Chegar em casa, lavar a mão, tomar banho, lavar frutas e verduras, cozinhar alimentos, lavar roupas..., a água, um dos recursos naturais mais preciosos do mundo, faz parte das nossas vidas e está enraizada no nosso cotidiano e afazeres domésticos. Mas, você sabe como ela chega até sua casa? Neste artigo mostraremos tudo o que acontece com nossa água de todo dia antes de chegar até nós, por onde ela passa e os tratamentos que são feitos para que venha de acordo com os parâmetros necessários para consumo.
Como a água surge?
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A água propriamente dita sempre existiu, a captação e tratamento dela para consumo começou em meados de 4000 a.C, quando as primeiras tubulações de cerâmica foram fabricadas e manuscritos gregos já orientavam pela fervura, exposição ao sol ou filtração em leitos de areia para purificar águas impuras.
A “produção” da água existe em diversas formas, seja sólida, líquida e gasosa, estágios estes, que fazem parte do ciclo da água, como mostra a figura ao lado.
Dentro deste ciclo, as etapas principais são a evaporação, precipitação, infiltração e escoamento. Ou seja, a água armazenada nos rios, lagos, oceanos e em pequenas partículas nas plantas é evaporada, se condensando nas nuvens; onde a partir do acúmulo da água na atmosfera ocorre um determinado processo que cria os núcleos de condensação, fazendo com que as partículas de água fiquem pesadas, caindo em forma de chuva. As chuvas que caem na superfície terrestre infiltram no solo, nos rios e o que resta da água é escoado, chegando novamente ao oceano e reiniciando todo o processo.
Por conta disso, a água é considerada um recurso natural renovável, ou seja, faz parte de um processo que se desenvolve continuamente pela natureza.
Esta água é utilizada para diversos objetivos, caracterizada como de usos múltiplos, seja para agricultura, para pecuária, para consumo nos centros urbanos, nas fazendas, cada uso, com uma necessidade específica para a qualidade da água, o que mostra como dependemos deste recurso nas atividades básicas, econômicas e de lazer.
Formas de Captação
As formas de captação da água variam de acordo com o local, a quantidade necessária e o objetivo da utilização, aqui iniciaremos pelas captações de menor porte até as mais complexas.
Entre as captações de água subterrâneas, têm-se os poços artesianos, os poços freáticos e os poços artesianos jorrantes, estes são classificados de acordo com a profundidade de captação e pressão, principalmente.
O poço artesiano é um poço perfurado para captar água em aquíferos subterrâneos, possui vida útil de aproximadamente quarenta anos, com volume em média de 2 mil litros. Por serem captados em aquíferos confinados, com camadas impermeáveis do solo, possuem menor risco de contaminação.
Por outro lado, o poço freático é um poço perfurado para captar água em camadas mais superficiais do solo, que por conta disso, possui maior risco de contaminação, podendo ter influência de usos próximos a região.
Já os poços artesianos jorrantes se diferenciam principalmente em virtude da pressão da água, que chega à superfície como maior força, por conta disso o nome deste tipo de captação.
Em termos de captação de águas superficiais, têm-se principalmente as captações em reservatórios, onde a água é represada e acumulada e em captações a fio d´água, onde a vazão que chega para captação é influenciada diretamente pela vazão do próprio rio. Após isso, a água é aduzida por tubulações até as estações de tratamento de água (ETA).
Formas de Tratamento da Água
A complexidade do tratamento da água captada varia de acordo com a qualidade que a água chega até a estação de tratamento de água. O CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, definiu na Resolução Conama nº 357 as classes de água, que variam de classe especial até a classe 4, indo em ordem crescente de qualidade excelente da água (para usos mais exigentes como consumo direto para beber) até a qualidade de água ruim.
A partir destas Classes é que são definidos quais tratamentos serão necessários para viabilizar a utilização e o consumo humano, nos tópicos a seguir são definidos resumidamente os tratamentos para cada classe. Vale citar que quanto maior a classe, maior o custo para o tratamento.
