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Carne Fraca: Perguntas e Respostas Sobre a Operação da PF nos Frigoríficos

A megaoperação da Polícia Federal, em 17/03/2017, desmontou um esquema de funcionários do Ministério da Agricultura que teriam recebido propina para liberar carne para venda sem passar pela devida fiscalização. A operação aconteceu em 6 estados e no DF, com 35 pessoas presas – e há ainda dois investigados foragidos. O Ministério da Agricultura afastou 33 servidores envolvidos no esquema. 

A possibilidade de que produtos adulterados e até vencidos podem ter ido parar na mesa da população deixou o país em alerta, mas muita coisa ainda não foi explicada pelos investigadores da Operação Carne Fraca.

Veja o que já se sabe e o que ainda não foi esclarecido na operação: 

O que a operação Carne Fraca descobriu? 

Um esquema que envolvia funcionários do Ministério da Agricultura em Goiás, Minas Gerais e Paraná que receberiam propina para liberar carne para comercialização sem a fiscalização adequada. O esquema também envolvia funcionários de alguns frigoríficos. Segundo o delegado Maurício Moscardi Grillo, da PF, as irregularidades encontradas nos frigoríficos vão desde uso de produtos químicos para mascarar carne vencida a excesso de água para aumentar o peso dos produtos. 

Quais marcas cometeram irregularidades? Alguma está proibida? 

A PF fez busca e apreensão em 21 frigoríficos, mas ainda não especificou em quais deles foram flagradas irregularidades na produção. Também não há recomendação oficial para que alguma marca específica seja evitada. 

Quais empresas são investigadas? Foram alvo de busca e apreensão os seguintes frigoríficos: 

• Big Frango Indústria e Com. de Alimentos Ltda. 
• BRF - Brasil Foods S.A. (dona de marcas como Sadia e Perdigão) 
• Dagranja Agroindustrial Ltda./Dagranja S/A Agroindustrial 
• E.H. Constantino 
• Frango a Gosto 
• Frigobeto Frigoríficos e Comércio de Alimentos Ltda. 
• Frigomax Frigorífico e Comércio de Carnes Ltda. 
• Frigorífico 3D 
• Frigorífico Argus Ltda. 
• Frigorífico Larissa Ltda. 
• Frigorífico Oregon S.A. 
• Frigorífico Rainha da Paz 
• Frigorífico Souza Ramos Ltda. 
• JBS S/A (dona das marcas como Friboi, Seara e Swift) 
• Mastercarnes Novilho Nobre Indústria e Comércio de Carnes Ltda. 
• Peccin Agroindustrial Ltda. (dona da marca Italli Alimentos) 
• Primor Beef - JJZ Alimentos S.A. 
• Seara Alimentos Ltda. 
• Unifrangos Agroindustrial S.A./Companhia Internacional de Logística 
• Breyer e Cia Ltda. 
• Fábrica de Farinha de Carne Castro Ltda. EPP 

Algum frigorífico foi interditado? 

O Ministério da Agricultura interditou 3 dos 21 frigoríficos investigados na Operação Carne Fraca: uma unidade da BRF em Mineiros (GO), uma unidade da Peccin, dona da marca Italli, em Curitiba (PR) e outra em Jaraguá do Sul (SC). A fábrica da BRF produz frango, chester e peru para a marca Perdigão. As da Peccin produzem salsicha e mortadela. Nesses locais, os produtos já foram recolhidos, e a produção, paralisada. O presidente, Michel Temer, afirmou que uma "força-tarefa" vai inspecionar todos os 21 frigoríficos alvos da operação

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) anunciaram em 20/03/2017 que cinco unidades de produção tiveram suas certificações suspensas de forma preventiva e não poderão operar nem no mercado interno nem no externo. As associações, porém, não informaram os nomes das empresas. 

Foi encontrado papelão na carne? 

