A ciência da mudança climática é antiga – existe há pelo menos 150 anos – e uma das mais testadas que existe.
Apesar disso, por conta de interesses comerciais e políticos, ela é frequentemente contestada e até completamente negada, o que gera diversos equívocos sobre o que está acontecendo com o clima da Terra e qual o nosso papel nisso tudo.
Precisamos urgentemente de medidas que diminuam os efeitos nocivos dos gases de efeito estufa no planeta, e para isso precisamos desmitificar algumas ideias erradas que são espalhadas sobre a mudança climática por aí. Por exemplo:
O aquecimento é devido a manchas solares e raios cósmicos galácticos
Raios cósmicos galácticos são um tipo de radiação de alta energia que se origina fora do nosso sistema solar. Foi argumentado que eles ajudam a criar nuvens, e uma redução na frequência dos raios que atingem a Terra significaria menos nuvens, menos luz solar refletida de volta ao espaço e um clima mais quente.
A ciência, no entanto, descobriu que raios cósmicos não são bons em criar nuvens, e que eles têm na verdade aumentado de frequência nos últimos 50 anos, sem ajudar a esfriar o planeta.
Já manchas solares, originadas do sol, de fato podem alterar o clima na Terra, mas elas não têm colaborado com o aquecimento do planeta. Satélites que monitoram a atividade solar desde 1978 mostram que não tem havido um aumento de manchas solares atingindo a superfície terrestre, por exemplo.
O dióxido de carbono é uma pequena parte da atmosfera e não pode ter um grande papel na mudança climática
Números podem ser enganadores. Parece “senso comum” que uma parte muito pequena de algo não pode ter muito efeito sobre ele, mas este nem sempre é o caso. Por exemplo, é necessário apenas 0,1 grama de cianeto para matar um adulto, o que representa cerca de 0,0001% do seu peso corporal.
O dióxido de carbono atualmente compõe “apenas” 0,04% da atmosfera, mas é um poderoso gás do efeito estufa. O nitrogênio compõe 78% da atmosfera e é basicamente não reativo.
Diversos experimentos já mostraram que ar com dióxido de carbono preso em um cilindro esquenta muito mais rápido que ar normal. O primeiro desses testes foi realizado em 1856 pela cientista americana Eunice Newton Foote.
Cientistas mentem sobre a mudança climática
Esse tipo de acusação já foi feito várias vezes em diferentes contextos. Cientistas são comumente atacados no que diz respeito a dados sobre clima e meio ambiente.
Se cientistas estão mentindo sobre a mudança climática, estão fazendo isso muito bem e em uma escala invejável – a conspiração teria que envolver milhares de pessoas em mais de 100 países para dar certo.
A verdade é que o contrário ocorre – os pesquisadores checam e revalidam seus dados frequentemente. Por exemplo, eles precisam levar em conta as alterações na forma de medir o clima durante o passar dos anos, além de levar em conta como as cidades se expandiram e estações meteorológicas se tornaram mais comuns, para chegar a dados mais precisos.
Se não fizessem essas checagens às suas medições iniciais, então o aquecimento da Terra pareceria ainda pior do que realmente é – no momento, de um grau Celsius globalmente.
Os modelos climáticos não são precisos e não podemos confiar neles
Claro, existem muitos modelos diferentes e nenhum deve ser considerado o correto, pois eles representam, em conjunto, um sistema climático global muito complexo.
Existem mais de 20 grandes centros internacionais de pesquisa dedicados a compreender tal sistema climático. Os diversos modelos são testados continuamente em relação a dados históricos, bem como a eventos individuais, como grandes erupções vulcânicas.
Ter tantos modelos diferentes sendo estudados, checados e validados de forma independente significa que podemos confiar neles, sem dúvida, ainda mais porque eles concordam entre si. A escala do aquecimento previsto permaneceu semelhante nos últimos 30 anos, apesar do aumento na complexidade dos modelos, o que indica que tais previsões são resultados científicos robustos.
Não há nenhuma polêmica ou desacordo. Toda a comunidade científica concorda com os modelos e o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), criado pela Organização das Nações Unidas, tenta resumir e divulgar todos os dados obtidos pela ciência de forma aberta e transparente.
Não, a mudança climática não é parte de um ciclo natural
Você já deve ter ouvido esse argumento: a Terra esquenta e esfria, passa por diferentes épocas climáticas, é tudo muito normal. Por exemplo, o planeta estaria agora se recuperando de temperaturas mais baixas da última Pequena Idade do Gelo (1300 a 1850), e estaria portanto agora com temperaturas comparáveis às do Período Quente Medieval (900 a 1300).
Mas não é bem assim. Esses “períodos” climáticos mencionados são regionais, não globais (dizem respeito ao noroeste da Europa, leste da América, Groenlândia e Islândia). O estudo de climas passados – paleoclimatologia –, por outro lado, indica que as mudanças dos últimos 150 anos são globais e excepcionais. Desde a Revolução Industrial, os modelos ditam que um aquecimento como o visto agora pode não ter precedentes nos últimos 5 milhões de anos.
Uma revisão de 700 registros climáticos apoia esses modelos: nos últimos 2.000 anos, a única época em que o mundo todo mudou de temperatura ao mesmo tempo foi nos últimos 150 anos, quando 98% da superfície terrestre esquentou.
Por: Mark Maslin (The Conversation). Tradução: Natasha Romanzoti (Hypescience).
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