenta um trilema, onde a busca por um dos objetivos pode prejudicar os outros. Por exemplo: 

- O crescimento econômico acelerado pode levar à degradação ambiental e à exclusão social. 

- A proteção ambiental rigorosa pode limitar o desenvolvimento econômico e afetar populações vulneráveis. 

- A priorização da justiça social pode exigir recursos que pressionam o meio ambiente ou a economia. 

4. Desafios Globais e Locais:

• O artigo aborda questões como o consumismo, a exploração desmedida dos recursos naturais e as desigualdades sociais, que agravam os conflitos entre os pilares da sustentabilidade. 

• Os autores destacam que os países desenvolvidos e em desenvolvimento enfrentam desafios distintos, mas interconectados, como a necessidade de reduzir emissões de carbono e garantir acesso a recursos básicos para populações pobres. 

5. Propostas e Reflexões: 

• Martine e Alves defendem a necessidade de mudanças estruturais no modelo de desenvolvimento atual, incluindo:

- Redução do consumo excessivo e adoção de práticas mais sustentáveis. 

- Fortalecimento de políticas públicas que promovam a equidade social e a proteção ambiental. 

- Reconhecimento dos limites ecológicos do planeta e da interdependência entre os pilares da sustentabilidade. 

• Eles enfatizam que a sustentabilidade não pode ser alcançada sem uma visão integrada e ações coordenadas em nível global. 

Conclusão: 

O artigo conclui que o conceito de tripé da sustentabilidade, embora útil como referência, não reflete a complexidade e os conflitos inerentes à busca por desenvolvimento sustentável. 

Martine e Alves propõem que o trilema da sustentabilidade seja reconhecido como uma realidade, exigindo soluções criativas e compromissos políticos para equilibrar economia, sociedade e meio ambiente de forma justa e viável no século XXI”.



Fonte: EcoDebate. Por: José Eustáquio Diniz Alves.

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