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Por Que O Calor Aumenta A Infestação de Ratos Nas Cidades?


Em muitos aspectos, os ratos são mais bem adaptados às cidades do que os seres humanos que as construíram.

Enquanto os habitantes das cidades lutam contra multidões, vagas de estacionamento escassas e vizinhos que andam de um lado para o outro às 4 horas da manhã, os ratos estão vivendo os melhores dias de suas vidas. 

Abrigados e seguros no subsolo, eles aparecem de noite para comer os montes de restos de comida nas lixeiras e os cachorros-quentes deixados nas calçadas. 

Agora, os cientistas descobriram mais uma vantagem para os ratos. Um estudo publicado na revista Science Advances revela que, na medida em que as temperaturas aumentam nas cidades, as populações de roedores crescem também. 

“Nas cidades que experimentaram o aquecimento mais rápido das temperaturas, a tendência é que o número de ratos também aumente mais rapidamente”, disse Jonathan Richardson, ecologista urbano da Universidade de Richmond e autor principal do artigo. “As fêmeas atingem a maturidade sexual mais rápido e, então, elas podem se reproduzir em maior quantidade. Normalmente, no laboratório, suas ninhadas são maiores em temperaturas mais quentes”. 

Como o calor favorece os ratos 

A análise foi baseada em reclamações sobre ratos a órgãos públicos e registros de inspeção de 16 cidades americanas entre 2007 e 2024, que serviram como um indicador das populações de ratos. 

Em 11 dessas cidades, o número de roedores aumentou nesse período. O prêmio vai para Washington,com um aumento de 390% na última década, seguida por São Francisco (300%), Toronto (186%) e Nova York (162%). 

Algumas cidades viram suas populações de ratos diminuírem no período, incluindo Nova Orleans, Tóquio e Louisville, Kentucky, o que pode ter acontecido por causa de um controle de pragas mais rigoroso – pelo menos em parte. 

“Se você colocar um grupo de cientistas de ratos em uma sala, certamente perguntarão uns aos outros: Como a mudança climática pode influenciar as populações de ratos? O artigo é um primeiro passo” disse Kaylee Byers, pesquisadora de saúde da Universidade Simon Fraser, no Canadá, que não participou do estudo. 

Além dos fatores fisiológicos que influenciam a reprodução, o comportamento dos ratos também é afetado pela temperatura. Se estiver muito frio lá fora, os roedores tendem a se amontoar no subsolo, em porões, esgotos e em qualquer outro ambiente construído subterrâneo. 

Quando a temperatura esquenta, os ratos saem para se empanturrar, mas também levam comida de volta aos seus ninhos para armazená-la em esconderijos. 

A mudança climática está alterando o período das estações: se o clima permanecer quente por mais uma ou duas semanas no início do inverno e a primavera chegar uma ou duas semanas antes, haverá mais tempo para procurar alimentos. 

“Os ratos são muito bem adaptados para aproveitar a disponibilidade de alimentos e convertê-los em novos filhotes que você verá na sua vizinhança”, disse Richardson. 

Embora as temperaturas estejam subindo no mundo inteiro, elas se tornam particularmente extremas nas cidades, graças ao efeito das “ilhas de calor” nos meios urbanos. 

Os prédios e o concreto absorvem a energia do sol, elevando as temperaturas em até 8ºC a mais do que em áreas rurais próximas e liberando esse calor à noite. 

Isso é especialmente perigoso no verão para os habitantes das cidades durante ondas de calor prolongadas. No inverno, entretanto, esse calor extra pode ajudar os ratos. 

O aumento das temperaturas foi uma força dominante que contribuiu para o crescimento das populações de ratos, mas não foi o único fator, segundo o estudo. 

Urbanização sem controle 

As populações humanas urbanas estão explodindo em todo o mundo e desperdiçam muito alimento, o que facilita a proliferação dos ratos. 

Conforme as cidades se expandem em suas periferias, elas precisam de mais obras de infraestrutura, que acabam colonizadas pelos ratos. 

E, quando constroem novos sistemas de esgoto para atender a um número maior de pessoas, geralmente deixam os antigos intactos, no mesmo lugar, proporcionando um ambiente acolhedor para os roedores. 

“A infraestrutura urbana em desuso que está lá embaixo não é realmente importante para nós”, disse Richardson. “Mas, para um rato, é como uma rodovia livre”. 

Os pesquisadores também descobriram que as cidades com menos áreas verdes apresentaram maior crescimento populacional desses animais. 

Ainda não está claro o motivo disso, disseram eles. Não há dois espaços verdes iguais: um pequeno parque urbano pode estar repleto de ratos porque os funcionários de escritório se reúnem ali para almoçar e depois jogam os restos de comida nas lixeiras. 

Já o interior de um espaço maior, como o Central Park, pode oferecer menos alimentos e menos lugares para os roedores se esconderem de predadores, como falcões e coiotes. 

Então, como uma cidade pode controlar sua população de ratos enquanto as temperaturas aumentam? Em primeiro lugar, é preciso obter mais dados, como os números encontrados neste estudo. 

“Não é possível gerenciar o que não se pode medir”, disse Niamh M. Quinn, que estuda as interações entre humanos e animais selvagens na Divisão de Agricultura e Recursos Naturais da Universidade da Califórnia, mas que não participou da pesquisa. 

“Vivemos em um mar infinito de ratos. Portanto, não é possível gerenciar apenas pequenos bolsões. É preciso ter um gerenciamento municipal de ratos”, afirmou. 

Nova Orleans foi bem-sucedida por ser proativa, disse Richardson, com campanhas educativas que ensinam os proprietários de edifícios a tornar suas estruturas à prova de ratos e os incentivam a ligar para a cidade caso vejam os roedores, para que eles sejam erradicados. 

As cidades não podem simplesmente envenenar os roedores para resolver o problema, porque outros animais sempre se ferem também, segundo Quinn. Ele explica que [esse veneno entra no estômago dos predadores que comem ratos. 

“No momento, nossa abordagem no controle de ratos é muito reativa”, disse Byers, “Não pensamos o futuro de nenhuma forma. Precisamos fazer isso se estivermos realmente preocupados com os ratos e se quisermos gerenciar os riscos associados a eles.” 



Fonte(s): Nexo Jornal / Grist. Por: Matt Simon.

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