Uma das gravações feitas pela PF durante a operação foi apresentada como indício de que haveria papelão em produtos da BRF, empresa dona de marcas como Sadia e Perdigão. Na ligação entre funcionários da empresa, um deles diz: "O problema é colocar papelão lá dentro do 'CMS' [matéria-prima para a produção de embutidos] também, né? Tem mais essa ainda. Eu vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora, se eu não consegui em papelão, daí infelizmente eu vou ter que condenar". Em nota, a empresa afirmou que a interpretação da gravação é um "claro e gravíssimo erro" e que o funcionário se referiu às embalagens do produto, e não ao seu conteúdo, como disse a PF. Ainda de acordo com o texto, isso ficaria claro quando o funcionário diz que "vai ver se consegue colocar em papelão", pois esse produto é normalmente embalado em plástico. 

Nessa mesma linha, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, também contestou a informação de que haveria papelão nos produtos. 

Estão vendendo carne vencida? 

A PF afirmou, ao anunciar a operação, que os frigoríficos estariam usando produtos químicos, entre eles o ácido ascórbico, para maquiar o aspecto de carnes vencidas que era comercializada. Segundo o delegado Maurício Moscardi Grillo, alguns desses produtos seriam cancerígenos. 

O Ministério da Agricultura afirmou que o uso do ácido ascórbico não é proibido por lei, desde que esteja dentro das normas estabelecidas. A substância só representaria algum risco se consumida em doses muito altas. Na carne, está proibido o ácido sórbico, um conservante. 

Um dos áudios da operação divulgados pela PF tem a conversa do dono do Frigorífico Larissa, de São Paulo, com um funcionário para trocar as etiquetas das datas de validade dos produtos. Contatado para comentar a operação, o frigorífico não se manifestou. 

Foi usada cabeça de porco em produtos? 

Em uma das gravações divulgadas pela PF, o dono de uma das empresas investigadas, Idair Antônio Piccin, conversa ao telefone com a mulher, Nair Klein Piccin, sobre o uso de cabeça de porco em lotes de linguiça. Segundo a PF, a prática seria ilegal. O médico veterinário Pedro Eduardo de Felício, especialista em carnes da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, afirmou ao Jornal Hoje (TV Globo) que a carne de cabeça é permitida no mundo. "É matéria-prima. Quando você industrializa, faz embutidos, é para aproveitamento em matérias-primas de menor custo", diz. 

Foi encontrada carne com a bactéria Salmonella

Segundo as investigações da PF, uma fábrica da BRF em Mineiros (GO) estaria contaminada com a bactéria salmonella e ainda assim teria exportado carne para a Europa. Em nota, a empresa afirmou que "existem cerca de 2.600 tipos de Salmonella, bactéria comum em produtos alimentícios de origem animal ou vegetal". Ainda segundo a nota, "todos os tipos são facilmente eliminados com o cozimento adequado dos alimentos”. 

A empresa afirma no texto que “a BRF não incorreu em nenhuma irregularidade”, já que “o tipo de Salmonella encontrado em alguns lotes desses quatro contêineres [de carne exportada] é o Salmonella Saint Paul, que é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura”. 

A carne brasileira foi barrada no exterior? 

Em 20/03/2017, diante da repercussão da operação, União Europeia, China e Coreia do Sul anunciaram restrições temporárias à entrada de carne brasileira – esses países foram o destino de 27% da carne exportada pelo Brasil em 2016. O Chile também suspendeu temporariamente a exportação de carne brasileira. No fim da tarde, o ministro da Agricultura, Blario Maggi, afirmou que proibiu, preventivamente, a exportação de carnes produzidas pelos 21 frigoríficos investigados na Operação Carne Fraca. A comercialização dentro do Brasil foi mantida. 

Há risco para o consumidor? 

Ainda não houve nenhuma recomendação oficial para a suspensão do consumo de carne, nem a PF nem o Ministério da Agricultura afirmaram que há risco para os consumidores. 

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) criticaram, em 20/03/2017, a maneira como a PF divulgou os resultados da Operação Carne Fraca. "Passou uma imagem generalizada de que tudo no Brasil é ruim, e não é isso", afirmou Francisco Turra, da ABPA

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) rebateu as críticas e, em nota, afirmou que "na intenção de proteger setores do mercado e do governo, há uma orquestração para descredenciar as investigações de uma categoria que já provou merecer a confiança da sociedade." 

Ao comentar a operação nesta segunda, o presidente Temer defendeu o setor, disse que os frigoríficos investigados representam um "pequeno núcleo" e que o país tem um sistema "rigorosíssimo" de avaliação sanitária.

Fonte: G1.

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