Os seres humanos, dentre os grandes mamíferos, são os mais populosos da Terra atualmente e provavelmente em toda a história geológica. O número de humanos está nas proximidades de 7,5 a 7,6 bilhões de indivíduos.
A Terra pode suportar tantas pessoas indefinidamente? O que acontecerá se não fizermos nada para gerenciar o crescimento populacional futuro e o uso total de recursos? Essas questões complexas são ecológicas, políticas, éticas – e urgentes. A matemática simples mostra o por que, esclarecendo a pegada ecológica de nossa espécie.
A matemática do crescimento populacional
Em um ambiente com recursos naturais ilimitados, o tamanho da população cresce exponencialmente. Uma característica do crescimento exponencial é o tempo que uma população leva para dobrar de tamanho.
Crescimento exponencial da população mundial
Levou 127 anos para a população mundial dobrar de um bilhão para dois. Por outro lado, foram necessários apenas 47 anos, de 1927 a 1974, para dobrar de dois bilhões para quatro. Desde 1960, a população mundial cresce cerca de um bilhão a cada 13 anos. Cada ponto representa mais um bilhão de pessoas.
Gráfico: The Conversation, CC-BY-ND. Fonte: Nações Unidas.
O crescimento exponencial tende a começar devagar, chegando às escondidas antes de aumentar algumas vezes.
Para ilustrar, suponha que Jeff Bezos [fundador e diretor executivo da Amazon] em lhe dar um centavo em 1º de janeiro de 2019, dois centavos em 1º de fevereiro, quatro em 1º de março e assim por diante, com o pagamento dobrando a cada mês. Quanto tempo sua fortuna de US$ 100 bilhões, manteria o acordo? Reserve um momento para refletir e adivinhar.
Após um ano ou 12 pagamentos, seu total de recebimentos do acordo chega a US$ 40,95, o equivalente a uma noite no cinema. Após dois anos, US$ 167,772.15 – substancial, mas insignificante para um bilionário. Após três anos, US$ 687,194,767.35, ou cerca de uma semana da renda de Bezos em 2017.
O 43º pagamento, em 1º de julho de 2022, pouco menos de US$ 88 bilhões e igual a todos os pagamentos anteriores juntos (mais um centavo) – quebra o banco.
Crescimento real da população
Para populações reais, o tempo de duplicação não é constante. Os seres humanos atingiram 1 bilhão por volta de 1800, um tempo de duplicação de cerca de 300 anos; 2 bilhões em 1927, um tempo de duplicação de 127 anos; e 4 bilhões em 1974, um tempo de duplicação de 47 anos.
Por outro lado, projeta-se que os números mundiais cheguem a 8 bilhões por volta de 2023, um tempo de duplicação de 49 anos e, exceto se houver um imprevisto, que deverá atingir 10 a 12 bilhões em 2100.
Esse nivelamento antecipado sinaliza uma dura realidade biológica: a população humana está sendo reduzida pela capacidade de carga da Terra, à medida que ocorre a morte prematura por fome e doenças, equilibra a taxa de natalidade.
Projeções da população mundial
Em 2020, a ONU prevê que haverá 7.795.482.000 pessoas em todo o mundo.
Gráfico: The Conversation, CC-BY-ND. Fonte: Nações Unidas.
Implicações ecológicas
Os seres humanos estão consumindo e poluindo recursos – aquíferos e calotas polares, solos férteis, florestas, pescas e oceanos – acumulados ao longo do tempo geológico, em dezenas de milhares de anos ou mais.
Os países ricos e suas populações, consomem desproporcionalmente. Como analogia fiscal, vivemos como se o saldo da nossa poupança fosse uma receita estável.
De acordo com o Worldwatch Institute, o Planeta tem 1,9 hectares de terra por pessoa para cultivar alimentos e têxteis para roupas, suprir recursos de madeira e absorver resíduos. O americano médio usa cerca de 9,7 hectares.
Somente esses dados sugerem que a Terra pode suportar, no máximo, um quinto da população atual, ou seja, de 1,5 bilhão de pessoas, com um padrão de vida americano.
Um homem trabalha reciclando garrafas de plástico nos arredores de Hanói, no Vietnã. Fonte: Reuters / Kham.
A água é vital. Biologicamente, um ser humano adulto precisa de menos de 1 litro de água por dia. Em 2010, os EUA usaram 355 bilhões de galões de água doce, mais de 1.000 galões (4.000 litros) por pessoa por dia. Metade foi usada para gerar eletricidade, um terço para irrigação e aproximadamente um décimo para uso doméstico: descarga de banheiros, lavagem de roupas e pratos e rega de gramados.
Se 7,5 bilhões de pessoas consumissem água nos níveis norte-americanos, o uso mundial alcançaria 10.000 quilômetros cúbicos por ano. A oferta mundial total – lagos e rios de água doce – é de cerca de 91.000 quilômetros cúbicos.
Os números da Organização Mundial da Saúde mostram que 2,1 bilhões de pessoas não têm acesso imediato à água potável e 4,5 bilhões não têm saneamento. Mesmo em países industrializados, as fontes de água podem ser contaminadas com patógenos, escoamento de fertilizantes, inseticidas e metais pesados.
Liberdade de escolha
Embora o futuro detalhado da espécie humana seja impossível de prever, fatos básicos são certos. Água e comida são necessidades humanas imediatas. Dobrar a produção de alimentos adiaria os problemas das taxas de natalidade atuais em no máximo algumas décadas. A Terra suporta os padrões de vida industrializados apenas porque estamos reduzindo a “conta poupança” de recursos não renováveis, incluindo o solo fértil, água potável, florestas, pesca e petróleo.
O desejo de se reproduzir está entre os mais fortes, tanto para casais quanto para sociedades. Como os humanos reformularão uma de nossas expectativas mais queridas – “Seja produtivo e multiplique” – no período de uma geração? O que acontecerá se as taxas de nascimento atuais continuarem?
A população permanece constante quando os casais têm cerca de dois filhos que sobrevivem à idade reprodutiva. Atualmente, em algumas partes do mundo em desenvolvimento, os casais têm em média de três a seis filhos.
Não podemos desejar a existência de recursos naturais. Os casais, no entanto, têm a liberdade de escolher quantos filhos terão. Melhorias nos direitos, educação e autodeterminação das mulheres, geralmente levam a menores taxas de natalidade.
Como matemático, acredito que reduzir substancialmente a taxa de natalidade é nossa melhor perspectiva para elevar os padrões de vida globais. Como cidadão, acredito que estimular o comportamento humano, incentivando famílias menores, é a nossa esperança mais humana.
Por: Andrew D. Hwang (The Conversation) / Tradução: Maria Beatriz Ayello Leite (Ambiente Brasil).
0 comentários:
Postar um comentário