- Classe Especial: Desinfecção
- Classe 1: Tratamento Simplificado
- Classe 2: Tratamento Convencional
- Classe 3: Tratamento Convencional ou Avançado
- Classe 4: Não indicado para abastecimento de consumo humano
Ou seja, as águas são tratadas para remover possíveis patógenos, que podem ocasionar doenças a quem consumir sem o devido tratamento. Além disso, o tratamento também é utilizado para reduzir a turbidez da água, para que fique transparente, e a retirada da cor.
Tratamento este que passa principalmente pelas etapas de coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção.
Etapa 1 – Captação: Já abordada anteriormente, se trata da captação, acumulação da água e encaminhamento por tubulação bombeada até a estação de tratamento de água;
Etapa 2 – Coagulação: Feita para aglomerar as partículas de sujeira, aumentando o peso e volume das mesmas, normalmente feito com adição de cal hidratada e sulfato de alumínio;
Etapa 3 – Floculação: A água é agitada lentamente, facilitando a união das partículas da sujeira, formando os flóculos;
Etapa 4 – Decantação: Nesta etapa, a água deixa de ser agitada, para que os flocos se depositem no fundo, separando estas partículas da água, a partir daí a água mais limpa vai para um filtro de areia e o lodo do fundo é conduzido para tanques de depuração;
Etapa 5 – Filtração: A água já decantada passa pelo filtro de cascalho, areia e carvão mineral, onde vai aos poucos se livrando dos flocos que não foram decantados na etapa anterior;
Etapa 6 – Cloração e Fluoretação: A água filtrada, apesar de estar limpa, pode conter alguns microorganismos causadores de doenças, por conta disso é incluído o cloro, que serve como desinfetante (inativando ou destruindo os microorganismos) e como oxidante de compostos orgânicos e inorgânicos. Nesta etapa também, especialmente em grandes centros urbanos é necessário a inclusão do flúor, auxiliando na prevenção da cárie dentária;
Etapa 7 – Reservação: Após o tratamento a água é armazenada em grandes reservatórios, nas áreas mais altas das cidades.
Os reservatórios são utilizados para que tenha água disponível nas horas de maior consumo.
Após estas etapas, que garantem o tratamento adequado, a água é distribuída, como veremos a seguir.
Distribuição da Água
Para facilitar a explicação, utilizaremos novamente a figura das etapas de tratamento, agora com foco na distribuição aos consumidores.
Como comentado na etapa de tratamento, os grandes reservatórios de água ficam na parte mais alta, para facilitar a distribuição por gravidade, reduzindo a necessidade de utilização de bombas.
Na etapa 8, as águas são levadas até os reservatórios de menor porte, mais próximos dos centros urbanos, e também, preferencialmente em locais altos.
Na etapa 9, a água é distribuída por tubulações até as residências, comércios e indústrias. As tubulações devem ser mantidas e conservadas pela concessionária local, de forma a evitar vazamentos e perda de água.
Quando percebemos a água?
Todas estas etapas ocorrem através do investimento de estrutura, de profissionais qualificados e de planejamento de redes de tubulações nas cidades. Entretanto, quanto tempo gastamos para perceber a água enquanto a utilizamos em nossas casas? Em uma fração de segundos usamos todo o trabalho investido para que chegassem limpas e com ótima qualidade para consumirmos.
Além disso, o Brasil tem um longo caminho a frente, onde mais de 21 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à rede de distribuição de água potável e cerca de 34 milhões de pessoas estão expostas ao risco de contrair doenças de veiculação hídrica em todo o país.
Ou seja, além deste recurso ser cada vez mais difícil de se encontrar com boa qualidade no meio natural, com estiagens mais frequentes, tornam-se imprescindíveis campanhas de uso consciente e racional da água, assim como, de percebermos a água com toda sua importância e dependência para nossas atividades diárias.
Da próxima vez que abrir a torneira, pense em todos os caminhos que a água percorreu até chegar na sua casa, com certeza conhecimento é o caminho para valorizarmos ainda mais nosso precioso recurso natural!
Do Ralo Ao Rio
Você sabe o que ocorre com a água depois que a utilizamos nas nossas atividades diárias, seja após o banho, lavando alimentos na torneira, lavando roupa? É necessário algum tratamento específico? Ou seria apenas um direcionamento para o rio mais próximo?
