As relações entre a natureza e os efeitos positivos sobre a saúde mental teve início no último século. Quando os pacientes psiquiátricos eram alojados em tendas fora do hospital, devido a um surto de tuberculose, os médicos constataram melhoria nas condições destes pacientes. Mas quando eles voltavam para o interior do hospital, a maioria revertia ao seu estado original com piora na saúde. Outras pesquisas comprovaram a eficiência dos benefícios desta terapia e descobriram que os pacientes psiquiátricos melhoraram quando eram colocados na parte externa do hospital.
Recentemente, pesquisas em Ecoterapia concluíram que a saúde mental das pessoas melhorava significativamente após atividades em contato com a natureza. A publicação destaca ainda a sua própria definição de Ecoterapia, referindo-se para o desenvolvimento de programas de horticultura supervisionado por um terapeuta e exercícios em contato com a natureza. O termo Ecoterapia foi postulado como uma forma de "Espiritualidade ecológica" em que a relação holística com a natureza envolve tanto a capacidade da natureza para nos proporcionar qualidade de vida através de nosso contato com espaços e lugares naturais e nossa capacidade de retribuir essa conexão de cura através da nossa habilidade de cuidar da natureza.
Nesse sentido a Ecoterapia compartilha uma estreita relação com a ecopsicologia ao colocar os seres humanos dentro de uma reciprocidade de cura em relação com a natureza.
A Ecoterapia esta sendo aplicada em meios clínicos, situada como ecopsicologia aplicada ou clínica, assim como a psicoterapia pode ser descrita como aplicada ou em psicologia clínica. O livro Ecotherapy: Healing with Nature in Mind editado por Linda Buzzell e Craig Chalquist descreve vários tipos de Ecoterapia, incluindo horticultura terapia, exercício em áreas verdes, terapia assistida com animais, terapia em ambientes selvagens, terapia de vida natural, e outras, que são utilizadas contra estresse, ansiedade, dores e muito mais. Na ausência de uma definição adequada sobre o que é Ecoterapia, podemos dizer que é um conjunto de práticas, processos e uma conexão experiencial com a natureza.
A hipótese da Biofilia
Por milênios, temos vivido em íntima relação com a natureza, ela nos proporciona a água, alimentos, matéria prima para consumo e moradia. A tecnologia tem promovido o desenvolvimento das nossas habilidades, principalmente em ambientes urbanos ou semiurbanos, fazendo-nos desligar da natureza, alterando e desafiando nosso senso de origem e que afeta a nossa saúde mental.
A hipótese da Biofilia é definida por Edward Wilson como a tendência inata para enfocar sobre a vida e seus processos. Wilson acredita que estamos biologicamente programados a conviver com outras formas de vida, não apenas a humana.
Esta hipótese sugere que a identidade humana de alguma forma depende de seu relacionamento com natureza, e que a necessidade humana em relação à natureza é ligada não apenas à exploração de matérias-primas do ambiente, mas também à influência do mundo natural em nosso desenvolvimento emocional, cognitivo, estético e até mesmo espiritual.
De acordo com Stephen Kellert, a multiplicidade de formas pelo qual os seres humanos estão ligados ao meio ambiente é mal compreendida. O termo biofilia pode explicar a relação dos fenômenos psicológicos, que resultou da interação com o ambiente natural, e agora provavelmente reside nos genes.
Pesquisas sobre a psicologia ambiental têm explorado os efeitos da natureza sobre a percepção humana, emoções, comportamento e cognição. Tem sido verificado que a qualidade e o conteúdo de uma vista de uma janela de um hospital, por exemplo, tem um significativo efeito sobre um paciente em recuperação, com uma visão da natureza ocorre uma recuperação mais rápida pós-cirurgia.
Uma questão importante para conselheiros e terapeutas que corre ao lado de qualquer discussão em relação à Ecoterapia é quando e de que forma vamos nos envolver com as questões ambientais que estão afetando nosso planeta, dentro da nossa terapia prática?
Isso é complicado, pois, como terapeutas, o tratamento está localizado ao nível do individual, incorporado em problemáticas e relacionamentos - com o presente, o passado e na sala de terapia. Não quer dizer que a terapia externa seja melhor do que no interior, ambos são muito valiosos. Mas é sobre como a terapia é colocada para fazer as conexões. A localização, a sensação de emoções de uma rede de relações, tanto positivas como negativas, e a capacidade de ambas ser capaz de sentar-se com, tolerar e tentar mudar algumas dessas emoções.
As questões ambientais, a nossa relação com o planeta e as condições de opressão econômica que originam os aspectos de angústia pessoal, são todas questões de relacionamento e, portanto, pode-se argumentar que devem ser integrados plenamente nas práticas terapêuticas. O fundamental processo para a Ecoterapia e práticas terapêuticas é a reconexão com o natural como uma religação consigo mesmo.
Vários pesquisadores têm chegado a conclusão que é a qualidade do relacionamento e a capacidade do terapeuta para formar e manter uma aliança terapêutica com o cliente que é importante para o resultado da terapia. Trabalhando com a natureza é acrescentada outra variável: o papel da própria natureza na cura terapêutica. Se a natureza age como uma presença terapêutica no processo, então a pessoa que esta em uma terapia baseada na natureza necessita formar uma sustentação e relacionamento terapêutico com a natureza. Este se divide em duas vertentes: recepção passiva da estética e beleza da natureza e da cura natural em ambientes escolhidos para cura e restauração, e um engajamento mais ativo em que a terapia é realizada utilizando os recursos do ambiente natural, como na ecoaventura, caminhadas em ambientes verdes e horticultura terapia.
