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O Patrono do Meio Ambiente

Em sessão solene realizada pelo Congresso Nacional em 16/12/2013, para marcar os 25 anos da morte de Chico Mendes, senadores e deputados reverenciaram sua memória e legado. Os pronunciamentos destacaram a sensibilidade e visão de futuro do líder ambientalista ao defender caminhos alternativos para o desenvolvimento da Amazônia, baseado na sustentabilidade, com a preservação da floresta e também a inclusão das comunidades tradicionais, como os seringueiros, as comunidades indígenas, ribeiros e quilombolas.

Depois de afirmar que o seringalista é nome obrigatório na lista do cem brasileiros mais importantes do século que passou, o 1º vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-SP), salientou que Chico Mendes não lutou por questões meramente econômicas. Ele afirmou que o líder seringalista compreendeu claramente que o projeto de colonização da Amazônia dos antigos governos e elites, para transformar a região numa “efervescente economia, onde o dinheiro jorraria”, estava destinado ao fracasso.

- Vocês acham que é fácil se contrapor e colocar um caminho alternativo? Mas o Chico fez isso, vinculando-se a conceitos que estão atuais hoje, no outro século – disse o senador.

Ainda de acordo com Jorge Viana, o Brasil não terá verdadeiramente compreendido Chico Mendes enquanto a floresta não for enxergada como um ativo econômico e uma vantagem comparativa para o país. Mesmo apontando avanços no campo das ações sustentáveis a partir do governo Lula, ele disse que o Brasil precisa fazer mais para corresponder ao papel de “detentor e cuidador” da maior floresta tropical do mundo e apelou para o compromisso de cada brasileiro.

- Nenhum de nós precisa esperar um único dia no esforço de levar adiante os ideais de Chico Mendes – conclamou.

Chico Mendes foi morto a tiros no quintal de sua casa, em Xapuri (AC), em 22 de dezembro de 1988, uma semana depois de completar 44 anos, num crime cometido por uma família de fazendeiros da região. Depois de militar inicialmente na defesa dos interesses dos seringalistas, como líder sindical, ele se juntou a outras lideranças numa atuação mais ampla em defesa dos habitantes tradicionais da Amazônia, por meio da União dos Povos da Floresta.

Como Jorge Viana, a sessão contou com a participação de parlamentares que conviveram com Chico Mendes, caso do senador Aníbal Diniz (PT-AC) e do deputado federal Siba Machado, também do PT do Acre, os dois últimos autores da sugestão da sessão do Congresso. Participaram ainda a deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), o ex-governador do Acre, Binho Marques, e Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, que representou a família.

Patrono

Ao abrir a sessão, Jorge Viana fez a leitura da lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff e publicada no dia, de iniciativa de Janete Capiberibe, que concede a Chico Mendes o título de Patrono Nacional do Ambientalismo. Ele, que já tem seu nome entre os Heróis Brasileiros, foi ainda homenageado com o lançamento, no mesmo dia, da segunda edição do livro Vozes da Floresta. Publicado pelo Senado, o livro conta com depoimentos de pessoas viveram, conheceram ou têm opinião a respeito da luta de Chico Mendes.

Como afirmou Aníbal Diniz, Chico Mendes foi assassinado “no auge das suas melhores ideias e de sua disposição” de contribuir para a Amazônia e o Brasil. Engajado, politizado e articulado, ainda conforme o senador, o líder seringalista “viveu a resistência contra a exploração desenfreada e o desmatamento” da Floresta Amazônica. Aníbal Diniz recordou ainda que líder seringueiro, o fundador do PT no estado, foi responsável pela suspensão dos financiamentos internacionais a projetos que devastavam a Amazônia e expulsavam seringueiros das terras onde viviam.

- Os que pensavam em acabar ou enfraquecer a sua causa, acabando com a sua vida, terminaram produzindo um efeito exatamente contrário, porque Chico Mendes morreu, o seu corpo físico foi eliminado, mas os seus ideais foram fortalecidos e estão cada vez mais produzindo os melhores frutos – afirmou Aníbal.

Janete Capiberibe, logo após destacar o sentimento de irmandade que existe entre o Acre e o Amapá, observou que a causa da morte do seringalista e a permanência das agressões à floresta e seus povos tradicionais é o “desenvolvimento equivocado, predatório, causador de desigualdade social e exclusão”. Siba Machado, que também já exerceu mandato no Senado, destacou avanços ocorridos no Acre, dando como exemplo uma indústria de preservativos que tem o látex como matéria-prima e o aproveitamento florestal, segundo ele soluções sustentáveis que traduzem a visão de Chico Mendes.

‘Poronga’

Ângela Mendes disse que a voz de seu pai foi a "poronga" – nome da luz que o seringueiro leva sobre a cabeça para iluminar seus caminhos nos seringais - que iluminou e direcionou os rumos políticos do Acre e tornou real “sonhos longínquos” de vida digna para os povos da floresta, inclusive o direito de permanecerem no seu lugar. Apontou conquistas no Acre, onde 47% do território são reservas extrativistas, mas observou que ainda há muito que fazer em favor das populações tradicionais em outras regiões, inclusive para que não sejam “surrupiados” direitos já conquistados “à custa de vidas”. Destacou que os interesses contrários são fortes e bem articulados também no Congresso.

- Meu pai nunca gostou de títulos. Por isso, eu ouso dizer, sem medo de errar, que o título de herói nacional e patrono do meio ambiente brasileiro só terá valor, de fato, quando não houver mais nenhuma morte por conflito de terra, quando não houver mais injustiças e ameaças contra aqueles que, de fato, defendem o meio ambiente - afirmou.

De acordo com o ex-governador Binho Marques, que atuou ao lado de Chico Mendes em projetos de educação nos seringais desde muito cedo, Chico Mendes era, ao mesmo tempo, um “moleque sapeca” e uma pessoa de pensamento complexo e refinado, capaz de enxergar todos os aspectos de uma questão. Também destacou sua capacidade de aglutinar pessoas, unindo em momentos difíceis grupos com divergências de pensamento, como “ambientalistas puros, comunistas e socialistas”.

Fonte: Agência Senado. Por: Gorette Brandão.

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