Explicaremos aqui neste artigo todo o passo a passo da rede de tratamento de água e efluentes, parte esta, de extrema importância para a manutenção da saúde da população e melhoria na qualidade de vida.
O importante trabalho subterrâneo
O tratamento de efluentes gerados nas casas e a implantação do saneamento básico nas cidades segue toda uma estruturação de redes coletoras, tubulações, caixas de separação que são planejadas principalmente de acordo com o objetivo de utilização da construção, a quantidade de pessoas presentes e tipos de efluentes que serão lançados, dentre outros requisitos.
Apesar de serem estruturados para que fiquem prioritariamente no subsolo, fora da vista, o saneamento está listado dentro das necessidades básicas para a vida humana, sendo assegurado inclusive pela Constituição brasileira para manutenção da qualidade de vida da população.
Entretanto, segundo pesquisa realizada pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) mostra que aproximadamente 52% da população brasileira não tem acesso à coleta de esgoto, expondo à saúde pública, devido à veiculação hídrica de doenças como cólera, meningite, hepetites A e B, bem como, impactando ao meio ambiente com contaminação do solo e rios por efluentes não tratados.
Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada R$ 1,00 gasto com saneamento, são economizados cerca de R$ 4,00 na área da saúde pública, por conta da prevenção destas doenças vinculativas com a falta de tratamento.
No aspecto ambiental, a redução em termos econômicos ocorre devido a diminuição da ocorrência de contaminação dos rios por metais pesados e redução da exposição de pessoas quando em contato com a água contaminada.
Como funciona o ciclo do esgoto?
A importância do saneamento como necessidade básica já foi descrita acima, agora, no intuito de prover maior conhecimento e entendimento sobre como este trabalho é feito, explicaremos a seguir o ciclo do esgoto.
Primeiramente, a rede de esgotamento varia de acordo com o porte do local, por exemplo, em casos onde não há rede pública próxima e há apenas residências de pequeno porte, pode ser pertinente a utilização de esgotamentos menores.
1) Responsabilidade: O sistema de tratamento individual é obrigatório quando não há sistema público de esgoto, o sistema do tipo fossa-filtro-sumidouro é comumente utilizado;
2) Caixa de Gordura: A caixa de gordura é necessária em todos os tipos de sistemas de tratamento, para evitar acúmulo de gordura (advindos de sabonete, sabão, por exemplo) e obstrução das tubulações;
3) Ligações de passagem;
4) Fossa Séptica: Local onde ocorre a sedimentação dos sólidos, formando um lodo, que deve ser limpo através de um caminhão limpa-fossa periodicamente;
5) Filtro Anaeróbio: Utilizado para tratamento biológico do sistema, formado por britas compostas de microorganismos que decompõe a matéria orgânica, podendo ser colocado após o filtro um clorador para remover organismos que possam causar doenças;
6) Sumidouro: Local para onde o esgoto, já tratado, vai para ser infiltrado no solo, ocorrendo através de furos na parede e no fundo;
7) Zona de Raízes: Pode-se optar também, por utilizar as raízes de plantas como forma de filtro, assim, depois de passar pela fossa, o esgoto segue por um leito filtrante onde é feito o plantio de algumas plantas, que são adaptadas a condições de solo com pouca ou muita água; absorvendo a matéria orgânica e os nutrientes.
Complementarmente, em locais com edificações de maior porte e com acesso à rede de esgotamento para a rede pública, há algumas diferenças e observações detalhadas a seguir; ressaltando principalmente que a estrutura de esgotamento se inicia dentro das residências e depois é encaminhada ao serviço de saneamento local, existindo responsabilidades específicas para o usuário e a concessionária que fornece o serviço.