O movimento da ecologia profunda nos aponta para a importância de um ritual para afirmar nossa ligação com a terra. É preciso lembrar que esta conexão pode ser facilitada pela "intenção" de se ligar e estabelecer contato. Essa idéia se baseia no fato de que nós somos descendentes de milhares de gerações que praticavam cerimônias reconhecendo nossa interconexão com a natureza.
Ao colocar a natureza em um papel central na terapia, somos solicitados a mudar a nossa percepção da natureza como uma coisa e convidados a dar-lhe uma identidade. Se acreditarmos que somos parte da natureza, o eu se torna mais intrinsecamente ligado a uma parte do mundo natural.
O contato com a natureza através de exercícios vivenciais ajuda a evocar as memórias da infância, tanto alegres como dolorosas. Este processo pode acontecer de varias formas, tais como vivências com árvores, plantas e animais, que são depois associados com os sentimentos e pensamentos da infância. A natureza funciona como um espelho, refletindo os sentimentos da pessoa e seus relacionamentos.
Simbolismo e metáforas são importantes no sentido de trazer maior compreensão para os participantes através de seu contato com a natureza. O simbolismo é usado para exteriorizar os sentimentos e pensamentos que pode, então, por sua vez, ajuda o processo de interiores reflexão.
A ideia do "Eu" como um ser existente dentro de um processo natural e que esta à mercê das estações do ano, reflete a ideia de que nós não somos estáticos em termos de nosso estado mental ou a nossa capacidade de transcender dificuldades. Estamos sempre em um processo de mudança e transição de uma estação para outra. Esta ideia tem sido utilizada em psicologia para entender as estações de uma de vida de uma pessoa. Esta conexão permite entendermos os processos da natureza – como a morte, o nascimento, o crescimento e a renovação. Estes são vistos como fatores primordiais de uma psicologia baseada na natureza.
Ao incorporar a natureza na Ecoterapia, o mito do isolamento da mente separada da natureza é derrubado. A mente torna-se um elemento holistico, não só em relação a outros seres humanos, mas em relação com o mundo mais humano. A psicoterapia e a terapia do aconselhamento argumentam que a pessoa é motivada por significados atribuídos às interações com a natureza. Este processo terapêutico de relações assume a posição de que a mudança ocorre por meio do cliente e terapeuta participantes nas interações com cada lugar, que se abre para um novo processo de novas formas de participação na relação.
Ao trabalhar de forma relacionada com a natureza, novos cenários internos começam a emergir na interação com as paisagens do exterior, o que reflete, sustenta desafios e apóia a pessoa no seu percurso terapêutico. O mito de que o "Eu" é algo separado da natureza torna-se exposta como a falácia que é.
Hortas, frutas e flores são sempre associadas com a sensação de paz e convivência pacífica. A jardinagem é uma das atividades mais prazerosas que existe. É possível que as pessoas que trabalhem com o cultivo de plantas sejam mais tranquilas, ao contrário de caçadores que usam suas armas, não só para os animais de caça, mas também contra os humanos. Nos jardins da evolução humana, o cultivo das plantas foi fator crucial para a sobrevivência das comunidades, seja como fonte de alimentos e ervas medicinais, habitação ou vestuário.
Pessoas com problemas de saúde mental estão entre as mais excluídas da sociedade. A horticultura terapêutica tem demonstrado muitos resultados positivos, com projetos em instituições ajudam a promover a inclusão social com os pacientes com outras situações, utilizando-se como interesse comum a jardinagem.
Os terapeutas ocupacionais, que trabalham com pessoas com problemas de saúde mental têm a responsabilidade de promover sua inclusão social. A jardinagem é uma atividade de promoção da saúde, porque é multifacetada, que envolve a habilidade, o exercício, o envolvimento cultural, estimulação sensorial e espiritualidade. Em uma comunidade, os benefícios são ainda maiores, ao lado das propriedades restauradoras do ambiente natural e os aspectos alimentícios, que promovem uma melhoria da saúde, através da ingestão de produtos frescos que são ainda, combinados com os benefícios sociais do grupo de trabalho.
A horticultura em instituições oferece oportunidades únicas para a inclusão social e desestigmatização, devido à localização destas nas comunidades. Sendo esta atividade conhecida e simples de ser implantada é extremamente importante para a integração.
A integração das pessoas com problemas de saúde mental em grupos de comunidade mista poderia melhor promover a inclusão e desestigmatização, pois a ocupação dá a pessoa uma oportunidade de se misturar com os outros membros da comunidade, compartilhando um interesse comum.
A jardinagem comunitária pode melhorar a interatividade social nos bairros, aumentar o capital social e diminuir a privação de trabalho, uma característica da vida de comunidades carentes e grupos marginalizados, como as pessoas com problemas de saúde mental.
A inclusão social
A inclusão social promove a saúde mental e o bem-estar essencial para o processo de recuperação. O emprego é valorizado como o ápice da inclusão social, mas muitas barreiras impedem as pessoas com problemas de saúde mental alcançar esse objetivo. Muitas vezes, grande importância é colocada em encontrar e manter o emprego, mas isso não pode ser apropriado ou útil, dependendo da sua fase de recuperação. Outras possibilidades para a inclusão social, como o lazer ou trabalho voluntário, devem ser exploradas, não apenas como um trampolim para o emprego, mas como um fim em si mesma valiosa.
Fonte: Artigonal. Por: Marcelo Rigotti (Engenheiro Agrônomo Mestrado em Entomologia e Conservação da Biodiversidade Doutorando em Horticultura).
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