Os novos aparelhos celulares, como os smartphones, têm sido atualizados cada vez mais rápido. Novos aparelhos se tornam obsoletos em menos de um ano. Essa rápida obsolescência gera uma série de impactos, como o volume de lixo eletrônico produzido pelo brasileiro, assim como a utilização exagerada de matérias-primas que podem se esgotar rapidamente da natureza, como o famoso silício, elemento químico crucial aos aparelhos. De onde vêm esses produtos cada vez mais necessários, mas com uma vida tão curta? O que podemos fazer com eles após não servirem mais?
Muitas vezes saber de onde vem é fácil, basta olhar nas etiquetas que veremos o país de origem, mas não é só isso. Além de sua origem, o produto carrega o histórico de suas matérias-primas, de onde vem esses produtos para a produção deste novo aparelho? Qual impacto esses processos geram nas várias etapas dessa cadeia? É necessário entender qual a história até chegar às mãos de 84% dos brasileiros que possuem celulares, segundo a pesquisa Consumidor Móvel, da Nielsen. Outro estudo, desta vez da empresa de consultoria International Data Corporation (IDC), dá conta que entre abril e junho de 2014, o Brasil vendeu mais de 100 smartphones por minuto.
Essa história significa a quantidade de materiais utilizados para sua produção. Um destes é a safira, pedra recém utilizada por algumas marcas para a tela de seus celulares, protegendo os aparelhos de quedas. Novo elemento, o Grafeno, é motivo de pesquisas de especialistas que acreditam ver nele o benefício do baixo custo da produção. O motivo é sua maior disponibilidade na natureza, já que se trata de uma forma cristalina do carbono.
Olhar para essa história, não é apenas olhar para a produção, mas também o transporte, o uso e o descarte dos materiais. Imaginamos o volume de lixo eletrônico gerado pelo brasileiro, considerando não só os celulares, mas diversos aparelhos eletrônicos. Segundo dados do E-waste World Map, primeiro mapa global de lixo eletrônico, lançado pela Step, aliança entre ONU, empresas, governos e ONGs de todo o mundo, com dados de 2012, o Brasil produziu 1,4 milhão de toneladas de lixo eletrônico (7 kg por habitante). Ainda de acordo com a Step, para 2017, o volume de lixo eletrônico no mundo aumentará 33%, o equivalente a altura de 200 edifícios como o Empire State Building, de Nova York.
Já descobrimos de onde vem esses aparelhos, agora para onde e como eles serão descartados depende de uma atitude do consumidor. Devido a seus metais pesados, o lixo eletrônico é motivo de preocupação para a saúde pública e poluição gerada. A característica destes aparelhos faz com que sua destinação e tratamento sejam diferenciados, fazendo com que a reciclagem seja incentivada com a devolução dos aparelhos em lojas, bancos e outros locais que incentivam a logística reversa.
O consumo pode sim, ser um aspecto positivo, diferente do consumismo que torna cada vez mais rara a disponibilidade de certas matérias-primas. Estamos falando sobre o papel do consumidor nessa história chamada de ciclo de vida. O consumidor deve estar atento ao cenário que encontra pela frente ao tomar uma decisão. Compro? Como utilizo, onde e como descarto? Algumas ferramentas, como a Análise de Ciclo de Vida, podem auxiliar nessa tomada de decisão. Estamos falando de algo parecido como a cadeia alimentar, tudo é um processo e qualquer desequilíbrio gera conseqüências ao restante da cadeia.
O consumidor precisa conhecer o impacto de sua compra para o planeta e as oportunidades de continuidade desta cadeia. Iniciativas de descarte responsável de lixo eletrônico têm se espalhado pelo Brasil. A associação Cempre – Compromisso Empresarial para Reciclagem, por exemplo, possui dados sobre cooperativas, sucateiros e recicladores que podem receber estes materiais. Já a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), possui diversos postos para a coleta de lixo eletrônico em São Paulo. Desde 2011, a entidade já recolheu 240 toneladas de equipamentos.
Por sua vez, as empresas precisam utilizar ferramentas para medição do impacto de seu ciclo de vida, bem como a utilização de avanços tecnológicos para a melhoria contínua de seus processos. Entre as ações estão estudos para verificar o design que ocasiona o menor impacto na fabricação e utilização do aparelho. Alternativa são os materiais renováveis e baterias mais seguras e eficientes. Algumas empresas têm adotado o modelo de celular totalmente fechado, impedindo reparos, o que pode influenciar no volume de resíduo gerado. Sendo assim, fabricar, comprar e consumir é fácil. Analisar o impacto da produção, consumo e descartar corretamente também. Tudo isso depende de uma responsabilidade compartilhada e de atitudes responsáveis.
Por: Fabio Cirilo. Coordenador de Socioecoeficiência da Fundação Espaço ECO®.
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