1 e 2) Responsabilidade: O usuário é responsável pelas instalações prediais de esgoto dentro do terreno;
3) Ligações de passagem;
4) Caixa de gordura;
5) Ligação entre a rede de esgoto da residência com a concessionária: Necessário a ligação das caixas de gordura, tubulações e válvula de retenção para esgoto com a rede coletora de esgoto;
6) Descrição do local de medição das tarifas de esgoto: Existem tarifas de esgoto, similar à forma como são pagas as contas do serviço de abastecimento de água;
7) Ligação equivocada da rede de esgoto com a pluvial: Esquema ilustrando uma das principais irregularidades que ocorrem, que é a ligação do sistema de esgoto junto a água da chuva, podendo sobrecarregar a rede coletora de esgoto, extravasando para fora do sistema;
8) Ligação com a empresa responsável pelo serviço de saneamento local.
Após este tratamento na residência e com a devida interligação da rede coletora de esgoto, a empresa que gerencia o serviço de saneamento local, inicia efetivamente o tratamento do esgoto gerado através das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE).
Em termos conceituais, o esgoto é composto basicamente de 99,9% de água e 0,1% de sólidos, sendo os principais parâmetros a serem removidos para o adequado tratamento, a matéria orgânica, o nitrogênio, o fósforo e os sólidos, o que irão garantir que o efluente seja devidamente tratado.
Existem alguns passos principais no tratamento do esgoto sanitário, estruturados de forma a possibilitar que este fluido ganhe novamente uma utilidade, seja para retorno ao próprio corpo hídrico, seja para fins de reaproveitamento; conforme descrito abaixo.
1) Rede Coletora: Rede que possui interação do usuário e da responsável pelo tratamento do esgoto para o encaminhamento do efluente para tratamento;
2) Rede Elevatória: Responsável por bombear o esgoto para a estação de tratamento, a qual separa o esgoto em partes sólidas e líquidas;
3) Pré Tratamento: Composto basicamente de grades com diferentes espessuras que retêm os materiais sólidos que chegam na estação de tratamento, bem como caixas para reter areia que podem danificar os equipamentos da ETE;
4) Tratamento Biológico: Responsável pelo tratamento primário, com foco no tratamento biológico;
5) Decantadores Primários e Secundários: É uma forma de separar determinadas misturas, que possuem densidades diferentes, e por isso se separam com o mais denso descendo ao fundo por gravidade;
6) Geração de Lodo: A parte sólida se transforma em lodo, que atualmente pode possuir outras utilizações, como fertilizante ou envio diretamente ao aterro sanitário para destinação final;
7) Desinfecção: Tratamento da parte líquida, focando a remoção de patógenos;
8) Retorno ao Rio: A parte líquida tratada é devolvida ao rio.
Todos estes procedimentos possibilitam que a água retorne a condições adequadas, retirando os sólidos, os microorganismos e parâmetros químicos danosos à saúde e ao meio ambiente, e assim concluindo o ciclo do esgoto.
Estas etapas podem ser divididas também em grupos maiores de Tratamento Preliminar, com foco na remoção de sólidos grosseiros e de areia, o Tratamento Secundário, com foco na remoção da matéria orgânica e dos sólidos em suspensão e por fim, o Tratamento Terciário, voltado à remoção de patógenos.
Vale ressaltar também que todos estes procedimentos de tratamento descritos são embasados por uma série de legislações específicas, em especial a Resolução Conama nº 357/2005 e a Resolução Conama nº 430/2011, que determina as condições mínimas de qualidade do efluente após o tratamento. Além disso, cada estado brasileiro possui normas particulares quanto a estes parâmetros de qualidade de saída do efluente.
Por fim, em termos de manutenção e correções na rede de esgoto, comumente necessárias pelas concessionárias, são voltadas principalmente para a ligação incorreta da água da chuva com a rede coletora, sobrecarregando o sistema, a danificação de tubulações que levam o esgoto até a estação de tratamento de esgoto e a ligação incorreta de esgoto na rede de drenagem pluvial.
Todas estas metodologias e etapas aqui apresentadas são definidas para que este importante ciclo, o do esgoto, funcione efetivamente, garantindo a melhoria nas condições básicas de saúde da população e reduzindo o impacto ao meio ambiente, para que um dia o percentual retratado no início do artigo, onde 52% da população brasileira não possui acesso ao saneamento básico, de fato se transforme.
Por: Maria Beatriz Ayello Leite (Ambiente Brasil).
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